A pioneira missão chinesa de retorno de amostras do lado oculto da Lua deve ter mais uma surpresa: um minirrover. A CNSA (agência espacial chinesa) nada falou a esse respeito à época do lançamento, mas imagens do módulo de pouso feitas durante as preparações para o voo mostram um pequeno veículo com quatro rodas preso à lateral do módulo.
A Chang'e 6 foi lançada em no último dia 3 e pouco mais de quatro dias depois se inseriu em órbita lunar, após uma manobra de frenagem propulsada feita com seu motor principal e ocorrida às 23h21 do último dia 7 (pelo horário de Brasília).
Ao ser capturada pela gravidade do satélite natural da Terra, ela foi colocada numa órbita elíptica (achatada) cujo perilúnio (ponto de máxima aproximação com a superfície lunar) é de 200 km. Depois de soltar em sua órbita própria o Icube-Q, um pequeno satélite (cubesat de apenas 7 kg feito em parceria pela Universidade Jiao Tong, de Xangai, e a agência espacial paquistanesa), a espaçonave passou a manobrar de forma a gradualmente baixar e circularizar sua órbita, em preparação para o pouso.
Os chineses também andam discretos sobre quando esse evento deve ocorrer, mas duas pistas ajudam a elucidar a questão. Primeiro, a duração total desta missão, estimada em 53 dias, que sugere uma alunissagem mais tardia que a realizada por sua predecessora, Chang'e 5, cuja missão teve duração de 23 dias, entre o lançamento e o retorno das amostras à Terra. Segundo, o fato de que o local de pouso, uma cratera no lado afastado da Lua chamada Apollo, neste momento está sob a escuridão da noite lunar.
O nascer do Sol por lá só deve ocorrer em 28 de maio e, depois disso, ainda será preciso alguns dias para que o disco solar se erga mais no céu, de modo a otimizar a iluminação para a descida automatizada da sonda. Por essas razões, observadores do programa espacial chinês esperam que a alunissagem deva acontecer no começo de junho –cerca de um mês após a partida da Terra.
A julgar pelo que aconteceu com a Chang'e 5, que é essencialmente uma gêmea da atual missão, a coleta de amostras deve ser realizada em cerca de 48 horas. As rochas colhidas então serão mandadas à órbita lunar por um módulo de ascensão, que vai se encontrar e acoplar com a nave-mãe em órbita, para o retorno à Terra, que deve ocorrer ao redor de 25 de junho.
Haverá um bom tempo para o módulo de pouso seguir operando em solo lunar, e o minirrover deve ter oportunidade para perambular pelos arredores do sítio de pouso, antes que mais uma vez a noite chegue ao local e encerre a missão. A única referência ao pequeno veículo vem de uma publicação do Instituto de Cerâmica de Xangai, que indica que ele é equipado com um espectrômetro de imagens em infravermelho, capaz de distinguir a composição de rochas e regolito (a fina poeira que recobre a Lua), talvez até mesmo detectando água.
Ninguém fora do programa sabe outros detalhes sobre o veículo, nem como ele vai ser lançado ao solo. Para isso, teremos de aguardar a alunissagem e a posterior divulgação dos resultados pela quase sempre discreta (para não dizer cheia de segredos) agência espacial chinesa.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.
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