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Campanhas dividem preocupação com Marçal e somam forças nas frentes política e jurídica

Integrantes das equipes adversárias conversam sobre influenciador representar risco e adotam estratégias para tentar enquadrá-lo

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São Paulo

Campanhas adversárias de Pablo Marçal (PRTB) dividem a preocupação com o crescimento do influenciador nas pesquisas e a avaliação de que ele joga fora das regras do processo democrático ao recorrer a ataques agressivos e driblar normas de impulsionamento nas redes.

As equipes de Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) somam esforços em diversas frentes para enquadrar o autodenominado ex-coach, seja exigindo regras nos debates, acionando a Justiça contra ele ou expondo as acusações a que responde.

Pablo Marçal (PRTB) durante debate da TV Bandeirantes em que distribuiu ofensas aos demais concorrentes

Marçal subiu 7 pontos na mais recente pesquisa Datafolha e está empatado na liderança da disputa pela prefeitura. Ele marcou 21%, no mesmo patamar de Boulos, que oscilou de 22% para 23%, e de Nunes, que foi de 23% para 19%.

Nos bastidores e de maneira informal, integrantes das campanhas adversárias conversam entre si sobre os riscos que veem em Marçal e possíveis medidas contra ele, embora cada uma adote sua própria estratégia em relação ao influenciador.

Nunes, Boulos e Datena decidiram faltar ao último debate, realizado pela revista Veja, depois de considerarem que regras do encontro anterior, realizado por Faap e O Estado de S. Paulo, não foram cumpridas. Tabata e Datena, por sua vez, subiram o tom contra Marçal em vídeos divulgados nesta sexta-feira (23). Na arena judicial, ações de Tabata e Boulos miram a candidatura do empresário.

Neste sábado (24), a Justiça Eleitoral determinou a suspensão dos perfis de Marçal em redes sociais até o final das eleições. A decisão, em caráter liminar, foi concedida na ação movida pelo PSB.

Representantes ouvidos pela reportagem evitam especular sobre eventual derrubada da candidatura de Marçal durante a campanha. A maior preocupação transparecida nos relatos é a de que ele se submeta aos ritos da disputa e cumpra obrigações que pesam sobre os demais candidatos, como as regras de debate, condutas básicas de civilidade e a legislação eleitoral como um todo.

Em relação à organização dos próximos debates, discutida em reuniões quase diárias entre veículos de comunicação e assessores das campanhas, há sintonia entre os adversários para exigir punição mais rigorosa. Ou seja, além do direito de resposta, o pedido comum é para que os candidatos possam ser penalizados com advertência verbal ou perda de parte do seu tempo.

A ideia é evitar as brechas que Marçal encontrou no debate do último dia 19, em que levou ao palco um documento (a carteira de trabalho), usou boné e filmou bastidores com a ajuda de sua equipe —atitudes proibidas pelas regras.

Em reuniões nos últimos dias, as campanhas cobraram que organizadores que optem pelo convite a Marçal se comprometam a assegurar que ele não usará os espaços para deflagrar tumultos.

Outra reclamação comum às campanhas é a presença de plateia nos debates, já que os convidados acabam se manifestando e servindo de claque para Marçal. Os candidatos também pleiteiam uma restrição maior no número de assessores que cada um pode levar.

A situação é descrita como surpreendente e atípica, já que em eleições anteriores nunca se conviveu com um postulante com o perfil tão provocativo e inconsequente quanto o de Marçal, que não só desafia regras, mas também reincide nos comportamentos.

Ao contrário de Nunes, Boulos e Datena, Tabata não cogita abrir mão de participar dos debates pois quer se tornar mais conhecida. A avaliação no entorno da deputada é que ela ajuda a expor a fragilidade do influenciador ao confrontá-lo com perguntas sobre temas que ele não domina e propostas para a cidade.

Em outra frente, as campanhas decidiram expor as polêmicas de Marçal, como a condenação por fazer parte de uma quadrilha que aplicava golpes bancários e a proximidade com pessoas suspeitas de ligação com o PCC. A questão do crime organizado é tema de vídeos divulgados por Tabata e por Datena.

Em relação ao tucano, trata-se de uma virada. Antes do Datafolha desta quinta (22), enquanto aparecia em terceiro lugar, Datena direcionava sua artilharia contra Nunes e tratava os demais concorrentes com cordialidade. Agora, partiu para o ataque ao associar Marçal e integrantes do seu partido ao PCC.

A equipe de Nunes, que terá mais da metade do tempo de TV, também quer levar ao eleitor as reportagens que revelam polêmicas de Marçal e já tem contado com a ajuda da família Bolsonaro nesse sentido. Como mostrou a Folha, Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos resolveram abrir fogo contra o influenciador.

A principal aposta contra Marçal, contudo, está na Justiça Eleitoral. Advogados de diferentes campanhas ouvidos pela reportagem fizeram a mesma comparação ao tratar da disparidade da força dele nas redes —se Datena teve que se afastar da TV Bandeirantes para não contar com mais audiência que os demais, Marçal tampouco poderia usar uma estrutura de rede que torna a disputa desigual.

Para integrantes das equipes adversárias, há abuso de poder econômico por parte de Marçal ao pagar para seguidores replicarem seus cortes nas redes. Duas ações pedem a investigação e o julgamento do influenciador com base nesse argumento: uma é a de Tabata, que teve decisão desfavorável para Marçal, e a outra é movida pelo Ministério Público Eleitoral.

A ação de Tabata é acompanhada de perto pelas demais campanhas, que tiveram conhecimento da iniciativa antes mesmo do protocolo. Além do PSB, as equipes jurídicas de outros partidos têm mantido interlocução informal com a Promotoria e com o TRE a respeito da possibilidade de barrar Marçal.

A campanha do PSB também acionou a Justiça por causa de irregularidades na convenção do PRTB.

Integrantes do MDB dizem avaliar entrar com processos contra o autodenominado ex-coach, mas ponderam se o efeito de muitas ações com os mesmos objetos seria ruim ou bom para o adversário.

A campanha de Boulos, além de rebater ataques e provocações, tachando o candidato do PRTB de "psicopata" e "mentiroso compulsivo", entrou com ações para que o adversário excluísse postagens com alusão a uso de cocaína e para ter direitos de resposta nas redes dele, o que chegou a ser concedido, mas depois foi suspenso temporariamente.

Nos bastidores, admite-se que os ataques têm um alcance infinitamente superior aos desmentidos e que a dimensão de Marçal no universo digital é uma arma que nenhum outro concorrente possui.

Já Datena, além da ofensiva contra o candidato do PRTB e de se preservar de debates que considera de baixo nível, quer aumentar a presença nas redes sociais. No Instagram, ele possui quase 960 mil seguidores, enquanto Marçal contabiliza mais de 12 milhões.

Recentemente, o canal do jornalista passou a ser alimentado diariamente com vídeos e fotos. O próprio Datena admite que, hoje, só está utilizando as redes em razão da campanha.

"Eu acompanho muito pouco [a rede social]. A nossa equipe está se esforçando muito para fazer uma de primeira qualidade", afirma. "Agora tem muito canalha que se esconde atrás de IPs", completa em referência a Marçal.

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