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Planalto teme Wajngarten na CPI da Covid e considera depoimento imprevisível

Após presidente da Anvisa constranger governo, fala de ex-chefe da Secom prevista para esta quarta é vista com apreensão

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Brasília

Depois de avaliarem como constrangedoras as falas do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, na CPI da Covid, integrantes do Palácio do Planalto estão apreensivos com o depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, marcado para esta quarta-feira (12).

Senadores da base governista e auxiliares presidenciais próximos do presidente Jair Bolsonaro avaliam que as respostas que Wajngarten dará na comissão serão uma surpresa e não há como prever o teor das declarações. Há o receio, porém, de que ele culpe o governo pela demora na compra e entrega de vacinas.

O ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten - Pedro Ladeira - 27.abr.2020/Folhapress

A oitiva do ex-secretário ocorre um dia após um depoimento considerado desastroso pelo Planalto. Nesta terça-feira (11), o presidente da Anvisa criticou as falas e ações negacionistas do chefe do Executivo e pediu para que ninguém siga suas orientações.

Barra Torres, que é aliado próximo e amigo do presidente, ainda confirmou a tentativa de alterar, por meio de um decreto presidencial, a bula da hidroxicloroquina, com objetivo de ampliar o seu uso para que pudesse ser usada no tratamento da Covid.

O presidente da Anvisa disse ser contra a indicação da droga, que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus.

Interlocutores de Bolsonaro destacaram que as declarações de Barra Torres aumentam a pressão sobre o presidente por ser um aliado próximo discordando publicamente da linha adotada pelo mandatário durante a pandemia.

Eles avaliam ainda que a oitiva dele deve servir para reforçar a imagem de mandatário como um líder que ignorou recomendações técnicas para o enfrentamento do vírus.

Nesta quarta, auxiliares do chefe do Executivo avaliam que ele estará novamente sob pressão na mira da CPI com o depoimento de Wajngarten.

O ex-secretário de Comunicação provocou polêmica recentemente ao afirmar em entrevista à revista Veja que a vacina desenvolvida pela americana Pfizer não foi comprada por incompetência do Ministério da Saúde, durante a gestão do general da ativa Eduardo Pazuello.

Além disso, de maneira deliberada ou não, acabou atraindo a questão para dentro do Palácio do Planalto, ao afirmar que ele próprio participou das tratativas com a empresa. Wajngarten citou também que Bolsonaro participou de ao menos uma reunião em que houve negociação com o laboratório.

CONVOCADOS NA CPI DA COVID

  • Ernesto Araújo (terça-feira, 18.05)

  • ​General Eduardo Pazuello (quarta-feira, 19.05)

Senadores que integram a tropa de choque governista na comissão foram ao Planalto em busca de informações sobre a fala do ex-secretário e orientações de como proceder. Ouviram que o conteúdo do depoimento de Wajngarten é uma incógnita.

Os congressistas também ouviram que Wajngarten é considerado por auxiliares próximos do presidente como um aliado confiável. Por outro lado, há estranhamento pelo distanciamento recente.

Uma das desconfianças é que o ex-secretário de Comunicação teme ser acusado de ter atuado indevidamente durante as negociações com a Pfizer e agora estaria com receio de ser implicado.

Por isso, dizem pessoas próximas de Bolsonaro, o temor é que Wajngarten use seu depoimento para se defender, não importando se isso vai representar implicar o governo e o próprio presidente.

Na entrevista à Veja, Wajngarten tentou poupar Bolsonaro ao direcionar a Pazuello a culpa por não ter fechado acordo com a Pfizer. A estratégia, no entanto, não deixa de atingir o mandatário, avaliam aliados.

A CPI EM CINCO PONTOS

  • Foi criada após determinação do Supremo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG)

  • Investiga ações e omissões de Bolsonaro na pandemia e repasses federais a estados e municípios

  • Tem prazo inicial (prorrogável) de 90 dias para realizar procedimentos de investigação

  • Relatório final será encaminhado ao Ministério Público para eventuais criminalizações

  • É formada por 11 integrantes, com minoria de senadores governistas

O depoimento desta quarta será o quinto prestado na CPI. Na semana passada, foram ouvidos os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, além do atual titular da Saúde, Marcelo Queiroga. Nesta terça, falou Barra Torres.

Os ex-ministros disseram que deixaram o governo por falta de autonomia para levar adiante as próprias políticas. Eles ainda discordaram do uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, o que é defendido por Bolsonaro.

As declarações de Mandetta e Teich contrastaram com as de Queiroga, que se omitiu em diversas respostas para proteger o presidente. O ministro, que é médico, se esquivou sobre como avalia o uso da cloroquina.

Nesta terça, depois da oitiva de Barra Torres, coube novamente ao atual ministro da Saúde defender o chefe.

No Palácio do Planalto, Bolsonaro abriu mão de discursar, mesmo com o púlpito montado. O presidente cedeu o lugar ao auxiliar. Queiroga elogiou o comportamento do presidente em relação à liberdade de atuação de médicos.

"O senhor sempre foi um amigo da classe médica. O senhor sempre defendeu a autonomia dos médicos. E os médicos, com os demais profissionais de saúde, são os verdadeiros soldados que vão ajudar a superar essa difícil situação sanitária que se instala no mundo e no nosso país", disse Queiroga.

O ministro João Roma (Cidadania) também discursou na cerimônia. Ele enalteceu a atuação da gestão Bolsonaro e disse que "o governo vem tomando várias medidas de proteção social".

Logo depois do evento, Bolsonaro foi para o Palácio da Alvorada. Questionado sobre a CPI da Covid por apoiadores, não citou o nome de Barra Torres.

"Hoje de novo, foram na tecla da cloroquina agora à tarde. Perguntou por que os EUA doaram para a gente 2 milhões de comprimidos. O tempo todo. O que eu falo aqui o pessoal bota lá. Eu tomei e me dei bem", disse.

Se, por um lado, a fala de Barra Torres como testemunha na CPI aumentou a pressão sobre Bolsonaro, por outro lado, auxiliares destacaram que o presidente da Anvisa descartou que tenha havido tentativa de ingerência do Planalto sobre a agência para influenciar, por exemplo, liberação ou recusa de vacinas.

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