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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu tecnologia

Contra precarização, entregadoras lançam plataforma própria

Sistema de entregas Señoritas foi desenvolvido em parceria com MTST e Unicamp

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Para combater a precarização do trabalho, uma cooperativa de cicloentregadoras lançou na quinta-feira (9), na cidade de São Paulo, a plataforma Señoritas de entregas (lê-se Senhoritas).

A iniciativa tem como objetivo criar um contraponto ao modelo de negócio das empresas de aplicativo de entrega, e é baseada em um algoritmo que garante, ao mesmo tempo, qualidade nos serviços de entrega e qualidade de vida para quem faz a entrega.

Entregadora da plataforma Señoritas durante trabalho no centro de São Paulo - Luca Meola/Divulgação

O novo negócio começou a surgir em 2017, quando entregadoras mulheres e pessoas trans se uniram após sofrerem violência de gênero em outras empresas do segmento, criando a cooperativa Señoritas Courier. Em paralelo às entregas, e como forma de desenvolvimento, as cooperadas passaram a buscar soluções contra a deterioração da categoria. Desse esforço surgiu, no início de 2023, a ideia de criar a plataforma de entregas.

"As entregadoras começaram a estudar tecnologia e desenvolveram o algoritmo baseado nas próprias experiências", disse Aline Os, fundadora da cooperativa. "O algoritmo das outras plataformas consideram os interesses dos donos das empresas, que pensam só no próprio lucro", completou.

O processo de desenvolvimento e a manutenção da plataforma tem como parceiros o Núcleo de Tecnologia do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e o Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp, todos atuando de forma voluntária para garantir o menor custo para o consumidor, maior renda à entregadora e melhor aproveitamento dos itinerários.

Aline, que é artista plástica e mestre em poéticas visuais pela USP, conta que começou a fazer entregas de bicicleta em 2015, quando ainda não existiam os aplicativos. Para ela, que gostava de pedalar, aquela era uma saída para completar o baixo salário que ganhava como professora de fotografia. "Naquela época, comecei a ganhar mais fazendo entregas do que dando aula em universidade", lembrou.

Aline observa que a situação mudou nos últimos anos. "Essas empresas de aplicativo passaram a pagar muito mal quem faz entregas de bicicleta", disse ao comentar as negociações promovidas pelo Ministério do Trabalho para elaboração do projeto de lei que regulamenta a atividade de trabalhadores de aplicativos.

"No grupo de trabalho [promovido pelo Ministério do Trabalho], as plataformas de entrega estavam oferecendo R$ 6 por hora. Eu estava lá e tenho esses documentos [para comprovar]", disse Aline ao comparar valores. "Na Señoritas, se as entregadoras percorrem 10 km por hora, elas ganham R$ 23,80 no mínimo".

Apresentado em 4 de março no Palácio do Planalto, o projeto de lei dos aplicativos acabou excluindo o setor de entregas em duas rodas, e propôs mudanças apenas para o setor chamado de "quatro rodas", de empresas como Uber e 99.

Se aprovado pelo legislativo, o texto exigirá contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), auxílio-maternidade e pagamento mínimo por hora de trabalho no valor de R$ 32,09 apenas para motoristas —motociclistas e ciclistas estão fora do atual texto do projeto.

Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas à falta de acordo com o setor de entregas: "Vamos encher tanto o saco que o iFood vai ter que negociar", reclamou o presidente.

A plataforma Señoritas (acessível aqui), está disponível apenas para a cidade de São Paulo, mas, segundo Aline Os, o algoritmo será disponibilizado gratuitamente para outras cooperativas de entrega do país em uma segunda etapa.

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