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Pablo Marçal oficializa candidatura a prefeito em meio a racha no partido

Após movimentar a pré-campanha em São Paulo, influenciador se lança à disputa com críticas a Nunes e Boulos

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São Paulo

O influenciador e empresário Pablo Marçal oficializou sua candidatura à Prefeitura de São Paulo em convenção do PRTB na manhã deste domingo (4), em meio a um racha no partido e a acusações de ilegitimidade em torno da direção nacional.

Marçal reuniu apoiadores e candidatos a vereador da legenda em um centro de eventos na zona leste da capital paulista e fez discurso no qual atacou o prefeito Ricardo Nunes (MDB), com quem disputa os votos da direita, afirmando que o adversário não tem "presença de comando" nem "estado de espírito" para a gestão.

"Podem até juntar 11 partidos para defender um fraco, mas vai ver quem tem mais energia, propósito", disse.

Convenção de Pablo Marçal, neste domingo (4), em São Paulo - Folhapress

O candidato do PRTB afirmou ainda que Guilherme Boulos (PSOL) tem mais energia que Nunes para vencer a eleição e que, preocupado com esse cenário, decidiu concorrer à prefeitura para evitar a vitória do psolista. "Por isso estou aqui à disposição."

Marçal também atacou Boulos repetindo argumentos utilizados por Nunes e bolsonaristas, que afirmam que o deputado nunca trabalhou. Ele citou o aumento do patrimônio do psolista desde que assumiu o mandato parlamentar e também criticou o voto do rival para arquivar no Conselho de Ética da Câmara o caso envolvendo o deputado André Janones (Avante-MG), suspeito de ter promovido esquema de "rachadinha" em seu gabinete.

"Jogou fora o futuro político dele, porque ninguém vai esquecer da loucura que ele fez."

Marçal anunciou para a vice uma mulher negra, Antonia de Jesus. "A vice-prefeita de São Paulo é policial, é brava. É mãe de dois filhos, casada, católica, tem um coração incrível", disse o influenciador. "Ela é nordestina. Veio para cá em 1996, tem contribuído com a cidade."

O empresário também afirmou que ofereceram milhões de reais para que ele desistisse de sua pré-candidatura, mas que "mexeram com o cara errado". Ele não citou quem teria feito a oferta.

Em outro momento do discurso, Marçal afirmou, sem detalhar, que dois de seus concorrentes são "cheiradores de cocaína" e que apresentará provas disso durante debate.

Ele confirmou a candidatura sem ter conseguido firmar aliança com outras legendas —ainda que tenha dito diversas vezes que o apoio do União Brasil estava praticamente garantido. O partido acabou fechando acordo com Ricardo Nunes.

Presidente do PRTB, Leonardo Avalanche afirmou que a legenda terá uma chapa puro-sangue "contra o sistema". Ele disse que a sigla pensou em correr atrás de firmar coligação e fez movimentos neste sentido, mas que "Deus trouxe paz no coração" para tomar a decisão correta.

Leonardo Avalanche foi quem impulsionou Marçal para a disputa municipal. O presidente do diretório municipal é Levy Fidelix Filho –herdeiro do fundador da sigla, Levy Fidelix, que morreu em abril de 2021.

Fidelix Filho, presidente do diretório municipal e aliado de Avalanche, afirmou neste domingo que o presidente do partido é um homem preparado, capaz de ajudar a legenda "a chegar onde sempre mereceu".

Nem toda a família Fidelix, porém, está ao lado de Avalanche e de suas decisões. Desde a morte do patriarca, ocorreu uma sucessão de brigas pelo comando do partido, envolvendo acusações de falsificação de rubricas e ameaças.

Hoje, ao menos três grupos estão insatisfeitos e questionam a legitimidade da presidência nacional: um liderado por Júlio Cezar Fidelix, irmão de Levy; outro pela viúva Aldineia Fidelix; e um terceiro pelo pastor Edinazio Silva, de Pernambuco. Também há disputas no próprio entorno de Avalanche.

Ao fim de 2021, oito meses após a morte de Levy Fidelix, foi realizada uma convenção nacional que elegeu Júlio como novo presidente. Grupos dissidentes, porém, moveram uma série de ações no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) argumentando que ocorreram irregularidades na convocação da assembleia.

Em 2023, o ministro Alexandre de Moraes, então presidente do tribunal, determinou uma intervenção no partido para convocar novas eleições, o que ocorreu em fevereiro deste ano, levando Avalanche ao comando.

