Jairo Marques

Assim como você

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Jairo Marques
Descrição de chapéu pessoa com deficiência

Enfrentamentos com grupos diversos só vão aumentar

O processo de libertação de pessoas com deficiência traz consigo o que parte da sociedade entende como desafio para lidar

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Toda semana estão bombando nas redes sociais imagens de pessoas com deficiência tomando surra, sendo distratadas ou penando com atitudes capacitistas quando se atrevem a ter vida social. São autistas achincalhados, pessoas com síndrome de Down ridicularizadas e cadeirantes e quebrados em geral passando apertos em situações cotidianas, coisas simples, mania de querer viver.

O processo de libertação de grupos sociais diversos, que envolve também um tardio e lento desconfinamento dos que tem diferenças físicas, sensoriais e intelectuais, traz consigo o que parte da sociedade entende como "desafio para lidar", o que tem como suprassumo os enfrentamentos.

Dia desses um amigo veio me dizer que há recorde de alunos com autismo nas escolas públicas e que isso tem gerado questões complexas dentro das salas de aula, com professores estressados, episódios de violência e interrogações a respeito de resultados pedagógicos.

Pensei com ele: "imagine você quantas foram as gerações de crianças atípicas que ficaram soterradas dentro de casa, sendo consideradas problemas das famílias, e se tornaram adultos com pouquíssimas chances de experimentar alguma autonomia na vida? Que ótimo é termos, agora, uma geração que pode estar na escola. Que bom poder haver mais espaço para as pessoas."

Sala escurecida com almofadões e uma coluna de água e ar ao fundo, com iluminações projetadas no teto e nas paredes
Sala multissensorial do aeroporto de Florianópolis com iluminação especial - Divulgação

É claro que não é possível entuchar no professor a obrigação de, sozinho, conter crises de um estudante com demandas terapêuticas, médicas ou de fármacos. Também acho açodado queimar em praça pública uma atendente de loja que, supostamente, tratou de maneira equivocada um cliente que ela considera fora da casinha.

Mas omissões institucionais diante do avanço do alcance da diversidade e da inclusão vão sempre ser as que determinaram o nível dos enroscos. Não existem manuais para "serumano", mas existem saudáveis conscientizações a respeito de pluralidade de ser, sobre demandas das diferenças, sobre formas ainda pouco populares de se manifestar no mundo.

Estão diminuindo, por exemplo, as queixas de quem impede cegos com cães-guia de acessarem onde bem entenderem. Para isso, muito cachorro e tutores levaram portadas na cara. A mudança só começou a acontecer com engajamento organizado no sentido de aprendizado de leis e de direitos, com uma dose de conceitos de tolerância, respeito e cidadania.

Não isento responsabilidades pessoais preconceituosas, capacitistas e agressivas, que são passiveis de penalidade, cancelamentos e ardidas reações públicas. Só não se pode se entreter no micro, esquecendo de ações coletivas.

Do lado de cá, do povo das catacumbas, a opressão por não seguir protocolos de funcionamento da cachola, de aparência física, de habilidade de ver e ouvir tem cada vez menos relevância e somos convictos de que os espaços não podem e não vão ser somente dos que se acham totalmente ungidos de normalidades.

Ainda temos uma enorme dificuldade de sermos amparados, ouvidos e entendidos, mas estamos fazendo a lição de casa: nossas mães e famílias esperneiam contra nossas injustiças, nossos amigos nos carregam nos braços, nossos conhecidos empunham nossas bandeiras e nossos "seguidores" dão eco a nossas convicções. Os enfrentamentos só vão aumentar.

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