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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

O que é melhor: LCA a 94% do CDI ou CDB a 110% do CDI?

Sua LCI ou LCA está rendendo menos do que você contratou e o prejuízo é tanto maior quanto maior o prazo

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A maioria das pessoas desconhece o efeito negativo de composição de juros em títulos bancários isentos. As regras de bolso utilizadas falham nesta consideração e o investidor acaba obtendo menos retorno do que achava. Explico o cuidado que se deve ter ao comparar títulos isentos.

Sua LCI ou LCA está rendendo menos do que você contratou e o prejuízo é tanto maior quanto maior o prazo. REUTERS/Brendan McDermid/File Photo ORG XMIT: FW1 - REUTERS

Imagine que é colocado a você duas alternativas de investimento por um prazo de 2 anos:
a) LCA ou LCI com retorno de 94% do CDI (isenta de IR);
b) CDB com retorno de 110% do CDI.

Ambos os títulos têm a mesma garantia do FGC até R$250 mil. Portanto, possuem o mesmo risco.

Usualmente, aplicadores fazem a seguinte regra de bolso para comparar o retorno da LCI que já é líquida de IR com o que seria o equivalente bruto de IR. Divide-se o retorno da LCI por 1 – alíquota de IR. No prazo de dois anos de aplicação, a alíquota de IR é de 15%.

Assim, usando os dados em questão, divide-se 0,94/ (1-0,15) = 110,6% do CDI.

Com esta resposta de 110,6% do CDI, a maioria dos investidores optaria pela LCI ou LCA.

Entretanto, esta resposta está errada. Ela não leva em consideração como o retorno do título é composto ao longo do tempo.

O retorno de um título que rende um percentual do CDI é calculado e composto diariamente.

Pela composição dos juros, quando se multiplica o CDI por algo maior que 1, por exemplo, 110% do CDI que equivale a 1,1, o resultado composto ao longo do tempo se torna ainda maior que 110% do CDI.

Vou dar um exemplo ilustrativo para que entenda. Neste exercício, vou considerar um CDI exagerado de 10% ao dia apenas para ilustrar.

Considere um investimento por cinco dias e retorno de 110% do CDI. No final do quinto dia, 100% do CDI teria rendido 61,05%. Já a aplicação a 110% do CDI teria se valorizado 68,5% (=(1+10%*1,1)^5). Apesar de ser uma aplicação a 110% do CDI, ela rendeu o equivalente a 112,2% do CDI.

Se a composição dos juros favorece o retorno de aplicações que rendem mais que o CDI, o que você acha que acontece com aplicações que rendem menos que o CDI, por exemplo, 94% do CDI?

Isso mesmo, a composição dos juros vai contra. Portanto, uma LCI ou LCA a 94% do CDI, ao final de 2 anos, vai ter se valorizado menos de 94% do CDI.

Em nosso exemplo com o CDI ilustrativo, ao final dos 5 dias a aplicação a 94% do CDI renderia 56,71% (=(1+10%*0,94)^5). Mas, este retorno final equivale a apenas 92,89% do CDI.

Respondendo a pergunta do início do texto, se o CDI ao longo dos próximos 2 anos ficasse estável no atual patamar de 13,65% ao ano, a aplicação a 110% do CDI se valorizaria 32,51%. Líquido de IR este retorno seria de 27,63%, que equivale a 94,76% do CDI.

Já a aplicação na LCI a 94% do CDI, se valorizaria ao final de dois anos 27,2%. Entretanto, este retorno equivale a apenas 93,25% do CDI.

Se você fizer os cálculos em uma planilha, vai verificar que até mesmo uma aplicação em LCI ou LCA a 95% do CDI perderia de um CDB a 110% do CDI em dois anos.

Portanto, cuidado ao preferir sempre títulos isentos sem fazer a conta certa. Principalmente, quando pensa em longo prazo, o efeito de composição acaba sendo ainda mais cruel para títulos que rendem um percentual abaixo do CDI.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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