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Café na Prensa - David Lucena
David Lucena
Descrição de chapéu Agrofolha alimentação

Café puxa crescimento global da Nestlé, que recorre ao Brasil de olho nas metas ambientais

Empresa desenvolve até nova variedade do grão na Alta Mogiana cujo plantio emitiria menos CO2

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São Paulo

O café é o principal responsável pelo atual crescimento global da Nestlé. Com isso, a gigante de alimentos aumenta as compras no mercado brasileiro, de olho nas suas próprias metas de redução de emissões de carbono.

A empresa reportou no balanço do primeiro semestre deste ano que teve um crescimento orgânico de 2,1% e que o café foi o maior responsável pela alta. A companhia é dona de marcas gigantes, como Nescafé, Nespresso e Starbucks.

Entre outros fatores, o crescimento tem a ver com as ambições da empresa na área de sustentabilidade. Pressionada pelas demandas do mercado por práticas mais sustentáveis, a companhia se comprometeu com seus acionistas e com o público que reduziria em 20% suas emissões até 2025 e em 50% até 2030 —tendo como base os patamares de 2018.

A imagem mostra um edifício da Nestlé com um grande logotipo em destaque. O logotipo é composto por um ninho com pássaros e elementos naturais. Ao fundo, há uma chaminé de fábrica e um céu com nuvens.
Fábrica da Nestlé em Orbe, na Suíça; empresa recorre ao café brasileiro de olho nas suas metas ambientais - Denis Balibouse/Reuters

A empresa é uma das grandes poluentes do mundo e, em 2018, emitiu 113 milhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa.

Nessa corrida contra o tempo, a Nestlé descobriu no café brasileiro um dos principais aliados para alcançar essas metas. Estima-se que cerca de 70% da pegada de carbono do café esteja concentrada na agricultura. Por isso, a empresa aumentou a compra de cafés brasileiros provenientes de agricultura regenerativa —alguns deles, inclusive, carbono neutro ou até carbono negativo.

Assim, ao adquirir grãos que recorrem a essas práticas agrícolas, a empresa consegue reduzir significativamente sua pegada de carbono.

A Nestlé traçou como meta que, até 2025, 20% de todo o café que adquire mundialmente seja proveniente de agricultura regenerativa. No Brasil, a empresa subiu a régua e decidiu ampliar essa meta para 30%, com o objetivo de alcançar 50% em 2030.

O foco na agricultura regenerativa chegou a ser criticado por pesquisadores, segundo os quais o plano de descarbonização da companhia é demasiadamente dependente desse tipo de manejo, enquanto que deveria prever ações mais sólidas, por exemplo, para lidar com suas emissões de metano —gerado a partir da pecuária para produção de laticínios.

O CEO global da Nestlé, Mark Schneider, chegou a visitar, em agosto de 2023, uma fazenda que cultiva café por meio de práticas regenerativas no cerrado mineiro, como uma sinalização de que a empresa está priorizando os agricultores que recorrem a essas técnicas que emitem menos carbono.

Com isso, a companhia se consolida como uma das principais compradoras das mais de 50 milhões de sacas de café que o Brasil produz anualmente.

EMPRESA DESENVOLVE ATÉ NOVA VARIEDADE

A empresa chegou a desenvolver uma variedade de café mais resistente a pragas, cujo cultivo emitiria menos gás carbônico, e decidiu iniciar a plantação dessa varietal justamente no Brasil, na região de Franca (SP), na Alta Mogiana.

A planta, criada a partir de melhoramento genético em parceria com a Fundação Procafé, foi batizada de Star 4 e surgiu a partir das variedades Typica e Catimor.

Testes de campo demonstraram que os rendimentos da Star 4 são mais altos em comparação com algumas das variedades locais brasileiras mais usadas, como Catuaí e Bourbon. Assim, isso reduziria a emissão de gases de efeito estufa entre 36% e 41%, segundo cálculos da companhia.

A aposta da Nestlé no setor de cafés fica evidente em eventos dos quais a empresa participa, sobretudo quando é instada a falar sobre sustentabilidade e tendências para o futuro do planeta.

Na última edição do HackTown, um dos principais eventos de inovação do Brasil, que acontece em Santa Rita do Sapucaí (MG), a Nestlé foi uma das principais patrocinadoras e levou à cidade uma programação na qual o maior destaque era a Trilha Café do Futuro, em que divulgava as ações da empresa na área de agricultura regenerativa e sustentabilidade socioambiental.

APOSTA NA GOURMETIZAÇÃO

Enquanto traça esses planos para o Brasil como fornecedor de matéria-prima, a Nestlé também está atenta ao consumidor brasileiro. Um dos maiores mercados do mundo, o Brasil vive um momento de gourmetização –filão por meio do qual a gigante suíça pretende ampliar sua participação.

Isto porque o café já é um produto presente em quase todos os domicílios do país. Logo, não há muito espaço para conquistar novos consumidores. A saída, então, é investir em produtos gourmet, a fim de se diferenciar e fisgar essa crescente parcela dos consumidores com paladares mais exigentes.

A companhia informou que planeja investir cerca de R$ 1 bilhão no Brasil até 2026, a fim de expandir sua capacidade de produção e as vendas fora do lar.

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