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Descrição de chapéu Eleições MG Minas Gerais

Família do senador Cleitinho, de passado varejista, assume liderança política no interior de MG

Com 3 de 4 irmãos em cargos eletivos, família sofre críticas por concentrar poder e rejeita pecha de clã associado a coronelismo

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Divinópolis (MG)

Em 2016, o hoje senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) dividia sua rotina de vocalista do grupo de pagode Brotos do Samba com a de funcionário do Varejão Azevedo, comércio de seu pai, Zé Maria Azevedo.

Na época, ele se tornou mais conhecido em Divinópolis, na região centro-oeste de Minas Gerais, por vídeos de tom humorístico e antipolítico que renderam um convite para ser candidato a vereador.

A ideia não passava pela cabeça de Cleitinho, mas sim na de seu irmão gêmeo e colega na banda, Gleidson (Novo), que tinha ambição de entrar na política. A popularidade com os vídeos acabou levando Cleitinho a concorrer naquela eleição, quando foi o terceiro vereador mais votado, com 3.023 votos.

Os quatro filhos de Zé Maria Azevedo: senador Cleitinho (Republicanos); deputado estadual Eduardo (PL); Matheus, o único irmão fora da política; e Gleidson (Novo), prefeito de Divinópolis (MG) - Divulgação Senado Federal / Alexandre Rezende/Folhapress

Oito anos depois, 3 dos 4 filhos de Zé Maria estão na política. Além do senador Cleitinho, o primogênito Eduardo (PL) é deputado estadual, e Gleidson concorre à reeleição para prefeito de Divinópolis, cidade com 230 mil habitantes.

Os 4,2 milhões de votos que Cleitinho teve em Minas há dois anos o credenciam como um possível aspirante a substituir Romeu Zema (Novo) em 2026 como governador —cargo pelo qual ele diz ter "zero interesse".

A entrada dos outros irmãos na política aconteceu na eleição de 2020, quando Cleitinho já era deputado estadual, e Eduardo e Gleidson saíram candidatos a vereador e prefeito, respectivamente. Foi nessa época que rivais cunharam o termo "clã Azevedo", como forma de criticar a adesão simultânea.

"Eu nunca motivei meus irmãos a entrarem na política", diz Cleitinho à Folha.

"A motivação principalmente do Gleidson veio dos concorrentes, que começaram a procurá-lo para ser vice da chapa e ter meu apoio. Mas ele quis ser candidato a prefeito. Fui e perguntei aos concorrentes se queriam ser vice dele, e ninguém aceitou", afirma.

O deputado Eduardo também nega que a família tenha entrado na política por influência de Cleitinho. "Nós entramos pela porta da frente, pelo voto."

A deputada estadual Lohanna França (PV), tida como a principal adversária política da família em Divinópolis, diz que os irmãos Azevedo "são os novos coronéis da cidade".

"É o mesmo modus operandi [dos coronéis], só que agora enfeitado com rede social. Colocaram a família em espaços de importância a partir do medo e utilizam a máquina pública para eleger irmão", afirma ela, vereadora mais votada da história da cidade na eleição passada.

Dos quatro filhos de Zé Maria e Selma Azevedo, apenas o mais novo, Matheus, 32, não ingressou na política. À frente de uma unidade de atacado do Varejão, hoje ele prefere tocar os negócios da família.

"Não posso dizer que nunca vou entrar, mas quando o pai faleceu [em março, em decorrência de um tumor na bexiga], senti que tinha que ter alguém da família no dia a dia do Varejão", diz.

Além do centro de distribuição, responsável pela operação do atacado, o núcleo familiar tem uma unidade de varejo, no centro da cidade. No total, são 15 funcionários e um faturamento de R$ 550 mil por mês.

Eduardo Azevedo, 45, e Matheus Azevedo, 32; o filho mais velho e o mais novo de Zé Maria são os mais envolvidos no comércio deixado pelo pai - Folhapress

No comércio varejista, há 20 anos no mesmo local, trabalha Eustáquio Azevedo, o Taquinho, irmão de Zé Maria. Ele lembra que o comércio surgiu da ideia de dois dos seus irmãos mais velhos, Zé Maria e Antônio Lino, que iniciaram o negócio como feirantes.