A disputa, entretanto, não terminou por aí. Júlio e aliados, derrotados na convenção, chegaram a convocar uma assembleia extraordinária que aconteceria em junho para tratar da destituição do diretório nacional e da escolha de uma comissão provisória. O movimento foi barrado pelo TSE a pedido do PRTB nacional.

O entorno da viúva Aldineia Fidelix afirma que o presidente da legenda não cumpriu um acordo firmado às vésperas da convenção de fevereiro. O grupo dela entende que a presidência está em situação irregular, o que colocaria em xeque as decisões de Avalanche e, consequentemente, todas as candidaturas do partido nas cidades com mais de 200 mil habitantes –onde, segundo o entorno de Aldineia, a decisão sobre as indicações é de responsabilidade da direção nacional.

O fundador do PRTB, Levy Fidelix, que morreu em 2018 - Folhapress

Aliados dela avaliam que a pré-candidatura de Marçal está ameaçada por esse motivo, podendo ser alvo não apenas dos grupos dissidentes do partido, mas também de adversários e do Ministério Público.

O influenciador rejeita essa possibilidade e já afirmou que não existe racha na legenda. Questionado por jornalistas neste domingo sobre o risco para a campanha em meio à disputa no partido, Marçal voltou a dizer que existem pessoas de fora da sigla querendo opinar. "Todas as ações que entraram a gente ganhou de 10 a 0. Tem zero preocupação com isso."

Essa não é a primeira vez que Marçal acaba atingido por disputas partidárias. Ele foi candidato a deputado federal em 2022 pelo Pros, mas teve o registro cassado por decisão da Justiça Eleitoral, que anulou os atos de comissão provisória em meio a brigas pelo comando da sigla.

O empresário chegou ao dia da convenção marcando dois dígitos nas intenções de voto, segundo as pesquisas. No mais recente levantamento do Datafolha, em julho, Marçal apareceu com 10%, atrás de José Luiz Datena (PSDB), com 11%, de Guilherme Boulos (PSOL), com 23%, e do prefeito Ricardo Nunes (MDB), com 24%.

Para além da instabilidade no PRTB, o influenciador também precisará lidar com a ausência de tempo de televisão, problema que ele minimiza com seu amplo alcance e engajamento nas redes sociais. O fundo eleitoral é de R$ 3,4 milhões, bastante enxuto em comparação ao de outras legendas.

O partido anunciou a pré-candidatura do empresário em maio, chacoalhando a disputa com um bom desempenho no Datafolha –ao fim daquele mês, Marçal marcou entre 9% e 7% em cenários testados pelo instituto.

A chegada do empresário à corrida eleitoral, ameaçando conquistar os votos da direita e atrapalhar Nunes, obrigou o prefeito a mudar a estratégia da pré-campanha.

Até então, o emedebista considerava importante o apoio de Jair Bolsonaro (PL), mas queria manter certa distância da imagem do ex-presidente para não herdar sua rejeição. O fator Marçal, porém, levou Nunes a sacramentar a aliança com Bolsonaro, aceitando para a vice o seu indicado, o ex-comandante da Rota Ricardo Mello Araújo (PL).

O empresário também flertou com deputados bolsonaristas pouco entusiasmados com Nunes –que, ainda que venha endurecendo o discurso para se alinhar mais ao ex-presidente, não tem identificação natural com as pautas do grupo.

Convenção de Pablo Marçal, neste domingo (4), em São Paulo - Folhapress

Depois do encontro com o ex-presidente, o influenciador disse que não havia chance de Bolsonaro apoiar Nunes. Ao longo da pré-campanha, Marçal profetizou com segurança cenários que estavam incertos ou de difícil realização –como nas vezes em que afirmou que o apoio do União Brasil estava praticamente garantido, ou quando disse que o prefeito trocaria de vice e que, com isso, perderia o endosso do ex-presidente.

Também marcaram a pré-campanha de Marçal algumas propostas inusitadas, como um cinturão de teleféricos para desafogar o trânsito, declarações questionáveis, como quando afirmou que a pré-candidata Tabata Amaral (PSB) teve responsabilidade sobre a morte do pai, e o séquito de seguidores que o acompanha em todos os lugares para gravá-lo e obter ganhos financeiros produzindo cortes dos vídeos.

Com 12 milhões de seguidores no Instagram, Marçal gera mais engajamento nas redes do que todos os seus adversários juntos, segundo levantamento do Datafolha em parceria com a empresa Codecs.

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