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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli

Obra no rio Pinheiros causa série de interdições na ciclovia

Outra interdição, causada pela obra da linha 17-Ouro do Metrô, completará 10 anos

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Como se não bastasse a interminável obra da linha 17-Ouro do Metrô, que há quase 10 anos interdita 2,3 km da ciclovia do rio Pinheiros, começou nesta terça-feira (21) uma outra grande obra, desta vez para reconstruir as margens do rio Pinheiros, e que prevê uma série de novas interdições nas estruturas cicloviárias da região.

Além de afetar todo o trajeto da antiga ciclovia, na margem leste, a obra também atingirá parte do funcionamento do Parque Linear Bruno Covas, que fica no lado oposto do rio e também abriga outra ciclovia, uma pista de caminhada e equipamentos de lazer.

Obra de recuperação estrutural das margens do rio Pinheiros interdita os primeiros 2 Km da ciclovia, próximo ao bairro do Jaguaré - Eduardo Knapp/Folhapress

Na margem leste, os impactos da nova obra já podem ser sentidos por um trecho de 2 Km, entre a ponte Cidade Universitária e o bairro Jaguaré, onde o fluxo de ciclistas está temporariamente proibido.

É a primeira de uma série de interdições necessárias para que máquinas pesadas possam realizar a instalação de gabiões, um tipo de intervenção que, segundo a Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do estado de São Paulo), tem o objetivo de "reverter processos erosivos, melhorar o escoamento do canal e levar mais segurança aos usuários dos parques".

Ainda segundo o órgão, toda a extensão do rio —são 50 km de margens— passará pelo processo. No primeiro trecho "a intervenção deve durar cerca de 90 dias".

A obra está sob gerência do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) e da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), e recebe apoio da Farah Service —concessionária da ciclovia e do Parque Linear Bruno Covas— "para mediar soluções entre os tradicionais usuários e os novos ocupantes do espaço, que estão ali para realizar uma obra de extrema necessidade", disse Michel Farah, CEO da empresa.

Farah ainda indica que um segundo trecho da obra, com 800 metros, já começou do outro lado do rio, no Parque Linear Bruno Covas, onde a outra ciclovia também já foi afetada.

"Diferente da ciclovia da margem leste, a qual divide uma faixa estreita com a linha 9 da CPTM, sem espaço para criar desvios, no Parque Linear temos como adaptar novos caminhos e manter a rota aberta", disse Farah. "Apesar de não ter asfalto, o desvio no Parque já está ativo e possibilita que ciclistas e pedestres passem pela obra em segurança".

O próximo trecho a receber instalações de gabiões ainda não foi definido. "Depende do nível de urgência de cada ponto afetado. Se cair uma chuva e colocar em risco algum trecho, é para lá que o DAEE deslocará a obra", explicou Farah, que disse também estar atento para oferecer as melhores alternativas aos usuários da ciclovia da margem leste, os quais inevitavelmente terão que conviver com outros trechos fechados e intransponíveis até a conclusão da obra, prevista pela Semil "para o fim do primeiro semestre de 2024".

Além de trazer à tona uma velha discussão, sobre como solucionar a interdição causada há quase 10 anos pelas obras do Metrô, as novas interdições também deixam evidente como a rotina de quem pedala fica à mercê dos interesses de alguns gestores públicos.

A própria ciclovia da margem oeste só foi criada após uma intensa disputa entre o Ministério Público estadual e a diretoria do Metrô, que em 2014 acabou a construindo, por ordem judicial, como uma solução para a interdição causada pela sua obra. O resultado foi uma pista provisória, precária e com poucos acessos, que por fim acabou se tornando permanente.

Hoje parte integrante do Parque Linear Bruno Covas, a pista da margem oeste foi reformada pela iniciativa privada e passou a contar com pavimentação perfeita, novos acessos e estrutura de lazer no entorno, mas ainda peca na qualidade oferecida pelos acessos herdados da obra do Metrô, como a perigosa escadaria da ponte Cidade Jardim, motivo de constantes reclamações dos usuários.

Ciclistas carregam bikes em subida de escada
Acesso ao Parque Linear Bruno Covas pela ponte Cidade Jardim é feito por uma velha escadaria de metal - Caio Guatelli

"O cara tem que estar com muita vontade, ou realmente não ter outra opção", disse Farah ao comentar a rotina de trabalhadores que saem do extremo sul para chegar na outra ponta da ciclovia usando os desvios causados pela velha obra do Metrô.

É o caso do auditor fiscal Willian Veríssimo, que mora em Diadema e trabalha na zona oeste da cidade de São Paulo. Ele diz perder muito tempo ao "ficar atravessando entre um lado e o outro do rio" para fazer o trajeto completo da ciclovia.

Para a advogada Adriana Vojvodic, moradora da zona oeste, "a ciclo é um lugar como nenhum outro em São Paulo, pois são quilômetros segregados do trânsito. Foi essencial para eu começar a pedalar. Era onde encontrava meu grupo de amigas e fazíamos nossos primeiros treinos. Até hoje ela faz parte da minha rotina", disse.

"Essa nova interdição diminui o tamanho do trajeto e concentra mais ciclistas no restante da via. Por enquanto não impacta muito, é uma parte sem saída. O que ainda não sabemos é qual será a solução quando interditarem os trechos entre os acessos", completou Vojvodic.

Sobre a interdição antiga, causada pela obra do Metrô, Vojvodic diz também sentir as consequências: "Meu irmão mora do lado da estação Jurubatuba (zona sul). Várias vezes pensei em ir até lá pedalando, mas só a ideia de ter que começar o trajeto de um lado, cruzar o rio, andar mais um trecho, e depois voltar para o lado de cá, acaba me desanimando. Com o trecho inteiro aberto, eu certamente usaria a ciclovia".

Em resposta à Folha, a Semil esclareceu que a interdição pelas obras do Metrô foi feita no segundo semestre de 2013 "para garantir a segurança dos ciclistas ao longo da intervenção", e que "o bloqueio será desfeito com a conclusão da obra no local e recomposição da pista de ciclismo".

O órgão ainda informou que "trabalha para rescindir o atual contrato de obra —rescisão em andamento, junto ao processo de multa à construtora—, possibilitando a contratação de nova empresa e continuidade da obra. A implantação da Linha 17 sofreu com diversas empresas que não cumpriram com as atividades e prazos, resultando em rescisões e novas contratações que impactaram no cronograma de obras".

Segundo o último levantamento da Farah Service, feito em fevereiro deste ano, 160 mil ciclistas utilizam a ciclovia do rio Pinheiros mensalmente. Na estrutura do Parque Linear Bruno Covas, a frequência mensal chega a 140 mil ciclistas.

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