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Baú do Cinema - Hanuska Bertoia
Hanuska Bertoia

'Casablanca' completa 80 anos; veja curiosidades sobre o clássico

Longa com a 2ª Guerra Mundial como pano de fundo foi lançado durante o conflito

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Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em 'Casablanca', clássico do cinema que completou 80 anos - Reuters/Ampas/Handout

‘Casablanca’, um dos maiores clássicos do cinema, completou 80 anos em novembro. A première da história de amor entre o cínico Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa Lund (Ingrid Bergman), com a Segunda Guerra Mundial de pano de fundo, ocorreu em Nova York, no Hollywood Theatre, no dia 26 de novembro de 1942. No Brasil, o longa estreou quase um ano depois, em 17 de setembro de 1943.

Filmado durante o conflito mundial, o longa integra uma série de obras que, além de entretenimento, foram usadas como propaganda de guerra pelos EUA. Confira a seguir curiosidades sobre o filme e onde assistir ao clássico (os preços e a disponibilidade foram pesquisados no dia 20 de dezembro).

ONDE VER
HBO Max e Old Flix: para assinantes
Apple TV e Google Play: R$ 7,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)
Microsoft Store: R$ 5,90 (aluguel) e R$ 19,90 (compra)
Amazon: R$ 7,90 (aluguel)

A conexão com a Segunda Guerra Mundial

A estratégia de divulgação do filme também usou a Segunda Guerra Mundial como chamariz de público. A première aconteceu logo após a Operação Tocha, desembarque aliado no norte da África e a retomada de territórios que estavam sob o controle dos países do Eixo, entre eles a cidade de Casablanca, no Marrocos.

O lançamento nos cinemas dos Estados Unidos aconteceu em 23 de janeiro de 1943, coincidindo com a Conferência de Casablanca, encontro realizado de 14 a 24 de janeiro que reuniu o então primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, o presidente norte-americano, Franklin D. Roosevelt, e o general De Gaulle, líder da resistência fora da França, para discutir as próximas próximas ações dos aliados.

Muitos dos atores do filme tiveram experiências na Segunda Guerra. Alguns eram refugiados, vindos da Europa para escapar dos horrores do nazismo. O húngaro S. Z. Sakall, por exemplo, que interpreta o garçom Carl, havia perdido três irmãs em um campo de concentração.

Os roteiristas

A história de ‘Casablanca’ foi baseada na peça ‘Everybody Comes to Rick’s’ ('Todos Vão ao Rick's', em tradução livre), de Murray Burnett and Joan Alison. Feita para Broadway, nunca chegou a ser encenada. A Warner comprou os direitos do texto por US$ 20 mil, um valor relativamente alto para a época (o estúdio havia pago US$ 8.000 por ‘O Falcão Maltês’).

A peça foi adaptada para o cinema por Julius e Phlip Epstein, conhecidos como os irmãos Epstein, e Howard Koch. Os três ganharam o Oscar de melhor roteiro pelo filme em 1944.

Gêmeos, os Epstein trabalhavam em dupla desde 1939 e eram conhecidos pela habilidade em escrever bons diálogos. Em ‘Casablanca’, vários ficaram famosos: ‘Nós sempre teremos Paris’ e ‘É o começo de uma bela amizade' são algumas das frases famosas.

Entre outros roteiros feitos a quatro mãos pelos irmãos estão os de ‘Este Mundo é um Hospício’ (1944), de Frank Capra, e ‘A Última Vez Que Vi Paris’ (1954), com Elizabeth Taylor. Philip morreu em 1952, aos 42 anos, de câncer. Julius tentou novas colaborações, mas não conseguiu mais trabalhar em dupla. Tentou até com Billy Wilder, sem sucesso.

O diretor Michael Curtiz recebe o Oscar de melhor direção por 'Casablanca'

O diretor, um imigrante em Hollywood

Michael Curtiz já era um nome estabelecido em Hollywood quando dirigiu ‘Casablanca’. Como muitos cineastas da era de ouro do cinema americano, Curtiz era um imigrante. Húngaro, começou sua carreira no país natal, onde dirigiu dezenas de filmes, muitos ainda na era do cinema mudo.

