Agressões e propostas rasas marcam novo debate entre candidatos de SP

Embate entre Boulos e Marçal escalou e continuou nos bastidores; Tabata e Nunes também trocaram ataques

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São Paulo

Os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo trocaram agressões e apresentaram propostas rasas em novo debate na manhã desta quarta-feira (14).

O conflito chegou quase ao contato físico em embate entre o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o influenciador Pablo Marçal (PRTB), que levantou uma carteira de trabalho na altura de seu rosto. Marçal o chamou de "vagabundo", e o psolista disse que ele é um "mentiroso compulsivo" e que tem dúvidas se é "mau caráter" ou "psicopata".

Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo) em debate - Estadão no Youtube/Youtube

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a deputada federal Tabata Amaral (PSB) também trocaram farpas. Ela disse que o emedebista é "recordista de obras sem licitação" e sugeriu que ele adotasse o slogan "Rouba e não faz". Nunes a chamou de "mal informada" e disse que Tabata é "muito brava".

O debate foi promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, em parceria com o Portal Terra e a Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Participaram seis candidatos: Nunes, Boulos, Tabata, Marçal, o apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) e a economista Marina Helena (Novo).

Com o debate dominado pelos confrontos e trocas de acusação entre os pré-candidatos, a exposição de propostas para os problemas da cidade ficou em segundo plano e não foi aprofundada por eles.

O bate-boca entre Boulos e Marçal começou quando o deputado federal afirmou que o influenciador não deveria estar ali, pois, no último debate, havia dito que deixaria a disputa caso alguém mostrasse que ele já tinha sido condenado pela Justiça.

Marçal foi condenado a 4 anos e 5 meses de reclusão em 2010 pela Justiça Federal sob acusação de furto qualificado por participação em uma quadrilha especializada em golpes digitais. Boulos publicou trecho da sentença nas redes sociais.

O influenciador então disse que estava sendo confundindo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e chamou o deputado de "PT kids".

O influenciador voltou a dizer que não houve crime e que ele trabalhou "para um cara consertando computadores". Marçal também acusou Boulos de ter sido preso três vezes.

As detenções de Boulos ocorreram no contexto de atividades do MTST, como reintegrações de posse e desocupação de áreas invadidas. Em nota, a campanha diz que ele "nunca foi condenado criminalmente em nenhum processo judicial e jamais cumpriu qualquer tipo de pena".

Boulos foi detido em 2012 na retirada de moradores no terreno conhecido como Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), e liberado na sequência. Em 2017, foi conduzido para averiguação e liberado pouco depois. Em entrevista a Agência Pública, Boulos relatou ter sido detido também em "2003 ou 2004", durante uma desocupação em Osasco.

No debate, o deputado disse a Marçal que ele é "mentiroso compulsivo, viciado em mentir". "Você é o padre Kelmon dessa eleição, vem para o debate para tumultuar", respondeu o deputado em referência ao candidato do PTB à Presidência em 2022, que ganhou fama em debates ao fazer dobradinha com o então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Marçal disse então que era, sim, o Padre Kelmon: "Eu vou exorcizar o demônio com a carteira de trabalho, que você nunca trabalhou. Um grande vagabundo dessa nação".

O conflito escalou e chegou quase ao contato físico, quando Marçal seguiu Boulos pelo palco mostrando o documento. Ambos se sentaram lado a lado, e o ex-coach continou a mostrar o documento para Boulos que, irritado, tentou tirá-lo das mãos do adversário.

No confronto entre Nunes e Tabata, a deputada disse que o prefeito é recordista em obras sem licitação e sem planejamento e citou denúncias de superfaturamento para favorecer empreiteiras.

"Você está mal informada, anda indo muito para outros estados, deputada", respondeu Nunes, pedindo para que Tabata não cometesse "esse tipo de leviandade".

Tabata rebateu e afirmou que não está apenas "lendo, estudando ou turistando na periferia" e sugeriu que o prefeito adotasse o slogan "Rouba e não faz'".

