Siga a folha

Descrição de chapéu Eleições 2022

Partidos miram campeões de voto em busca de bancadas fortes na Câmara

Congressistas avaliam que fenômenos do bolsonarismo de 2018 não repetirão desempenho em 2022

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília

Partidos de todas as correntes ideológicas têm colocado como prioridade a disputa em outubro do ano que vem das 513 cadeiras na Câmara dos Deputados, palco político cuja importância tem se elevado a cada eleição.

Decisões de anos recentes tornaram a Casa o foco da maioria das legendas do país, em detrimento de candidaturas à Presidência, ao governo dos estados ou ao Senado.

Como o atual sistema eleitoral, o proporcional, leva em conta na distribuição das cadeiras da Câmara a soma dos votos recebidos pelos candidatos do partido, uma das principais buscas é por nomes que tenham apoio popular suficiente para fazer o bolo de votos recebidos crescer, ou que, no cenário ideal para as legendas, figurem na lista dos campeões de voto.

Deputado federal mais votado da história, Eduardo Bolsonaro comemora a vitória do pai à Presidência da República, em 2018 - Pedro Ladeira -28.out.2018/FolhapressFolhapress

Na lista de exemplos célebres do passado estão o ex-governador Paulo Maluf (PP), que liderou o ranking dos mais bem votados para a Câmara nas disputas de 1982 e 2006, o jornalista e comunicador Celso Russomanno (na época no PP), campeão em 1994 e 2014, e Enéas Carneiro (Prona, hoje PL), que em 2002 "quebrou a banca" das eleições e foi escolhido por 1,574 milhão de eleitores —o que permitiu a ele levar para a Câmara cinco colegas de partido, um deles com apenas 275 votos.

Enéas só teve o recorde batido em 2018, na onda de direita que elegeu Jair Bolsonaro, então no PSL. Seu filho Eduardo recebeu em São Paulo 1,844 milhão de votos na eleição para a Câmara.

A avaliação geral entre congressistas e dirigentes partidários ouvidos pela Folha, porém, é a de que os fenômenos da última campanha dificilmente repetirão o desempenho no ano que vem. A campanha municipal de 2020 já mostrou uma tendência de volta da adesão aos políticos já estabelecidos.

Eduardo Bolsonaro, que ainda está no PSL, deve tentar a reeleição no PL ou PP, partidos que hoje dão sustentação política ao governo. Após romper com o PSL, fracassar na tentativa de criar o próprio partido e negociar com várias legendas, Jair Bolsonaro marcou sua filiação ao PL para a terça-feira (30).

No campo próximo ao presidente, há vários nomes de possíveis "puxadores de voto" para a Câmara sendo cogitados, além de Eduardo.

Entre eles, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (que poderia se lançar por Minas Gerais ou Distrito Federal), o cantor Sergio Reis (SP), os atuais deputados federais Carla Zambelli (PSL-SP) e Marco Feliciano (PL-SP) e o jogador de vôlei Maurício Souza (estado a definir).

O atleta da seleção brasileira teve o contrato com o Minas Tênis Clube rescindido após comentários homofóbicos nas redes sociais.

Após isso, viu seus seguidores virtuais se multiplicarem e foi abraçado de vez pelo bolsonarismo. O presidente chegou a levar Maurício Souza, há alguns dias, para conversar com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada.

O PL também abriga o palhaço Tiririca (PL-SP), campeão em 2010, com 1,354 milhão de votos. Em 2018, ele manteve o alto nível de apoio, embora reduzido a um terço de oito anos antes (menos de 450 mil).

Ainda no campo da direita e centro-direita, o Republicanos novamente aposta em Russomanno, o mais votado em 1994 e 2014 e o terceiro em 2018.

Outros nomes citados são o de Kim Kataguiri (SP), atualmente no DEM (o partido se fundiu ao PSL na União Brasil, mas ainda é preciso aprovação da Justiça), o do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que por ora se mantém como pré-candidato à Presidência, e de Marcel Van Hattem (Novo-RS), o sétimo mais votado do país em 2018.

No MDB, há expectativa com as possíveis candidaturas à Câmara da ex-governadora Roseana Sarney (MA), dos ex-presidentes do Senado Eunício Oliveira (CE) e Garibaldi Filho (RN), além do deputado federal Baleia Rossi e do vereador Delegado Palumbo, ambos de São Paulo.

O PSDB, que encolheu em 2018, deverá ter a tentativa de reeleição de Alexandre Frota e Joice Hasselmann por São Paulo, ambos ex-aliados e hoje desafetos de Bolsonaro e que colocarão à prova a popularidade longe da bênção do atual presidente.

Joice foi a segunda deputada mais votada na última eleição (1,1 milhão de votos), mas teve menos de 100 mil votos na disputa à Prefeitura de São Paulo em 2020, ficando na sétima posição.

No PSD de Gilberto Kassab as apostas são em deputados que vão à reeleição—Diego Andrade (MG), Pedro Paulo (RJ), Cezinha da Madureira (SP) e Antonio Brito (BA)—, além do ex-deputado Sandro Alex (PR).

Já o entorno de Sergio Moro, que se filiou ao Podemos para disputar a Presidência, aposta em duas possíveis candidaturas vinculadas ao ex-juiz ou à Lava Jato. A da mulher de Moro, Rosangela, em São Paulo, e a do ex-chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, no Paraná.

