Jairo Marques

Assim como você

Jairo Marques - Jairo Marques
Jairo Marques

Qual é o brilho digno para as Paralimpíadas?

A mídia segue o movimento da própria sociedade e acompanha seus avanços e algumas letargias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A pergunta que mais recebo nesses tempos paralímpicos é por qual razão os Jogos voltados às pessoas com deficiência têm o que se considera tão pouco destaque midiático, menos repercussão em vitrines informativas e tímidos apelos nas publicidades.

O futebol de cegos do Brasil, por exemplo, precisou ganhar cinco edições paralímpicas de forma invicta para ter uma transmissão ao vivo por uma grande rede de TV. Foram necessários vinte e quatro anos de espera e a partida ungida ainda teve de ser contra o arquirrival futebolístico nacional, a Argentina.

A imagem mostra um atleta vestindo uma camisa amarela com o número 7 estampado, representando o Brasil. O jogador está usando uma venda nos olhos e joga futebol de cegos. Ao fundo, a imagem está um pouco desfocada, com um público assistindo ao evento
Jeferson da Conceicao, o Jefinho, jogador da seleção brasileira de futebol de cegos - Franck Fife/AFP

O comportamento menos engajado de meios de comunicação diante das paralimpíadas não é exclusivamente brasileiro. Com exceção da Inglaterra, que desde a edição de Londres, em 2012, com forte adesão popular, criou grande sintonia com o megaevento esportivo, as competições não costumam ter eco que se aproxime minimamente das Olimpíadas.

Com absoluta certeza é possível dizer que ninguém delibera uma invisibilidade dos Jogos. Não existe um ser maldoso que manda boicotar por não curtir o povo que não anda, não vê, não escuta ou é meio trelelé.

A mídia segue o movimento da própria sociedade e acompanha seus avanços e algumas letargias. A inclusão e a diversidade, como se bem sabe, ainda são processos lentos, nem sempre compreendidos, ainda questionados e em curso lento de concretização de seus anseios.

Há uma energia nova para os atletas e para os eventos paralímpicos vinda das redes sociais, que dão lá suas derrapadas com repetições de ideias e formatos, erros de informação e quase nenhuma massa crítica, mas não deixa de ser algo que pressione por mudanças, que cause reflexões e tomadas de decisão.

Mas a ocupação de lugares por pessoas com deficiência precisa acontecer não a cada quatro anos em edições épicas de festa, medalhas e emoções. Elas precisam ser frequentemente questionadas também nos lugares onde o leitor destas linhas –que, puxando a sardinha para o meu ganha pão, estão contínuas na edição francesa paralímpica-- passeia, estuda, trabalha, habita, se diverte, compra, vende, almoça, janta, brinca, ganha e perde.

Ah, sim, os cegos do futebol paralímpico, numa partida extremamente emocionante, perderam a invencibilidade para os hermanos e não terão o hexacampeonato paralímpico. Perder, não atingir, expectativas na hora do ápice, chorar por não ter conquistado algo também é da pessoa com deficiência, do humano.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.