Era um domingo, 9 de outubro de 1921. O Rio de Janeiro amanheceu, e as edições do jornal Correio da Manhã corriam de mão em mão para satisfazer a grande curiosidade dos leitores.
O motivo de tamanho interesse dos cariocas era a publicação de uma carta atribuída a Arthur Bernardes, governador de Minas Gerais e candidato à Presidência.
Na correspondência publicada pelo jornal, os militares foram chamados de “generais anarquizadores”. Hermes da Fonseca, pré-candidato ao governo, era tratado como “sargentão sem compostura”.
Houve ainda uma outra carta atribuída a Bernardes, publicada logo em seguida. Desta vez, chamavam a atenção ataques duros a Nilo Peçanha, que também concorria ao cargo. Ele aparecia na carta como um “moleque capaz de tudo”.
As correspondências eram falsas e buscavam prejudicar Bernardes. Mas a farsa só veio à tona no final de março de 1922, semanas depois da eleição presidencial.
Ainda assim, Bernardes foi eleito, graças ao apoio efetivo das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Àquela altura, a “política do café com leite ”expunha sinais de decadência, mas restava a ela força suficiente para fazer o presidente.
Bernardes é o tema do décimo volume da Coleção Folha - A República Brasileira. Escrito pelo historiador Pietro Sant’Anna, o livro chega às bancas no próximo domingo, dia 17 de novembro.
Nascido em Viçosa (MG) em 1875, o advogado Arthur da Silva Bernardes ocupou o Palácio do Catete a partir de 15 de novembro de 1922.
Assim como os presidentes que o antecederam, ele ganhou diversos apelidos da população e da imprensa satírica. Uma dessas alcunhas foi “presidente do sítio”.
O Brasil esteve na maior parte dos quatro anos de mandato de Bernardes sob estado de sítio, uma situação em que os direitos se tornam mais restritos e o presidente acumula novos poderes.
Na visão de Bernardes, muito rigor era indispensável para derrotar as insurreições que se alastravam pelo país.
Ao longo da década de 1920, o país acompanhou a consolidação do tenentismo, movimento de jovens oficiais insatisfeitos com a situação política. Em algumas das principais cidades brasileiras, rebeliões militares desafiavam o poder do mandatário mineiro.
“O impopular 12º presidente precisou dobrar a ordem democrática até o limite, conduzindo um dos governos mais autoritários e repressores de toda a Primeira República”, escreve Sant’Anna, autor deste novo volume da coleção.
Em 5 de julho de 1924, em São Paulo, cerca de mil soldados liderados pelo general Isidoro Dias Lopes —indignados com a crise econômica e com ações do governo federal—se mobilizaram para tomar o poder no estado.
O levante tenentista, que passou a ser chamado de Revolução de 1924, recebeu uma duríssima resposta de Bernardes. Aviões das tropas governistas bombardearam bairros paulistanos, como Mooca, Brás e Perdizes. Joaquim Távora, que dá nome a uma rua da Vila Mariana (outro bairro atacado), estava entre os tenentes que morreram nos combates pela cidade.
O presidente também promoveu uma série de intervenções. O Rio de Janeiro, a Bahia e o Rio Grande do Sul foram alguns dos estados afetados.
Em relação aos líderes do tenentismo e aos governadores da oposição, a truculência de Bernardes prevaleceu. Diante das agitações operárias, porém, o presidente demonstrou muito mais tato político.
O livro de autoria de Pietro Sant’Anna destaca, por exemplo, as medidas de combate ao trabalho infantil e a criação da primeira rede de assistência a vítimas de acidentes de trabalho. Houve ainda o decreto que obrigou as empresas a conceder 15 dias de férias remuneradas.
Bernardes também obteve conquistas na economia, como a redução da inflação.
No entanto, esses avanços não foram suficientes para dar novo fôlego à Primeira República. O poder político das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais estava seriamente ameaçado.
Bernardes deixou o Palácio do Catete em novembro de 1926, dando lugar a Washington Luís. Quatro anos depois, o país passaria por uma reviravolta expressiva com a ascensão de Getúlio Vargas. Como gaúcho, o tenentismo, enfim, alcançava o poder.
Com 28 volumes, que acompanham os 130 anos da República, de Deodoro da Fonseca a Jair Bolsonaro, a Coleção Folha é coordenada pelo jornalista Oscar Pilagallo, autor de livros como “História da Imprensa Paulista” (Três Estrelas) e “O Brasil em Sobressalto”(Publifolha).
Como comprar?
Os volumes podem ser comprados pelo telefone, pelo site, em bancas ou em livrarias:
folha.com.br/republica; tels. (11) 3224-3090 (na Grande SP) e 0800-775-8080 (outras localidades)
A cada semana um novo volume chega às bancas. A venda não é restrita aos assinantes da Folha.
Quanto custa?
Cada volume custa R$ 21,90 nos estados de SP, RJ, MG e PR. Para os demais estados, os valores estão disponíveis no site.
Na compra do primeiro volume, o segundo é gratuito.
Para a compra da coleção completa (28 livros), assinantes da Folha ou do UOL pagam R$ 591,30 (nesse caso, 4 livros são gratuitos).
Para os não assinantes, R$ 591,30 (frete gratuito para SP, RJ, MG e PR). Nos demais estados, os valores estão disponíveis no site.
Na compra da coleção completa, é possível parcelar em até 10 vezes no cartão de crédito.
A coleção também é vendida em lotes de 7 livros cada um ou volumes individuais.
Veja todos os títulos
- A História da República, de Oscar Pilagallo
- Deodoro da Fonseca, de Pietro Sant’Anna
- Floriano Peixoto, de Pietro Sant’Anna
- Prudente de Moraes e Campos Salles, de Márcia Juliana Santos
- Rodrigues Alves, de Fernando Mello
- Afonso Pena e Nilo Peçanha, de Pietro Sant’Anna
- Hermes da Fonseca, de Pietro Sant’Anna
- Wenceslau Braz e Delfim Moreira, de Fernando Mello
- Epitácio Pessoa, de Fernando Mello
- Arthur Bernardes, de Pietro Sant’Anna
- Washington Luís, de Pietro Sant’Anna
- Getúlio Vargas e Eurico Dutra, de Lira Neto
- Café Filho, de Fábio Koifman
- JK, de Pietro Sant’Anna
- Jânio Quadros, de Eliane Lobato
- João Goulart, de Eliane Lobato
- Castello Branco, de Eliane Lobato
- Costa e Silva e Junta Militar, de Pietro Sant’Anna
- Emilio Médici, de Dirceu F. Ferreira
- Ernesto Geisel, de Dirceu F. Ferreira
- João Figueiredo, de Pietro Sant’Anna
- José Sarney e Tancredo Neves, de Fernando Mello
- Fernando Collor, de Fernando Mello
- Itamar Franco, de Dirceu F. Ferreira
- Fernando H. Cardoso, de Dirceu F. Ferreira
- Luiz Inácio Lula da Silva, de Lucas Ferraz
- Dilma Rousseff, de Lucas Ferraz
- Michel Temer e Jair Bolsonaro, de Lucas Ferraz
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.