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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu violência

Onda de roubos assusta frequentadores das ciclovias do rio Pinheiros, em SP

Governo paulista afirma que a polícia está trabalhando para identificar os criminosos

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Desde que foi assaltada na ciclovia do rio Pinheiros, há cerca de dois meses, a gerente de produtos Dayana Satiko Gondo, 25, ficou traumatizada e parou de pedalar nas ruas de São Paulo.

O assalto aconteceu em uma tarde de domingo, na passarela que liga a ciclovia ao Parque do Povo (zona sul da capital), e faz parte de uma onda de ataques contra ciclistas que está amedrontando os frequentadores dos parques cicloviários que margeiam o rio Pinheiros (ciclovia Franco Montoro, na margem leste, e ciclovia do Parque Linear Bruno Covas, na margem oeste).

Ciclovia do Parque Linear Bruno Covas, na margem oeste do rio Pinheiros - Caio Guatelli

"Estava saindo da ciclovia pela passarela do Parque do Povo quando vi dois homens, um de bike e outro a pé. Na hora percebi o perigo e tentei pedalar mais rápido, mas um deles entrou na minha frente com tudo. Derrapei, caí e machuquei o braço. Antes que eu levantasse, o outro cara me pegou pelo pescoço e foi arrancando tudo: capacete, colar, relógio, fone de ouvido, celular e, obviamente, a bike. Foi tudo muito rápido", disse Dayana ao descrever o assalto que, além dos traumas físicos e emocionais, deixou um prejuízo de R$ 20 mil.

"O que fica é o medo de pedalar novamente em São Paulo, me sinto extremamente vulnerável", disse ao justificar a mudança na rotina de exercícios para uma bicicleta ergométrica, na academia.

Assaltos a ciclistas não são novidade nas margens do rio Pinheiros. Em 2015, pouco tempo depois da implantação da ciclovia na margem oeste, 16 ciclistas tiveram suas bicicletas roubadas em um único dia. O perigo de circular na região, e o formato longilíneo da estrutura, fez com que aquela ciclovia fosse chamada de "Faixa de Gaza" até meados de 2022, quando o local foi revitalizado e transformado no Parque Linear Bruno Covas. Com asfalto novo e ronda policial em bicicletas, a estrutura voltou a ser rota frequente de ciclistas e trabalhadores.

Mulher pedala com roupa de frio
Ciclista atravessa a passarela que conecta a ciclovia do rio Pinheiros ao Parque do Povo, onde criminosos têm roubado bicicletas - Caio Guatelli

Contudo, já no primeiro ano de implantação do parque, os assaltos começaram a se repetir mesmo com a ronda policial. Em novembro de 2023, o roubo de uma bicicleta avaliada em R$ 75 mil repercutiu entre os frequentadores do parque e virou tema do noticiário policial. "Dois caras me abordaram e fizeram eu parar a bicicleta […] mandaram eu descer e saíram pedalando", disse assustada a ciclista profissional Gisele Gasparotto em um vídeo gravado por ela mesma minutos após o assalto. Posteriormente, em outro vídeo, Gisele afirmou conhecer muitos outros casos de assalto no mesmo local.

Também em 2023, a designer Flavia Rymer, 60, foi atacada por dois homens quando acessava pedalando a entrada sul do parque. "Eles me derrubaram e desmaiei. Acordei meia hora depois, sem a bicicleta, sem celular e sem carteira".

Na semana passada, quase um ano após o assalto, a designer decidiu voltar a pedalar no Parque Linear Bruno Covas, desta vez, para se sentir mais segura, estava em um grupo de 5 ciclistas. "Sabe o que aconteceu? Dois meninos tentaram nos assaltar no mesmo lugar que roubaram minha bicicleta", disse Rymer. "A gente começou a gritar por socorro, pela polícia, e os meninos sumiram correndo pelo mato. Está impossível pedalar para aqueles lados", lamentou.

Diferente do parque cicloviário da margem leste (ciclovia Franco Montoro), a ciclovia da margem oeste não é cercada e não tem guardas nos acessos, o que, segundo os frequentadores, facilita a fuga dos criminosos.

