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Descrição de chapéu Eleições MG Minas Gerais

Mulher e ex-marido se alternam há 24 anos no comando do menor município do país

Serra da Saudade (MG) tem 854 moradores, 1.294 eleitores e dois candidatos nas eleições deste ano

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Artur Búrigo Alexandre Rezende
Serra da Saudade (MG)

Os 854 habitantes de Serra da Saudade (MG), município com a menor população do país de acordo com o IBGE, devem iniciar o próximo ano com um rosto bastante conhecido à frente da prefeitura.

Não é o de Alaôr Machado (PP), 70, prefeito que neste ano vai terminar o seu quinto mandato à frente do município, tendo sido reeleito em 2020. Mas deve ser o da servidora aposentada Neusa Ribeiro (PP), 67, ex-mulher de Alaôr e que foi chefe do Executivo municipal de 2009 a 2016.

Juntos, os dois somam sete mandatos à frente da cidade que fica na região centro-oeste de Minas Gerais, a cerca de 250 km de Belo Horizonte. Desde 2001, eles se revezam à frente do município.

Igreja de Serra da Saudade, município da região Centro-Oeste de Minas Gerais que tem a menor população do país - Folhapress

Neusa aposta que deve ter 1.100 votos dos 1.294 eleitores. Ela diz que Serra da Saudade possui mais eleitores que habitantes por causa de pessoas que nasceram no local, mas moram em cidades próximas e não transferiram o título, ou aquelas que têm fazendas no município e optam por votar lá.

Apesar de concordar que há uma continuidade entre as gestões dela e do ex-marido, a candidata disse que um não interfere na gestão do outro e nem sequer atuam juntos na campanha.

"É uma continuidade, mas tem cada um as suas particularidades. A gente trabalha com um Orçamento muito equilibrado, mas eu sou mais mão fechada", disse a postulante, que reforçou não ter interesse em concorrer a mais um mandato caso seja eleita no atual pleito.

Ela se separou de Alaôr em 2004, mas diz que a relação entre eles, apesar de ser distante, é amistosa.

Neusa Ribeiro, prefeita de 2009 a 2016, quer voltar à gestão de Serra da Saudade - Folhapress

Os moradores com quem a Folha conversou na localidade caracterizam a gestão de Neusa como mais austera. Ela também é conhecida pelas viagens a Belo Horizonte e Brasília em busca de emendas parlamentares com recursos a serem investidos na cidade.

A administração de seu ex-marido, por outro lado, é mais voltada a eventos no município, com promoções de festas, como a de Nossa Senhora do Rosário.

A celebração, que acontece sempre em setembro, atrai a população de municípios vizinhos e é caracterizada pelos ternos de congados. São grupos religiosos afro-brasileiros que se manifestam por meio da dança, canto e encenações.

Alaôr não quis falar com a reportagem.

Quem ajuda a garantir a continuidade entre as duas gestões é Marcelo Machado, 43, filho de Alaôr e Neusa, funcionário concursado do município há 20 anos, e que hoje ocupa a função de controlador interno da prefeitura.

Considerado na cidade como sucessor natural dos pais à frente do município, ele negou o interesse de ser candidato. A Folha apurou que muitos assuntos do dia a dia da prefeitura são lidados por ele, que é formado em direito.

Os habitantes de Serra, como os moradores se referem ao município, caracterizam os serviços de saúde prestados pela prefeitura como o grande acerto das últimas gestões. A cidade possui posto de saúde, mas em casos mais complexos a prefeitura leva o paciente até o hospital mais próximo. Medicamentos também são pagos pela gestão municipal.

Com um território de 335,6 km², Serra da Saudade tem uma área maior que a da capital mineira (331,3 km²) e possui uma das menores densidades demográficas do país, com 2,48 habitante por metro quadrado.

A maior parte da população reside na área rural, região em que predomina a pecuária bovina de corte e leite. No ambiente urbano, a estimativa da prefeitura é a de que existam cerca de 400 pessoas, sendo que 150 delas trabalham na administração municipal.

Essa é uma das razões apontadas por Derli Donizete (Avante), 70, agricultor que concorre pela terceira vez consecutiva ao cargo de prefeito, para a reportagem não ter encontrado um eleitor que falasse abertamente que votará nele.

Em 2020, quando a Folha também visitou a cidade, encontrou apenas um eleitor declarado de Derli. Era o seu sogro, Euclides Martins, hoje com 90. De 2020 para cá ele parou de fumar e ganhou uns quilos, mas disse que, nesta eleição, não irá votar.

Euclides Martins, sogro do candidato Derli Donizete, em 2020 e 2024

Em 2020, idoso era o único eleitor declarado de Derli; hoje, com 90, diz que não pretende ir votar - Alexandre Rezende/Folhapress

Derli espera ter um resultado melhor que na última eleição, quando recebeu 99 votos –o vencedor foi Alaôr, com 864.

"Eles [adversários] dominam o município, deixam o povo com medo. Vou ser sincero, se você for perguntar para quem vai votar em mim, ninguém vai falar nada, mas acho que vou ter uma votação boa", disse.

Quando informado pela reportagem de que a adversária planeja receber mais de mil votos, Derli duvidou da projeção. "Vamos deixar para rir por último, né?", comentou.

Apesar das críticas, o agricultor afirma manter uma boa relação com Neusa e Alaôr, de quem foi vice-prefeito de 2005 a 2008.

Neusa também falou que a relação entre ela e o concorrente Derli é saudável. O filho Marcelo negou que a prefeitura faça algum tipo de perseguição contra eleitores de adversários.

"A gente administra a cidade com pouco [recurso], não importa em quem fulano votou, a relação com Derli é boa, ele é uma boa pessoa", disse o controlador da prefeitura.

Derli Donizete, que tenta pela terceira vez consecutiva chegar à Prefeitura de Serra da Saudade - Folhapress

Quem visita a localidade e não conhece seu dia a dia, pode imaginar que há apenas uma candidata à eleição deste ano.

Ela aparece nos adesivos colados nos carros que transitam e que estão estacionados nas ruas do município. Entre materiais de campanha e outras despesas, a campanha de Neusa prevê gastar cerca de R$ 30 mil neste ano, disse o filho dela, Marcelo.

Já Derli prefere uma campanha mais direta. Seu carro não tem adesivo com seu número e nome, já que o candidato não produziu esse material de campanha. Os R$ 980 que ele afirma ter tirado do bolso foram para imprimir 3.000 santinhos e 500 folders, com suas propostas. Os serviços de advogado e contador são prestados por amigos de cidades vizinhas, ele afirma.

A chapa de Derli não possui vereador. Todos os 18 candidatos à Câmara Municipal são do PP e Podemos, partidos aliados de Neusa. Dos atuais nove vereadores, apenas Branco (PP) não tentará a reeleição por ser candidato a vice na chapa da ex-prefeita.

O mais longevo é Geraldo Fiuza, o Gê (PP), que pretende conquistar o oitavo mandato. Ele afirma que em um município pequeno como Serra da Saudade o peso de ter uma família grande é significativo, mas vem perdendo importância com o passar do tempo.

"Antes, as famílias votavam mais unidas, hoje nem tanto. Elas estão muito divididas, acho que pesa a questão da inveja", afirma.

Vereador Geraldo Fiuza (Gê), o mais longevo no município, tenta chegar à Câmara Municipal pela oitava vez - Folhapress

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