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Ataques à imprensa realçam importância do ombudsman

Almoço reúne 10 ex-ocupantes do cargo, criado pela Folha há 30 anos para mediar relação do jornal com os leitores

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São Paulo

A função de ombudsman —profissional que critica o jornal, ouve os leitores e analisa a imprensa— continua fundamental, principalmente num momento em que a mídia e a veracidade das notícias têm estado sob ataque deliberado.

A opinião foi consenso entre ex-ombudsmans que se reuniram em almoço nesta terça (24) na sede do jornal, em São Paulo. Os jornalistas responderam a uma “provocação” lançada pelo diretor de Redação da Folha, Sérgio Dávila, na abertura do evento.

Almoço na Folha nesta terça (24) reuniu dez ex-ombudsmans do jornal, a atual ocupante do cargo, o diretor de Redação, Sérgio Dávila, e secretários de Redação - Bruno Santos/Folhapress

Passados 30 anos, o cargo deveria continuar existindo?”, perguntou Dávila, depois de rememorar as principais polêmicas dos 13 profissionais pagos para criticar a Folha desde 24 de setembro de 1989, quando a Folha se tornou o primeiro jornal da América Latina a instituir a função.

Antes de passar a resposta aos dez ex-ombudsmans e à atual ocupante do cargo presentes ao almoço, ele citou uma frase de Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha de 1984 a 2018 e responsável pela implantação do cargo, entre outras inovações jornalísticas do Projeto Folha:

“Mais importante, talvez, do que o conteúdo específico da atuação de um ombudsman em cada caso é o fato de ele existir e atuar. (...) A função de defensor dos leitores tem muito a ver com o princípio iluminista de que o poder é melhor exercido quando seu desempenho é temperado por um sistema qualquer de freios e contrapesos”.

O diretor comentou que, nos últimos anos, jornais como o New York Times fecharam a posição argumentando que as mídias sociais já cumprem o papel de fazer com que as críticas cheguem até o jornal.

As redes, porém, são incapazes de fazer a análise crítica, profissional e técnica da qual o ombudsman se encarrega, observou o primeiro jornalista a ocupar o posto na Folha, Caio Túlio Costa (1989-1991).

O ombudsman tem também a função de mediador entre os leitores e a Redação, acrescentou Bernardo Ajzenberg (2001-2004).

O momento atual pede que a atuação do ombudsman seja não apenas mantida como também ampliada e fortalecida, observou Suzana Singer (2010-2014): “A Folha é o único grande jornal que conta com o cargo, e está sob críticas contundentes do presidente Jair Bolsonaro”.

Há uma “configuração nova na relação do poder com a sociedade”, segundo Junia Nogueira de Sá (1993-1994), e a Folha deve liderar o debate sobre o papel da imprensa nesse contexto, como já fez em outros momentos politicamente relevantes. 

“Mais que repensar a existência do cargo, é preciso refletir sobre a forma de atuação”, observou Paula Cesarino Costa (2016-2019), elegendo prioridades e tratando-as mais profundamente.

A atual ombudsman, Flavia Lima, concordou com a importância de escolher temas centrais, tarefa dificultada pela multiplicação de informações disponíveis em diversas plataformas, veículos e redes sociais.

A amplitude de análise do ombudsman foi tema de divergência no almoço. Marcelo Leite (1994-1997) e Caio Túlio Costa consideram que ele deve fazer crítica de mídia em geral, e não concentrar suas críticas no jornalismo da Folha, como defendem Carlos Eduardo Lins da Silva (2008-2010) e Vera Guimarães Martins (2014-2016).

Marcelo Beraba (2004-2007) observou que o contexto era outro quando a direção incluiu a crítica de mídia entre seus objetivos, há 30 anos: a criação do cargo foi atacada por concorrentes como mera ação de marketing, num ambiente de hipercompetição entre os jornais diários.

Outra diferença significativa, segundo Mario Vitor Santos (1991-1993 e 1997), é que não existia internet durante a primeira década de atuação dos ombudsman. 

“A situação ficou mais complexa. Hoje há nas redes muita crítica de mídia, grande parte enviesada, mas também opiniões atentas e bem posicionadas.”

Durante o almoço, os ex-ombudsmans também questionaram a Folha. “O jornal vai fazer a autocrítica de sua cobertura da Operação Lava Jato, agora que sabe como agiam os procuradores?”, perguntou Santos.

Dávila respondeu que, embora tenha sido frequentemente crítico aos excessos da operação, o jornal errou no destaque dado a denúncias que depois se mostraram infundadas. Ele observou que já fez a autocrítica publicamente, em palestras. 

“Enganos serão sempre cometidos; o fundamental é corrigir os erros quando descobertos”, disse Leite.

Lins da Silva indagou por que o jornal não cobriu a disputa societária que envolveu a própria Folha no começo deste ano e crise recente que levou à demissão da cúpula da revista Época. Segundo o diretor de Redação, a questão interna foi tratada em entrevista a Paula Cesarino Costa (2016-2019).

No caso da revista, Dávila disse que a avaliação foi a de que se tratava de uma questão de interesse restrito ao próprio veículo.

João Batista Natali, que assumiu o cargo interinamente durante um mês em 1998, também participou do almoço. Não puderam comparecer os ex-ombudsmans Renata Lo Prete (1998-2001) e Mário Magalhães (2007-2008).

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