Andanças na metrópole

As camadas de história encobertas em construções, ruínas e paisagens

Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga

Cemitério em Parelheiros é o mais antigo de São Paulo

Necrópole foi aberta em 1829 por colonizadores alemães que chegaram na região

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São Paulo

Embora o bairro não fizesse parte de São Paulo no século 19, mas sim de Santo Amaro, Parelheiros abriga hoje a mais antiga necrópole em funcionamento na capital. É o Cemitério de Colônia, que foi aberto em 1829 por imigrantes de origem germânica que chegaram na região naquele mesmo ano.

A maioria era alemã, mas também havia suíços e austríacos. Eles vieram ao local para estabelecer uma colônia agrícola e extrativista incentivados pela política de povoamento do governo imperial de Dom Pedro I. A área do cemitério teria sido cedida, inclusive, pelo próprio imperador.

Os alemães que vieram para Parelheiros chegaram com promessas de trabalho. Muitos se dedicavam à extração de madeira fornecida para serrarias de Santo Amaro e transformada em móveis e materiais de construção.

Cemitério de Colônia
Entrada principal do Cemitério de Colônia, em Parelheiros - Vicente Vilardaga

Foram enviadas para Parelheiros, para colonizar a região – que já tinha uma população indígena e de descendentes de portugueses – 94 famílias ao todo, algumas protestantes e outras católicas. Eram cerca de 300 pessoas e o Cemitério da Colônia foi dividido para receber os dois grupos religiosos. Os túmulos dos católicos recebiam cruzes e os dos protestantes eram desprovidos de símbolos.

Uma das curiosidades do lugar são, justamente, as cruzes de ferro que não estão mais sobre as sepulturas, salvo algumas exceções, mas expostas enfileiradas numa das paredes laterais da necrópole. As cruzes teriam sido forjadas na Real Fábrica de Ferro Ipanema, criada em 1810 por Dom João VI em Iperó, perto de Sorocaba, no interior de São Paulo. A Ipanema inaugurou a metalurgia industrial no Brasil.

A primeira necrópole da cidade de que se tem notícia é o Cemitério dos Aflitos, na Liberdade, aberto em 1775, em torno de onde está a Capela dos Aflitos. Era destinado à população pobre da região e também a escravizados, indigentes e enforcados. É mais antiga que a de Colônia, mas funcionou só até 1858, quando foi inaugurado o Cemitério da Consolação. Um ano antes havia sido criado o Cemitério de Santo Amaro, que foi município até 1935.

Cemitério de Colônia
Grupo de alemães no começo do século 20 no portão principal do Cemitério de Colônia - Acervo do Cemitério de Colônia

Não é coincidência o surgimento de cemitérios a partir de meados do século 19, mas fruto de uma política higienista promovida na Europa para evitar a propagação de enfermidades nos espaços urbanos.

No período colonial, as pessoas eram, em geral, enterradas sob o piso, nas paredes ou ao lado das igrejas para ficarem mais perto de Deus e do Paraíso. Mas essa prática foi abolida.

A mudança no procedimento funerário e a secularização da morte não aconteceram só no Brasil, mas em outras partes do mundo, onde também os corpos passaram a ser sepultados em áreas abertas e públicas, Algumas grupos religiosos, como os judeus e os protestantes passaram a criar seus próprios cemitérios.

Cemitério de Colônia
Via principal do Cemitério de Colônia com a capela ao fundo - Vicente Vilardaga

O Cemitério de Colônia possui cerca de duas centenas de túmulos e uma pequena capela. Durante a Segunda Guerra Mundial ficou fechado, mas voltou a funcionar até 1996, quando foi completamente desativado.

O administrador da necrópole, André Barboza, conta que em só em 2000 começaram as obras de restauração e de criação de novas áreas de sepultamento. Em 2001 sua reabertura foi autorizada. Ganhou dois níveis acima da parte histórica, que é tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo (Conpresp). Os enterros atuais acontecem nos níveis superiores, que têm atividade regular e recebem a população em geral.

A importância da presença germânica está marcada no próprio nome do bairro, Parelheiros, que vem das parelhas, corridas de cavalo em que os estrangeiros competiam com os brasileiros. Há também uma festa anual alemã na localidade, a Colônia Fest. Mas hoje restam raros descendentes daquele grupo que chegou no começo do século 19. A região passou a receber como moradores muitos imigrantes nordestinos e japoneses. O próprio nome da rua onde se localiza o Cemitério de Colônia é Sachio Nakao, de origem nipônica.

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