Hoje, além das duas lojas dos filhos de Maria, há duas unidades de varejo que são tocadas por outros familiares. "Foi uma surpresa a entrada deles na política, porque eram conhecidos pela banda [de pagode]", diz Taquinho.

Reflexo de Eustáquio (Taquinho) Azevedo em porta-retrato do irmão Zé Maria, que morreu neste ano; imagem fica na unidade de varejo da família no centro de Divinópolis - Folhapress

O tom de oposição à política tradicional que marcou os vídeos de Cleitinho em 2016 de certa forma permanece no discurso da família. Prova disso é o apoio do senador ao candidato Bruno Engler (PL) em Belo Horizonte, contra o candidato do seu partido, Mauro Tramonte (Republicanos).

"Eu quero que a fidelidade partidária se exploda", disse o senador na convenção que definiu a candidatura de Engler.

O deputado federal Domingos Sávio (PL-MG), presidente do PL no estado e que também fez carreira política em Divinópolis, é próximo da família e o principal articulador da candidatura de Gleidson, que reúne sete partidos —em 2020, ele foi eleito em chapa pura do PSC, sua antiga legenda.

Sávio diz que vetou uma candidatura do PL em Divinópolis para não dividir os votos da direita no município e que as portas estão abertas para a ida de Cleitinho ao partido, "mas há um porém".

"O PL é um partido que pretende, de seus filiados, lealdade partidária", afirma Sávio. "Mas eu acho que o Cleitinho teria facilidade de cumprir lealdade, que é voltada aos nossos princípios."

Gleidson Azevedo, irmão gêmeo de Cleitinho e candidato à reeleição como prefeito de Divinópolis (MG) - Folhapress

Após ter vencido uma eleição contra oito concorrentes em 2020, agora Gleidson tem só uma adversária: Laiz Soares (PSD), que reuniu nove partidos.

"Políticos tradicionais da cidade que queriam ser candidatos não tiveram coragem para enfrentar o cara. Porque enfrentá-lo não é enfrentar um prefeito, é enfrentar um senador, um deputado, um prefeito, o Ministério Público e tudo mais", diz Laiz.

Ela afirma que o rival evita os debates e tenta simular na eleição local uma polarização nacional, já que Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula (PT) na cidade em 2022 por cerca de 16 mil votos de diferença.

Gleidson afirma que não haverá polarização nem participa de debates porque considera que "não tem concorrente" na disputa. "A última vez que eu vi um vídeo dela, de quatro anos atrás, ela jurava pela mãe que não seria candidata, repetiu isso várias vezes."

Laiz afirma que gravou o vídeo em 2021, após ela e sua família sofrerem ataques. "Eu estava sendo atacada e gravei um vídeo falando que eu não ia mais ser candidata. Ser uma mulher jovem na política sem dinheiro e padrinho político é muito cruel. Depois eu mudei de ideia [sobre a candidatura]."

Laiz Soares (PSD), única adversária de Gleidson na eleição para a Prefeitura de Divinópolis - Folhapress

Na gestão do irmão gêmeo de Cleitinho na prefeitura, uma das polêmicas foi quando ele denunciou ao Ministério Público cinco vereadores que teriam cobrado propina para votar projetos de lei que alteravam o zoneamento da cidade. Três deles, porém, seguem na base do prefeito na Câmara.

Questionado, Gleidson fala que denunciou apenas dois vereadores, que foram afastados pela Justiça. "Fui o único prefeito que teve peito para denunciar essa corrupção. O vereador afastado falava que tinha outros envolvidos. O que eu denunciei e o que eu gravei era só de dois vereadores", diz.

Denúncia assinada por Gleidson contra cinco vereadores de Divinópolis; ele afirma que protocolou denúncia contra apenas dois, que foram afastados - Reprodução

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