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Descrição de chapéu Prefeitos de SP

Membro da elite cafeeira administrou São Paulo sob guerra

Firmiano de Morais Pinto foi prefeito da cidade durante Revolta Paulista de 1924, que deixou mais de 500 mortos

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São Carlos (SP)

O prefeito que precisou enfrentar a transformação de São Paulo numa zona de guerra em 1924 era um pacato membro da elite cafeeira da época, amante do hipismo e casado com a filha de um conde.

Firmiano de Morais Pinto (1861-1938) acabou colaborando com militares revoltosos para tentar minimizar os danos do levante que tomou a cidade durante seu mandato e chegou a ser acusado de traidor pelo governo federal, embora a Justiça o tenha absolvido.

Busto de Firmiano de Morais Pinto no parque Buenos Aires, em Higienópolis, em São Paulo - Alessandro Shinoda - 10.jul.2011/Folhapress

Antes de sua gestão como prefeito da capital, entre 1920 e 1926, Firmiano tinha passado a maior parte da vida em São Paulo, onde se formou em direito no fim do governo imperial.

Nascido em Itu e descendente de militares, foi juiz em Limeira ainda durante o Império e, pouco depois, gerenciou o Banco União de São Carlos a pedido do sogro, Antônio Carlos de Arruda Botelho, o conde de Pinhal.

Após a proclamação da República, Firmiano foi conquistando influência crescente no mundo da política, sendo eleito deputado federal mais de uma vez e atuando como secretário estadual da Agricultura no governo de Campos Salles, que se tornaria presidente mais tarde.

PREFEITOS DE SP

  • Série de reportagens apresenta histórias e perfis de alguns dos prefeitos que marcaram época, entre os mais de 50 que comandaram a cidade de São Paulo ao longo do período republicano. A intenção é jogar luz sobre ações do poder público municipal que foram determinantes para o avanço ou para estagnação da capital paulista, além de rememorar momentos relevantes e passagens curiosas das gestões

Dando continuidade a uma estratégia que já tinha sido empregada pelos produtores de café paulistas desde o reinado de dom Pedro 2º, ele estimulou a vinda de imigrantes europeus como mão-de-obra agrícola para o estado. Na década de 1910, atuou ainda como representante de São Paulo em Paris.

Firmiano chegou à prefeitura paulistana graças ao apoio de Washington Luís (outro cacique da República Velha também eleito, mais tarde, para a Presidência), que fez dele seu sucessor no comando da capital.

Seu trabalho como prefeito se caracterizou pelos investimentos em planejamento urbano e infraestrutura, numa cidade que ainda tinha apenas cerca de 700 mil habitantes, sendo a segunda mais populosa do país, só atrás do Rio de Janeiro. Mas estava crescendo rapidamente.

Firmiano de Morais Pinto, prefeito de São Paulo de 1920 até 1926. - Reprodução Wikimedia Commons

Foi durante seus mandatos, por exemplo, que a prefeitura adquiriu o terreno em que seria criado o Cemitério São Paulo. Desmembrou propriedades rurais que dariam origem a bairros como Jardim Europa e Vila Matilde.

Firmiano também foi um dos principais responsáveis pela canalização do rio Tamanduateí, com obras na avenida do Estado e o planejamento para a abertura do que seria a avenida 9 de Julho. Formulou o projeto para a construção do Mercado Municipal e criou a praça do Patriarca.

Os planos urbanísticos de Firmiano, porém, tiveram de ficar de lado a partir da madrugada do dia 5 de julho de 1924, um sábado.

Sob a liderança de um general da reserva do Exército, Isidoro Dias Lopes, e de uma série de jovens oficiais, como Joaquim Távora e Eduardo Gomes, que já tinham se rebelado antes contra o governo da República, militares e policiais revoltosos começaram a tomar o controle da capital.

Os responsáveis pela quartelada, mais tarde classificados como membros do chamado movimento tenentista, consideravam que o governo do presidente Arthur Bernardes era corrupto e ilegítimo, tendo subido ao poder por meio de eleições fraudadas (o que, de fato, tinha acontecido). Os "tenentes" queriam tirar Bernardes da Presidência e instituir uma série de reformas tecnocráticas e democratizantes, entre elas o voto secreto.

Durante alguns dias, combates entre os rebeldes de Dias Lopes e forças legalistas prosseguiram em torno do Palácio dos Campos Elíseos, então sede do governo estadual, e outros locais da cidade. No dia 9 de julho, porém, o governador Carlos de Campos e seus principais assessores resolveram abandonar São Paulo, e o município ficou nas mãos dos "tenentes".

Firmiano, contudo, decidiu permanecer na cidade. Entrou em cena então o presidente da Associação Comercial, José Carlos de Macedo Soares, que ajudou a intermediar negociações entre o prefeito e a chefia do levante. "Devo entender-me com os chefes revoltosos?", teria questionado Firmiano segundo o livro "Tenentes: A Guerra Civil Brasileira", do jornalista Pedro Dória.

No primeiro encontro com o prefeito, o general Dias Lopes manifestou interesse em trabalhar junto com Firmiano. "Venho solicitar a Vossa Excelência a honra de sua colaboração no exercício do cargo", disse o militar golpista.

O prefeito aceitou e emitiu decretos para tentar garantir o policiamento e o abastecimento da cidade já perto de ficar sob sítio, e na qual já começavam a ocorrer saques.

O caráter contemporizador de Firmiano, no entanto, não contava com a intransigência militar do governo federal. O presidente Arthur Bernardes e seus generais estavam dispostos a bombardear São Paulo, sem poupar a população civil, para forçar a rendição dos rebeldes.

Pedidos de trégua enviados pelo prefeito e pelo arcebispo de São Paulo, dom Duarte Leopoldo, foram rechaçados diversas vezes. Firmiano chegou a viajar para o Rio em 24 de julho para tentar uma saída negociada, mas voltou de mãos abanando, segundo o livro "São Paulo Deve Ser Destruída", do jornalista e historiador Moacir Assunção.

O levante terminou na noite do dia 27, com a retirada dos revoltosos em trens que saíram da Estação da Luz. Mais de 500 moradores tinham morrido.

Depois de se livrar das acusações de colaboracionismo, Firmiano voltou a se eleger deputado federal duas vezes, mas não tomou posse na segunda eleição por causa do golpe que levou Getúlio Vargas à Presidência em 1930. Morreu na capital aos 77 anos.

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