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Caio Guatelli

Ciclopassarela Jornalista Erika Sallum

Nome da jornalista é aprovado no projeto que conecta periferia ao centro

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A decisão foi unânime —todos os integrantes da gestão votaram a favor da mudança, e o projeto da ciclopassarela que liga os bairros Pinheiros e Butantã, atravessando o rio Pinheiros, passa a chamar "Projeto Ciclopassarela Jornalista Erika Sallum".

O processo aconteceu na ultima terça-feira (7), durante a 50ª reunião do Grupo de Gestão da Operação Urbana Consorciada Faria Lima (OUCFL) —a última deste ano. A votação ocorreu entre representantes do poder público e da sociedade civil, como prevê o Plano Diretor da capital, e atendeu a um pedido elaborado por cicloativistas como alternativa à Carta Aberta em apoio à Ciclovia Jornalista Erika Sallum. A carta foi assinada por quase duas mil pessoas que identificam na memória da jornalista, morta há 4 meses após enfrentar um câncer, os valores que estimulam o convívio urbano equilibrado.

De capacete, óculos e roupa de ciclismo, a jornalista Erika Sallum posa encostada no pilar de uma ponte
A jornalista Erika Sallum na ciclovia do rio Pinheiros, sob a ponte Cidade Universitária - Caio Guatelli

Como já foi informado aqui, o projeto de ligação entre ciclovias existentes nas margens opostas do Pinheiros é antigo. A solução para o problema que coloca em risco a segurança de pedestres, ciclistas e motoristas está encalhada há 9 gestões e já completa 26 anos de atraso, mesmo com a verba de 46 milhões de Reais reservada e disponível em caixa.

Tamanho atraso afetando tanta gente vai de encontro ao debate que cerca as modificações do Plano Diretor da cidade de São Paulo, o qual prevê aproximar a moradia dos eixos de transporte. Dentro de tal debate, um dos obstáculos que mais desafia a mobilidade sustentável dos que viajam diariamente entre periferia e centro, é a travessia dos grandes rios da capital, o Pinheiros e o Tietê.

Das 16 conexões existentes entre as margens do rio Pinheiros —14 pontes e 2 túneis— 7 proíbem ciclistas e pedestres, 9 recebem ciclistas sem proteção cicloviária, e apenas duas —as pontes Vitorino Goulart e Laguna— apresentam ciclovia em tempo integral anexada às vias de rolagem automotiva. Essas duas únicas conexões seguras estão no extremo sul. Todo o trecho mediano e norte do rio Pinheiros sofrem com gargalos perigosos para a mobilidade de uma enorme população que cada vez mais encontra na bicicleta uma forma econômica, limpa e pacífica de locomoção urbana.

Para a vereadora e jornalista Renata Falzoni (PV), o Projeto Ciclopassarela Jornalista Erika Sallum serve para corrigir um erro antigo de planejamento urbano: "muitas pontes daqui são obstáculos. A Estaiada, por exemplo, é símbolo da mobilidade insustentável, é uma ponte excludente, proíbe transporte coletivo, ciclistas e pedestres. A ciclopassarela vem para resolver a insustentabilidade crônica da mobilidade em São Paulo, é uma ponte inclusiva".

O vereador André Santos (Republicanos), vice-presidente da Comissão de Política Urbana, diz que a ciclopassarela "é uma importante demanda que visa facilitar o acesso para as pessoas e ciclistas que transitam na região, protegendo os pedestres e ciclistas por meio de uma via exclusiva".

Para Falzoni, "o reconhecimento dos valores defendidos pela Erika e a adoção de seu nome no projeto são grandes impulsos para fazer essa obra acontecer".

Enquanto tudo não passa do papel —a expectativa de conclusão da obra ficou para meados de 2023— o empenho dos que buscam a mobilidade sustentável e inclusiva na cidade deve focar a pressão sobre o executivo e o legislativo.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que recentemente pedalou por Nova York e parece estar disposto a investir nos modais sustentáveis, precisa dedicar sua atenção à ciclopassarela (e às outras conexões cicloviárias) e providenciar com urgência o início e conclusão das obras.

Na câmara dos vereadores, a pressão será para garantir que o nome "Ciclopassarela Jornalista Erika Sallum" evolua do projeto e torne-se uma lei, garantindo a vontade popular e corrigindo outra discrepância: das atuais 16 conexões entre as duas margens do Pinheiros, 12 homenageiam empresários ou políticos homens, nenhuma homenageia mulheres.

"Faço questão de promover e apoiar a nobre luta que a jornalista se apropriou em vida e que ajudou e ajudará muitas pessoas. Inclusive já iniciamos as formalidades na Câmara Municipal de São Paulo para tornar realidade esta nomeação", afirmou o vereador André Santos.

Para Falzoni, "Nada mais justo do que nomear a ciclopassarela com o nome da Erika Sallum, uma mulher que batalhou para a acessibilidade incondicional do ciclista neste país".​

Croqui mostra pontes
Croqui da ciclopassarela que ligará Pinheiros ao Butantã (imagem: Operação Urbana Consorciada Faria Lima ) - Operação Urbana Consorciada Faria Lima

Posição deste autor

Homenagear a jornalista Erika Sallum é uma urgente e necessária quebra de paradigmas. Criar uma ponte exclusiva para pedestres e ciclistas, com o nome da Erika, em meio a uma longa sequência de pontes perigosas e machistas é reconhecer o valor da mulher e preservar o legado e luta desta jornalista por inclusão social, redução da desigualdade, redução de danos ambientais, melhoria das estruturas de lazer e pacificação do trânsito de São Paulo.

SERVIÇO

Acontece neste sábado o evento Mobicicleta, que pretende discutir a mobilidade sustentável e o uso da bicicleta em São Paulo

QUANDO: Sábado 11/12, das 13h30 às 20h

ONDE: Clube Espéria, Av. Santos Dumont, 1313

Erramos: o texto foi alterado

A primeira versão desse texto indicava que, das 16 ligações entre as margens do rio Pinheiros havia uma única com nome em homenagem a uma mulher. Na realidade, nenhuma ponte ou túnel do rio Pinheiros faz homenagem a mulher. O projeto da Ciclopassarela Jornalista Erika Sallum, se concretizado, será a primeira ponte com nome em homenagem a uma mulher em toda a extensão daquele rio.

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