Em seu direito de resposta, Nunes citou o caso Americanas para criticar Tabata. "Você é muito brava aqui, mas, para falar da Americanas, que é teu tutor e financiador, que prejudicou milhares de trabalhadores, você não se pronunciou."

A critica remete ao fato de a Fundação Estudar, parcialmente financiada pelo bilionário Jorge Paulo Lemann, ter pago uma ajuda de custo à deputada quando ela estudava na Universidade de Harvard. Lemann é um dos sócios da Americanas, que foi objeto de uma fraude bilionária.

Nunes e Boulos também trocaram farpas. O deputado perguntou ao prefeito se ele concordava com frases de Bolsonaro, por exemplo, sobre não confiar em urnas eletrônicas e apoio à ditadura militar. Em resposta, Nunes disse que não era comentarista político e indagou a Boulos sobre o regime de governo da Venezuela.

"A Venezuela não é meu modelo de democracia", disse Boulos. "Você, lamentavelmente, está à frente de uma cidade como fantoche de outro e agora quer trazer o Bolsonaro para São Paulo."

Nunes respondeu que Boulos já foi preso três vezes.

Por fim, Boulos respondeu que o prefeito vai ter que explicar sobre quem estava ao seu lado quando ele deu um tiro na porta de uma boate. "Tem boletim de ocorrência e matéria provando", afirmou. Nunes foi denunciado sob acusação de porte ilegal e disparo de arma de fogo em 1996 —o prefeito afirma que o disparo foi acidental.

Datena e Tabata fizeram dobradinha ao questionar Nunes e Marçal sobre acusações de envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital).

"Se não pararmos com essa gente agora e não tivermos coragem para combater o crime organizado, nós vamos virar um estado criminoso", afirmou o pré-candidato do PSDB.

Marina Helena (Novo) também acusou o deputado estadual Antonio Donato (PT), coordenador da campanha de Boulos, de ligação com a facção.

"Você faz acusações de que o crime organizado, o PCC está infiltrado aqui na cidade. Quero saber que moral você tem se um coordenador da sua pré-campanha, Antonio Donato, do PT, é acusado de receber R$ 75 mil de doação do chefe das máfias dos transportes?", questionou.

A denúncia da pré-candidata do Novo se refere a doação eleitoral declarada em 2020 por Donato, feita por Luiz Carlos Efigênio Pacheco, dono da empresa de ônibus Transwolff, preso em abril durante operação do Ministério Público contra empresas suspeitas de relação com o PCC.

Quando o fato foi divulgado, Donato disse que não era próximo do empresário e que o havia visto apenas algumas vezes nos últimos anos.

Boulos rebateu a pré-candidata do Novo e disse que ela estava o confundindo com outro candidato, Marçal, que tem o presidente seu partido confessadamente "ligado ao tráfico de drogas" e um assessor condenado e preso por sequestro.

O deputado se referia a duas reportagens da Folha, uma que revelou áudio em que o presidente do partido se dizia ligado ao PCC e outra que mostrou a condenação do vice do diretório municipal por extorsão mediante sequestro.

Ao final do debate, Marçal foi cercado por apoiadores e alunos para vídeos e selfies. Os outros candidatos não despertaram o mesmo interesse do público. Ele afirmou ter sido quase agredido por Boulos e buscou se isentar da sua responsabilidade para um debate recheado de ataques.

Boulos afirmou que não tem "sangue de barata" e se justificou afirmando que não se pode normalizar a existência um postulante a prefeito como o influenciador.

Já Nunes declarou que o nível "passou demais dos limites" e considerou que o cenário foi um "desrespeito à população que está em casa" e disse que muitas mentiras foram difundidas no debate.

Tabata também lamentou "o nível do debate". "Debate é para falar de propostas. Ninguém juntou um time melhor do que eu ou se preparou tanto. [...] Mas é muito importante que as pessoas conheçam os candidatos", acrescentou.

Colaborou Marcos Hermanson

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