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Ambiência - Ana Carolina Amaral
Ana Carolina Amaral

'Ladainha de promessas quebradas', diz Guterres sobre estudo da ONU

Secretário-geral da ONU afirmou que governos e empresas mentem sobre ações climáticas

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São Paulo

A frase poderia tipicamente sair da boca da ativista Greta Thunberg, de campanhas ambientalistas ou de marchas pelo clima nas ruas, mas foi dita pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

"Este relatório é uma ladainha de promessas climáticas quebradas", afirmou Guterres em um vídeo exibido no lançamento do novo relatório do painel do clima da ONU, nesta segunda-feira (4).

O estudo revela que o mundo diminuiu as chances de limitar o aquecimento global em até 1,5ºC e que os anúncios de políticas feitas pelos governos até 2020 nos levam a um cenário de 3,2ºC até o fim do século, com efeitos catastróficos que vão de eventos extremos até inseguranças alimentar e hídrica.

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Secretário-geral da ONU, Antonio Guterres discursa para repórteres na sede da ONU em Nova York. - (Loey Felipe/Nações Unidas)

"Alguns líderes governamentais e empresariais estão dizendo uma coisa, mas fazendo outra. Simplificando, eles estão mentindo", afirmou Guterres.

"Governos e corporações de alta emissão não estão apenas fechando os olhos; eles estão adicionando combustível às chamas. Estão sufocando nosso planeta, com base em seus interesses e investimentos históricos em combustíveis fósseis, quando soluções mais baratas e renováveis ​​proporcionam empregos verdes, segurança energética e maior estabilidade de preços", diz em vídeo o secretário-geral da ONU.

Ele se refere a revelações do relatório sobre o barateamento das energias renováveis na última década - a energia solar, por exemplo, passou a custar 85% menos e sua implementação aumentou em 10 vezes globalmente entre 2010 e 2019.

O relatório da ONU também mostra que a demanda por serviços como transporte e infraestrutura oferece chances de reduzir as emissões de 40% a 70% até 2050, em comparação com a projeção baseada nos compromissos atuais dos governos.

A impaciência também marcou o tom de repercussões entre representantes de governos da chamada Coalizão de Alta Ambição, que pressiona por metas nacionais mais altas no Acordo de Paris.

"Precisamos de mais quantos relatórios antes de realmente fazermos o que dissemos que faríamos?", declarou a enviada especial de clima das Ilhas Marshall, Tina Stege.

"A expansão das emissões de gases de efeito-estufa está minando os direitos humanos e ambientais fundamentais dos mais vulneráveis ​​do mundo, inclusive aqui nas Ilhas do Pacífico", afirmou o ministro de Relações Exteriores de Vanuatu, Hon Marc Ati.

Também membros da Coalizão, os europeus manifestaram a necessidade de aumentar as metas climáticas - as chamadas NDCs, sigla em inglês para contribuições nacionais determinadas.

"Os países precisam alinhar suas NDCs com a meta de 1,5°C antes da próxima COP no Egito [no fim deste ano]", afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans.

"O relatório do nos fornece uma compreensão mais clara sobre o que fazer para ter sucesso – por exemplo, apresentar políticas em todos os setores, acelerar a eliminação de combustíveis fósseis e subsídios prejudiciais, colocar preço do carbono e muito mais", diz a ministra de Clima e Ambiente da Suécia, Annika Strandhäll.

Apesar do alerta de emergência climática, as soluções estão ao nosso alcance, destaca a organização dedicada a pesquisas ambientais WRI (World Resources Institute).

"Devemos descarbonizar a geração de eletricidade, a indústria, o transporte e os edifícios, ao mesmo tempo em que interrompemos e revertemos o desmatamento. Devemos investir em inovação enquanto fechamos a lacuna de financiamento climático. Devemos melhorar as práticas agrícolas, reduzindo a perda e o desperdício de alimentos e mudando para dietas mais sustentáveis. E devemos parar de investir em novas infraestruturas de combustíveis fósseis, enquanto aumentamos a remoção de carbono", afirmou Ani Dasgupta, presidente do WRI.

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