O Oscar, que chega à sua 95ª edição neste domingo (12), não é uma premiação que, em sua história, tenha se preocupado com a diversidade, embora nos últimos anos a Academia tenha feito alguns esforços para isto, aumentando a base de votantes, com a inclusão de mais mulheres e de representantes de minorias étnicas e raciais e de países que não sejam os EUA.
Em quase cem anos de história de entrega de estatuetas, as mulheres levaram décadas para conseguir indicações e prêmios, sem considerar os de atriz e atriz coadjuvantes. Confira a seguir as histórias de quatro dessas pioneiras do Oscar.
Frances Marion, duas vezes premiada por roteiro
Integrante do seleto grupo dos principais escritores de Holywood em sua época, Frances Marion (1888-1973) começou a trabalhar no cinema mudo e fez a transição para o falado, em uma carreira de 25 anos e cerca de 130 filmes.
Quando jovem, casou-se, divorciou-se e foi modelo, ilustradora e jornalista. Sua iniciação no cinema deu-se em 1914, quando trabalhou com a diretora Lois Weber, uma das pioneiras da era dos filmes mudos.
Passou a escrever roteiros, com um hiato na Primeira Guerra Mundial, quando filmou a contribuição das mulheres no front a pedido do governo norte-americano. Nos anos 1920, seus textos apareceram em filmes estrelados por Rudolph Valentino, Greta Garbo e Mary Pickford.
Seu primeiro roteiro para o cinema sonoro foi uma adaptação da peça ‘Anne Christine’, de Eugene O'neill, também estreia de Greta Garbo em filmes com som. Em 1931, tornou-se a primeira mulher a ganhar um Oscar de melhor roteiro, por ‘O Presídio’. Repetiu o feito dois anos depois, com ‘O Campeão’, que nos anos 1970 teve um remake estrelado por John Voight.
Julia Phillips, a primeira produtora premiada por melhor filme
O Oscar já estava em sua 46ª edição quando finalmente uma mulher foi premiada por melhor filme, como produtora do longa.
Em 1974, Julia Phillips, então com 29 anos, subiu ao palco do Dorothy Chandler Pavilion com o marido, o também produtor Michael, para receber a estatueta por 'Golpe de Mestre' (1973) das mãos de Elizabeth Taylor. Estávamos na era da Nova Hollywood.
"Vocês não imaginam a viagem para uma garota judia de Great Neck. Hoje eu ganhei um Oscar e me encontrei com Elizabeth Taylor ao mesmo tempo. Muito obrigada", afirmou, no discurso do Oscar.
Depois do prêmio, Julia produziu 'Táxi Driver' (1976) e 'Contatos Imediatos de Terceiro Grau' (1977). Na década de 1980, sua carreira parou, prejudicada pela dependência de drogas.
Voltou a produzir nos anos 1990, quando também lançou uma autobiografia considerada escandalosa pela imprensa. No livro, revelava histórias de estrelas e executivos de Hollywood, dando nome aos citados. Julia morreu aos 57 anos, em 2002, de câncer.
Anne Bauchens, a montadora de DeMille
A garota do Missouri que pretendia ser atriz tornou-se a montadora dos filmes de Cecil B. DeMille até a morte do diretor e produtor, em 1959. Anne também foi a primeira mulher a ser indicada ao Oscar de edição, em 1935, por 'Cleopatra'.
A próxima indicação, por 'Legião de Heróis', deu a ela a estatueta, em 1941, tornando-a a primeira mulher premiada por edição no Oscar. Depois, concorreu mais duas vezes, por 'O Maior Espetáculo da Terra', em 1953, e por 'Os Dez Mandamentos', em 1957.
A relação profissional de Anne com DeMille começou em 1917. Ela trabalhava como estenografista para irmão do diretor, William, em Nova York, e foi enviada a Los Angeles para ajudar o diretor. Um ano depois, fez a primeira parceria com DeMille como montadora, em 'Whe Cant' Have Everything', ainda no cinema mudo.
Dizem que DeMille não permitia que ninguém, exceto Anne, editasse seus filmes. Em uma entrevista, o produtor e diretor disse que a montadora, 'embora seja uma pessoa gentil, profissionalmente é tão firme quanto uma pedra'. Anne morreu em 1967, aos 85 anos.
Lina Wertmüller, a primeira mulher indicada ao Oscar de direção
O filme 'Pasqualino Sete Belezas' deu à italiana Lina Wertmüller a indicação de melhor direção, em 1977. Estávamos na 49ª edição do Oscar. Ou seja, a Academia demorou quase 50 anos para indicar uma mulher à estatueta. Lina não levou. Em 2020, ganhou um Oscar honorário, e morreu no ano seguinte, aos 93 anos.
Lina foi a primeira de um total de sete mulheres já indicadas ao prêmio. A segunda indicação demorou praticamente mais 20 anos. Jane Campion concorreu ao prêmio em 1994, por 'O Piano', e disputou novamente a estatueta em 2022, por 'Ataque aos Cães'.
A elas se seguiram Sofia Coppola ('Encontros e Desencontros', em 2004), Kathryn Bigelow ('Guerra ao Terror', em 2010), Greta Gerwig ('Lady Bird: A Hora de Voar', em 2018) e Chloé Zhao ('Nomadland') e Emerald Fennell ('Bela Vingança'), ambas em 2021.
Três foram premiadas: Kathryn, na 82ª edição, Chloé, na 93ª, e Jane, na 94ª, no ano passado. Neste ano, não há nenhuma mulher indicada ao prêmio.
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