Em 4 de março deste ano, um frequentador da ciclovia da margem leste conseguiu gravar em vídeo um assalto que ocorria na outra margem do rio. Nas imagens, que circulam nas redes sociais e também repercutiram na imprensa nacional, é possível ver dois criminosos atacando um homem na ciclovia da margem oeste. Sob a mira de uma arma, a vítima entrega seus pertences e é atingida por chutes. Em seguida os criminosos fogem pelo acesso que fica ao lado da ponte do Socorro (zona sul).

Após diversas denúncias, a Polícia Militar prendeu três homens e dois adolescentes suspeitos de integrar uma quadrilha de roubo de bicicletas que atuava na ciclovia da margem oeste. O grupo foi encontrado em 11 de março no Jardim Ângela (zona sul) com seis bicicletas, duas tinham registro de roubo.

Na margem leste, onde a ViaMobilidade mantém segurança em motos e nos 8 acessos, para evitar furtos à linha de trem, os roubos de bicicletas eram considerados raros. Mas a situação mudou. Além do assalto à gerente de produtos Dayana Satiko Gondo, houveram ao menos três outras ocorrências recentes.

Na noite de 25 de abril, uma loja que fica dentro da área de comércio da ciclovia foi arrombada e uma bicicleta foi levada. A loja fica a menos de 200 metros da guarita de segurança, instalada no acesso da passarela de conexão ao Parque do Povo. Segundo o empresário Mário Issa, sócio da loja, o roubo deixou um prejuízo de R$ 40 mil. Perguntado se mudaria sua operação dentro da ciclovia, o empresário disse que possivelmente sim.

Em agosto do ano passado, um jovem de 15 anos foi perseguido pela via por dois assaltantes até ser rendido na entrada de seu condomínio, onde sua bicicleta foi roubada. "Meu filho ficou traumatizado", disse o pai da vítima, um empresário que pediu anonimato. O empresário prestou queixa e a polícia conseguiu capturar os assaltantes no dia seguinte. De acordo com o empresário, os policiais que fizeram a captura já tinham prendido os mesmos ladrões outras três vezes. "A polícia trabalha direitinho, e você vê na cara do delegado a frustração [com a lei]. Eles enxugam gelo", disse o empresário, indignado com a soltura de um dos criminosos, que teria sido liberado após a audiência de custódia.

Na última semana disparou o número de alertas de assalto feitos por grupos de ciclistas no Whatsapp. Além de indicar os pontos onde os supostos ladrões estariam atuando, as mensagens indagam representantes da empresa que administra os dois parques, a Farah Service, quanto ao funcionamento das câmeras de segurança. O fato fez Michel Farah, dono da empresa, compartilhar mensagens trocadas com um militar: "Gostaria de pedir um reforço no entorno do Parque do Povo, principalmente na entrada para a ciclo, inclusive na ponte de acesso, pois estou escutando muitos relatos de tentativas de furto. Uns frustrados e outros com sucesso", escreveu Farah ao interlocutor, chamado por ele de "Coronel".

Questionado sobre os casos de roubos e sobre o funcionamento das câmeras de segurança, Michel Farah preferiu não responder.

Também procurada para comentar o aumento nos roubos nos parques que margeiam o rio Pinheiros, a Secretaria de Segurança Pública emitiu uma nota:

A Polícia Civil localizou o registro de três casos de roubos, ocorridos no Itaim Bibi e no Morumbi, entre fevereiro e março deste ano. As investigações desses casos estão a cargo das delegacias da área - 15º DP (Itaim Bibi), 34º DP (Morumbi) e 89º DP (Jardim Taboão). As equipes estão em diligências visando à identificação dos autores. Além disso, a Polícia Militar está empenhada em garantir a segurança e a tranquilidade dos cidadãos que utilizam as ciclovias da região. Por meio de patrulhamento, os policiais atuam nas vias destinadas aos ciclistas para garantir um ambiente mais seguro para a prática do ciclismo e o deslocamento de pedestres. As polícias paulistas estão direcionando recursos para combater a criminalidade em toda a Capital. Na 3ª Delegacia Seccional (Oeste), responsável pela área citada pela reportagem, os roubos apresentaram queda de 10,5% e os furtos de 0,8% no primeiro trimestre de 2023 em comparação ao mesmo período do ano anterior. Entre os meses de janeiro e março, 1.391 infratores foram presos ou apreendidos e 172 armas de fogo foram retiradas das ruas.

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