Curtiz foi para Hollywood no final da década de 1920. O primeiro filme que assinou nos Estados Unidos foi ‘O Terceiro Degrau’ (1926), produzido pela Warner. Depois, seguiram-se títulos como ‘A Pequena Ditadora’ (1933), ‘O Capitão Blood’ (1935) e ‘As Aventuras de Robin Hood’, os dois últimos com Olivia de Havilland e Errol Flynn. O diretor foi indicado ao Oscar cinco vezes, e venceu uma, justamente com ‘Casablanca’.

Dooley Wilson como o pianista Sam em 'Casablanca'
O ator Dooley Wilson como o pianista Sam em 'Casablanca' (1942) - Divulgação

'As Time Goes By' quase fica de fora

A música que representa 'Casablanca' quase foi cortada do filme. A canção fazia parte da peça original, comprada pela Warner. Após as filmagens, cogitou-se tirar a música do longa, em uma decisão que seria do estúdio ou do compositor Max Steiner, responsável pela trilha sonora de 'Casablanca'.

Mas surgiu um problema. Ingrid Bergman não poderia refilmar as cenas sem a música, pois havia cortado o cabelo para seu próximo trabalho, 'Por Quem os Sinos Dobram'.

Assim, 'As Time Goes By' foi mantida, e após a estreia do filme ficou 21 semanas na parada de sucesso norte-americana. Em lista do American Film Institute, a canção figura como a segunda mais importante da história do cinema dos EUA, perdendo apenas para 'Over the Rainbow', de 'O Mágico de Oz' (1939).

Rodando ‘Casablanca’

As filmagens de ‘Casablanca’ foram rápidas, entre maio e agosto de 1942. Quase todas as tomadas aconteceram nos estúdios da Warner em Los Angeles. A única locação utilizada foi o aeroporto Van Nuys Airport, demolido em 2007. Nele foi filmada a primeira sequência do longa.

A despedida de Rick e Ilsa foi rodada em estúdio, e para isso uma réplica em menor escala de um avião foi construída. Uma segunda unidade de filmagem fez imagens de aviões no aeroporto, para serem acrescentadas na montagem. Parte deste trabalho teve de ser feito de dia, por questões de segurança. Em razão da Segunda Guerra, o aeroporto estava sob controle das Forças Armadas norte-americanas

Equipe de imigrantes

Assim como Curtis, boa parte da equipe de filmagem e do elenco de ‘Casablanca’ era formada por profissionais de fora dos EUA.

Entre os atores principais, Ingrid Bergman era sueca e Paul Henreid, que interpretou Victor Laszlo, nasceu em Trieste quando a região italiana estava sob domínio do Império Austro-Húngaro. Claude Rains, o capitão Louis, era inglês.

Ainda integravam o elenco o austro-húngaro Peter Lorre e o alemão Conrad Veidt. Na equipe, o compositor Max Steiner era da Áustria, o diretor de arte Carl Jules Weyl, alemão, e o montador Owen Marks, inglês.

A contribuição dos imigrantes europeus, não só para ‘Casablanca’, mas para toda a história de Hollywood, vai fazer parte da exposição sobre o filme programada para 2023 pelo Academy Museum, o Museu do Oscar, em Los Angeles. A mostra também contará com o objetos dos personagens e cenários do clássico.

A atriz Madeleine Lebeau como Yvonne, na cena de 'Casablanca' em que a Marselhesa é cantada
A atriz Madeleine Lebeau como Yvonne, na cena de 'Casablanca' em que a Marselhesa é cantada - Divulgação

O rosto da Resistência Francesa

A sequência em que Victor Laszlo pede à orquestra do Rick's Café para tocar a Marselhesa, o hino francês, para se sobrepor a uma canção dos oficiais nazistas, emocionou muitos atores, ultrapassando os limites da encenação.

Francesa, Madeleine Lebeau, que interpretava Yvonne, cantou o hino com força e às lágrimas e gritou 'Viva a França' e 'Viva a democracia'. Em 2016, quando a atriz morreu, a então ministra da Cultura francesa, Audrey Azoulay, afirmou: "Ela será para sempre o rosto da Resistência Francesa".

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado, Claude Rains era inglês, e não francês.

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