Descrição de chapéu Eleições 2024

Ex-governadores buscam recomeço e concorrem a prefeito, vice e até vereador

Políticos experientes se lançam candidatos e apelam para memória sobre gestões para retomar protagonismo

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Salvador e Rio de Janeiro

No ritmo marcado de um samba exaltação, Anthony Garotinho (Republicanos) aparece em uma sucessão de abraços com eleitores pelas ruas, praças e feiras do Rio de Janeiro. O jingle cita o "homem que fez" e elenca as marcas de sua gestão como governador do estado entre 1999 e 2002.

Mais de duas décadas longe do cargo, apela à memória para sensibilizar os eleitores que agora tenta conquistar: "Você que ainda não sabe porque as pessoas têm tanto carinho por mim, pergunta aos seus pais e avós que você vai entender", postou em uma rede social.

Ao menos seis ex-governadores de cinco estados se lançaram candidatos nas eleições municipais e concorrem aos cargos de prefeito, vice e vereador. Depois de ocuparem o cargo máximo em seus estados, ensaiam retomar o protagonismo político com os olhos voltados para suas bases.

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Ex-governadores Izolda Cela (Ceará), Anthony Garotinho (Rio de Janeiro) e Roberto Requião (Paraná) são candidatos - Izolda Cela no Facebook; @oficialgarotinho no Instagram e @robertorequiaooficial no Instagram

Anthony Garotinho, 64, busca uma volta por cima e concorre à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. A figura risonha em campanha contrasta com o político que enfrentou percalços nos últimos anos e chegou a ser preso cinco vezes por suspeitas de corrupção – ele sempre negou as acusações.

O ex-governador afirma que decidiu retomar a candidatura após uma conversa política com Eduardo Paes (PSD), prefeito da capital fluminense e candidato à reeleição, com quem discutiu uma aliança para este ano.

Ele disse ter sugerido a Paes para aproveitar a proximidade com o presidente Lula para transformar o Rio numa "cidade de interesse federal". A proposta seria uma compensação pela perda da capital federal para Brasília.

"Eu me interessei por essa tese. Quero ser um vereador para levantar essa bandeira. O Rio tem que voltar a ter importância", disse ele.

O caminho até a Câmara, contudo, terá seus obstáculos. A Justiça Eleitoral indeferiu o registro da sua candidatura em razão de uma condenação por improbidade administrativa. Ainda cabe recurso à decisão.

Garotinho não é o único ex-governador do Rio de Janeiro em campanha. Quase seis anos após ser preso no fim do mandato, Luiz Fernando Pezão (MDB) voltou às origens. Ele tenta retornar à Prefeitura de Piraí (RJ), cidade de 27 mil habitantes que governou por oito anos antes de ascender na política estadual.

Absolvido das acusações criminais, Pezão ainda tem empecilhos jurídicos para manter a candidatura. A Justiça Eleitoral, em primeira instância, indeferiu o registro do ex-governador por uma condenação por improbidade administrativa. Ainda cabe recurso.

Ele afirma que precisou romper resistência da mulher, Maria Lúcia, inicialmente contrária ao retorno à política: "Ela ia para cidade, para supermercado, e as pessoas também ficavam cobrando. Viu o quanto a população gosta [de mim] também."

Convencida a liberar o marido, a ex-primeira-dama do estado agora terá de assumir a campanha na rua. O ex-governador sofreu uma queda, quebrou o ombro, e terá de ficar algumas semanas de repouso.

Pezão diz não ter mais pretensão de retornar ao Palácio Guanabara. Ele chegou a recusar um cargo oferecido pelo governador Cláudio Castro (PL) no ano passado.

"Com o conhecimento que ganhei, posso contribuir muito para a cidade, que tem um orçamento estável", disse ele, citando as dificuldades em gerir o estado do Rio em razão da variação da arrecadação com royalties pelo governo estadual.

No Paraná, Roberto Requião, 83, tenta voltar à prefeitura da capital após um hiato de 35 anos. Desta vez, com a experiência de quem já foi de um tudo na política estadual: prefeito de Curitiba, governador por três mandatos, senador, secretário e deputado estadual.

Sem espaço dentre os partidos tradicionais do estado, se filiou ao Mobiliza (antigo PMN) para tentar voltar ao cargo. Terá uma missão difícil em uma eleição com outros três adversários competitivos: o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) e os deputados Luciano Ducci (PSB) e Ney Leprevost (União Brasil).

"Fui três vezes governador, fui senador, fui prefeito. Curitiba me conhece", afirmou ele à Folha em julho, ao ser questionado sobre a falta de estrutura para campanha.

Ex-governadores de Mato Grosso do Sul e Sergipe também estarão nas urnas este ano, mas como candidatos a vice-prefeito nas capitais de seus estados. Ambos serão companheiros de chapa de deputadas federais em primeiro mandato e jovens em ascensão na política local.

Governador de Sergipe entre 2018 e 2022, Belivaldo Chagas (Podemos), 64, será vice da deputada Yandra Moura (União Brasil), 30, filha do ex-deputado André Moura.

Ele diz que tinha decidido não disputar novas eleições após deixar o governo e eleger o sucessor Fábio Mitidieri (PSD) em 2022, mas afirma que foi convencido a ser vice em uma chapa que unisse juventude e a experiência.

"Não tenho essa ambição por cargos, mas sempre gostei de atuar no Executivo, que é onde a gente vê as coisas acontecerem. Não há motivo para pendurar as chuteiras se posso contribuir", justifica.

Para se consolidar como candidato a vice, ele migrou para o Podemos – o PSD do governador vai apoiar o Luiz Roberto (PDT), aliado do prefeito Edvaldo Nogueira (PDT). Belivaldo diz que não há rompimento com Mitidieri, mesmo com palanques distintos.

Em Campo Grande (MS), José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, 74, será candidato a vice-prefeito em uma chapa pura liderada pela deputada federal petista Camila Jara, 29.

Zeca governou o estado entre 1999 e 2006 e faz parte da leva de governadores petistas eleitos antes da chegada de Lula ao Planalto pela primeira vez, em 2003. Após tentativas frustradas de voltar ao governo e se eleger para o Senado, foi eleito deputado estadual em 2022.

Outro nome que voltou às origens foi Izolda Cela (PSB), que foi governadora do Ceará entre abril e dezembro de 2022 e agora concorre à prefeitura de Sobral, sua cidade natal e berço político dos ex-governadores e irmãos Ciro Gomes (PDT) e Cid Gomes (PSB).

Vice-governadora entre 2015 e 2022 pelo PDT, Izolda assumiu o mandato em definitivo após a renúncia do então governador Camilo Santana (PT), hoje ministro da Educação. Mas foi derrotada em uma disputa interna no partido, em meio ao racha entre os irmãos Gomes, e não concorreu à reeleição.

Após pouco mais de um ano à frente da secretaria-executiva do Ministério da Educação, deixou o cargo para ser candidata em Sobral como um nome de consenso da situação. Sua candidatura não terá oposição do PDT de Ciro, que decidiu não lançar candidato nem apoiar ninguém na cidade.

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