Cozinha Bruta

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Médicos podem abandonar o plantão para jantar?

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São Paulo

Tenho alguns arrependimentos na vida. Um deles é ter queimado tempo e dinheiro –quando o tinha– em almoços longos durante o expediente.

Quando trabalhava no esquema CLT, com horário para cumprir, o almoço era um escape temporário. Eu ficava infeliz se comesse no refeitório da empresa ou pedisse qualquer porcaria de um serviço de entregas.

Gostava quando toda a galera do trabalho saía para comer junta, obstruindo calçadas da soleira ao meio-fio.

Lanchonete próxima a hospital em Brasília
Lanchonete próxima a hospital em Brasília - Reprodução

Pegava o carro e ia almoçar lá na PQP. Se tinha shopping por perto, ia duas ou três vezes na semana. Gastava meu dinheiro no America, no Ráscal e em outros lugares que entregam muito pouco pelo tamanho da conta.

E ficava preocupado porque a comida demorava, e eu tinha coisas a fazer.

Almoçar com os colegas era legal? Sim, porém nunca tão legal quanto beber com eles depois do expediente.

Arrependo-me de, tantas vezes, não ter resolvido a vida rapidinho com bandejão ou salgado de padoca, sozinho no balcão. A vida acontece fora do trabalho, coisa que eu não percebia.

Estou falando disso por causa de um arranca-rabo entre médicos e não-médicos que apareceu no Twitter.

A história começa com uma advogada de Recife que foi a um pronto-socorro (não disse por quê) e encontrou a espera vazia no começo da noite. Depois da triagem na enfermaria, precisou aguardar mais 40 minutos até ser atendida por um médico.

A razão da demora: os dois médicos de plantão saíram juntos para jantar, já que não havia pacientes para atender antes de a nossa advogada chegar.

Ante à indignação majoritária nos comentários, a classe médica se uniu para defender os colegas.

Disseram que médicos, como qualquer outro profissional, têm direito a se alimentar no expediente.

Justíssimo.

Mas os dois juntos? Alguns médicos vieram dizer que não há vedação (impedimento), a não ser que estejam responsáveis por fichas vermelhas –jargão hospitalar para pacientes que estão no bico do corvo.

Aí a coisa complica.

Pode não haver proibição por lei ou nos estatutos, mas isso não significa que a atitude dos médicos tenha sido razoável ou bacana.

Por que precisariam jantar juntos? Para conversar? Não teriam o resto do plantão para trocar ideias?

Plantão não é guarda, observa uma médica. Espera-se sempre, porém, que haja alguém de plantão no plantão, já que casos de emergência não agendam consulta.

Se só houver um plantonista, ele também precisará comer, argumenta um profissional de saúde. Perfeito, porém havia dois.

Médico é um profissional, não um filantropo, reclama outro CRM. Ok, só não precisa ser misantropo. Se tivessem bom-senso e um mínimo de consideração com os pacientes, teriam se revezado para jantar.

Como disse alguém lá na rede do Elon: imagina se dois médicos entram num restaurante vazio e precisam esperar uma hora para comer porque era hora de almoço do cozinheiro.

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