Na centro-esquerda e na esquerda, o PT, maior partido da oposição, sempre fez grandes bancadas pelo conjunto de candidatos competitivos e do voto na legenda, embora poucas vezes tenha tido campeões expressivos. O mais bem-sucedido foi Lula, que em 1986 se elegeu deputado federal com 652 mil votos.

Para o ano que vem, há possibilidade de três nomes novos na sigla, em São Paulo: o ator global José de Abreu, o cantor Supla, filho de Eduardo Suplicy, uma das figuras históricas da sigla, e o ex-deputado e ex-filiado do PSOL Jean Wyllys, um dos principais alvos dos bolsonaristas nas redes sociais.

No PSB, Pedro Campos (PE) deve tentar repetir a trajetória do irmão João Campos, que foi o quinto deputado federal mais votado do país em 2018 e, dois anos depois, conquistou a Prefeitura do Recife.

A candidatura adiciona mais um nome ao clã político iniciado por Miguel Arraes (1916-2005), avô de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco morto em um acidente aéreo em plena campanha à Presidência, em 2014.

O partido também aposta em Tabata Amaral (SP) e Delegado Da Cunha (SP), policial que ganhou fama nas redes sociais com a divulgação de vídeos de operações.

Já o PSOL tem entre seus principais nomes à Câmara Tarcísio Motta (RJ), vereador mais votado do Rio em 2020, Erika Hilton (SP), Marinor Brito (PA), Talíria Petrone (RJ) e o ex-deputado federal Chico Alencar (RJ), cuja candidatura ainda não está definida.

A eleição para a Câmara tem sua importância medida em vários fatores.

Em primeiro lugar, ela é uma das Casas do Legislativo que define a maior parte das leis do país e tem várias outras funções, entre elas a de dar autorização para o Senado abrir um processo de impeachment contra o presidente da República —o que já se materializou em duas ocasiões, em 1992 com Fernando Collor de Melo (PRN), e em 2016, com Dilma Rousseff (PT).

Além disso, a força de cada partido na Câmara é usada como parâmetro para a distribuição da maior parte das verbas dos fundos partidário e eleitoral (com previsão de gasto de mais de R$ 3 bilhões em 2022) e do tempo de propaganda dos candidatos na TV e rádio, ambos instrumentos essenciais à sobrevivência dos partidos.

O fundo eleitoral foi criado em 2017 em resposta à decisão do Supremo Tribunal Federal que proibiu o financiamento empresarial das campanhas. Há pressão no Congresso para que o valor de R$ 2,1 bilhões seja triplicado no ano que vem.

A Câmara também é o fator predominante na cláusula de desempenho, regra que visa sufocar e extinguir partidos de aluguel ou sem representatividade expressiva na sociedade.

A cláusula começou a valer em 2018 e sobe a cada ano. Ela retira verbas e acesso à propaganda dos partidos cujos candidatos a deputado federal não tenham um desempenho mínimo. Em 2018, 14 siglas não conseguiram superar o piso de 1,5% dos votos válidos nacionais, entre outras exigências. Em 2022, esse piso subirá para 2%, chegando a 3% em 2030.

Por fim, os congressistas passaram a ter nos últimos anos um expressivo poder de manejo de bilionárias verbas do Orçamento da União, por meio das emendas parlamentares.

As apresentadas individualmente por cada um dos 594 deputados e senadores, além das de bancada estadual, passaram a ter caráter impositivo, ou seja, o governo é obrigado a liberar a verba para as obras e investimentos no reduto eleitoral dos políticos.

Só em 2021 essas emendas representam R$ 16,4 bilhões do Orçamento federal.

De 2020 para cá, esse montante foi vitaminado pelas chamadas emendas de relator, de código RP9. Com reserva de outros R$ 16,8 bilhões em 2021, essa bolada é distribuída pela cúpula da Câmara e Senado aos parlamentares mediante critérios meramente políticos.

Por que a eleição de deputados federais é tão importante para os partidos?

  • Fundo partidário - A quase totalidade (95%) da verba, que será de R$ 1,061 bilhão em 2022, é dividida entre os partidos na proporção dos votos obtidos na última eleição para a Câmara dos Deputados
  • Fundo eleitoral - 83% da verba, que por ora está em R$ 2,128 bilhões para 2022, é dividida entre os partidos na proporção dos votos obtidos na última eleição e no peso de cada um na Câmara dos Deputados
  • Tempo de propaganda eleitoral na TV - 90% do espaço é dividido entre os candidatos proporcionalmente ao número de representantes que os partidos da coligação tenham na Câmara dos Deputados
  • Cláusula de desempenho - Partidos que não tenham um desempenho mínimo na eleição para a Câmara (2% dos votos válidos nacionais ou 11 deputados federais eleitos) perderão recursos essenciais à sua existência, como as verbas dos fundos partidário e a propaganda na TV
  • Emendas ao Orçamento - Deputados passaram nos últimos anos a ter um enorme poder de direcionamento de verbas do Orçamento federal. Além das emendas individuais e de bancada, cuja execução passou a ser obrigatória, há emendas de relator, de livre distribuição entre os parlamentares, com R$ 16,8 bilhões de reserva só em 2021
  • Governabilidade e votações - Bancadas fortes na Câmara também dão peso ao partido na relação com o governo, na definição das votações e em outros temas relativos ao Legislativo e à política nacional.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas