De Grão em Grão

Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro

De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu Selic juros copom

Diversificação em tempos de juros elevados: uma reflexão necessária para investidores brasileiros

Uma carteira diversificada teria obtido retorno de 145% do CDI desde 2007, mas outro investimento apresentou retorno ainda melhor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Diversificação é uma palavra de ordem no mundo dos investimentos. A teoria nos diz que, ao distribuir nosso capital entre diferentes classes de ativos, podemos melhorar o balanço de retorno por risco, potencialmente até aumentando o retorno. Mas será que essa lógica se mantém quando as taxas de juros estão nas alturas, como é o caso do Brasil? Para explorar essa questão, realizamos uma simulação de investimento com uma carteira diversificada em dez ativos diferentes ao longo dos últimos 17 anos.

Operador de mercado na Bolsa de valores Nova Iorque (Nyse). - JEENAH MOON/Getty Images via AFP

Os ativos escolhidos foram: CDI, renda fixa prefixada (IRFM), renda fixa referenciada ao IPCA (IMAB-5), renda fixa referenciada ao IPCA (IMAB), renda fixa referenciada ao IPCA (IMAB5+), renda fixa americana (Treasury 7-10y com dólar), índice de fundos multimercados, índice de fundos imobiliários, Ibovespa e Bolsa Global (MSCI ACWI com dólar).

A simulação considerou uma carteira diversificada dividida em 40% em ativos de risco e 60% em renda fixa. Nesta carteira, 20% foram alocados em ativos internacionais que possuem exposição ao dólar. Portanto, 20% da carteira estava como se costuma dizer "dolarizada", ou seja, em "moeda forte".

Avaliando isoladamente, pode-se afirmar que o retorno foi interessante. O resultado acumulado dessa carteira diversificada foi de 514% nos últimos 17 anos. Isso equivale a 145,2% do retorno do CDI no mesmo período. Esta rentabilidade foi obtida com uma volatilidade de apenas 6% ao ano. A volatilidade é a medida de risco utilizada no mercado financeiro para exprimir a dispersão dos retornos em torno da média. Como comparação, a volatilidade do Ibovespa é de 22% ao ano.

Entretanto, o resultado fica menos atrativo quando comparamos com um ativo no Brasil de fácil aplicação. O IMAB-5 representa a média dos títulos públicos referenciados ao IPCA de menos de 5 anos de vencimento. Você pode aplicar nele por meio de fundos que o replicam ou pode apenas investir de forma dividida em CDBs de menos de 5 anos de vencimento.

No mesmo período de análise, o IMAB-5 se valorizou 519% com uma volatilidade de apenas 4,3% ao ano. Portanto, não só um retorno maior, mas também um menor risco. Portanto, o Sharpe, ou seja, o índice que mede o retorno por unidade de risco do IMAB-5, comparado ao da carteira diversificada acima, foi muito melhor.

Abaixo, apresento uma tabela com os retornos anuais da carteira diversificada e do IMAB-5 desde 2008.

Carteira diversificada IMAB-5 CDI
2024 5,5% 4,0% 6,0%
2023 13,4% 12,1% 13,0%
2022 1,7% 9,8% 12,4%
2021 1,8% 4,6% 4,4%
2020 11,9% 8,0% 2,8%
2019 20,7% 13,2% 6,0%
2018 10,8% 9,9% 6,4%
2017 15,2% 12,6% 9,9%
2016 17,1% 15,5% 14,0%
2015 15,3% 15,5% 13,2%
2014 10,8% 11,6% 10,8%
2013 1,4% 2,8% 8,1%
2012 19,8% 17,0% 8,4%
2011 11,5% 15,7% 11,6%
2010 10,7% 13,0% 9,8%
2009 16,8% 15,0% 9,9%
2008 9,6% 13,8% 12,4%
2007 6,0% 4,3% 3,3%

Essa comparação nos leva a uma reflexão crucial: diversificar realmente compensa em um cenário de juros altos? Os resultados mostram que, mesmo com uma carteira diversificada, o retorno foi ligeiramente inferior ao investimento em um único instrumento de renda fixa. Isso desafia a noção comum de que correr riscos significa retorno e de que todos devem diversificar não importando o cenário.

O gráfico abaixo apresenta a evolução de um investimento de R$ 100 mil em 2007 na carteira diversificada e no IMAB-5.

Evolução de um investimento de R$100 mil desde 2007 em uma carteira diversificada e no IMAB-5.
Evolução de um investimento de R$100 mil desde 2007 em uma carteira diversificada e no IMAB-5. - Michael Viriato

Quando as taxas de juros são elevadas, os investimentos de renda fixa tendem a oferecer retornos atrativos com baixo risco.

No Brasil, historicamente, as taxas de juros têm sido significativamente altas, proporcionando retornos consideráveis para investimentos como os títulos referenciados ao IPCA.

Nesse contexto, a diversificação em ativos de risco não necessariamente resulta em melhores retornos ajustados ao risco. Além disso, a volatilidade dos ativos de risco, como ações e fundos imobiliários, pode diluir os ganhos proporcionados pelos investimentos de renda fixa. Isso é particularmente relevante em períodos de incerteza econômica, onde a segurança dos retornos fixos se torna ainda mais valiosa.

O investidor precisa entender que assumir mais risco não garante retornos superiores. A análise dos dados históricos mostra que, em um ambiente de juros altos, a diversificação pode não oferecer os benefícios esperados. Em vez disso, uma estratégia focada em ativos de renda fixa pode ser mais eficaz para proteger e aumentar o patrimônio. Portanto, antes de diversificar, é essencial avaliar o cenário econômico e as características dos ativos disponíveis. Em tempos de juros elevados, a renda fixa pode ser a estrela da carteira, proporcionando segurança e retornos atrativos sem a necessidade de assumir riscos adicionais.

Diversificação é uma estratégia poderosa, mas não é uma solução universal. Em cenários de juros altos, como o do Brasil, é fundamental reavaliar a alocação de ativos e considerar a predominância da renda fixa. Entender que o risco não é sinônimo de retorno é crucial para tomar decisões de investimento mais informadas e alinhadas com os objetivos financeiros de longo prazo.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

Fale direto comigo no e-mail.

Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais. Acompanhe as lições de investimentos no Instagram.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.