De Grão em Grão

Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro

De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Subida rápida, descida perigosa: como investir em Bolsa após fortes valorizações

Nem toda alta é sinal de oportunidade; algumas brilham apenas para atrair o desavisado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Após a recente valorização de 14% do Ibovespa em pouco mais de dois meses, muitos investidores estão se perguntando: "Será que agora é o momento certo para investir em ações?" Esse entusiasmo é compreensível, mas muitas vezes nasce de uma prática comum e equivocada de projetar resultados passados para o futuro, acreditando que, após uma valorização, o risco de investir diminui. O que muitos não percebem é que, ao investir na Bolsa, a alocação deve ser baseada no risco que você está disposto a assumir, e não apenas no retorno esperado.

Operadores de ações na New York Stock Exchange (NYSE). - ANGELA WEISS/AFP

Essa ideia pode parecer contraintuitiva à primeira vista, mas vou explicar. Embora o objetivo seja o retorno, investir com base em expectativas exageradas pode levar a grandes frustrações e perdas consideráveis.

Vamos ilustrar esse ponto com um exemplo. Imagine uma máquina programada para distribuir recursos entre dois ativos, R e B. Suponha que essa máquina utiliza um sistema de alocação que considera apenas o retorno passado como variável decisiva, acreditando que o histórico se repetirá. Se o ativo R subiu 2% e o B, 14% nos últimos dois meses, o que você acha que a máquina sugeriria? Provavelmente, uma alocação massiva no ativo B, correto?

Entretanto, essa decisão, aparentemente lógica, não é sensata. Ainda assim, muitos investidores agem de maneira similar à máquina, transferindo todo o capital da renda fixa para a Bolsa após momentos de otimismo, comprando ações após valorizações expressivas. Quando o mercado entra em uma fase negativa, vendem suas ações e voltam à renda fixa, frequentemente com perdas.

É natural que você queira investir na Bolsa se acredita que ela vai subir. E é possível que isso aconteça, mesmo após as recentes altas. Afinal, o retorno acumulado no ano de 2024 ainda é modesto, em torno de 1,06%. No entanto, é crucial conter a euforia e definir sua exposição com base no risco que você pode suportar. Por exemplo, qual seria o impacto para você de um retorno negativo em um mês ou em um ano?

Aqui entra um cálculo simples, mas poderoso, para estimar o potencial de perda. Você já deve ter ouvido falar em volatilidade, uma medida da dispersão dos retornos em relação à média, que expressa a incerteza, ou seja, o risco. O Ibovespa, por exemplo, tem uma volatilidade histórica de 23% ao ano, enquanto o índice S&P500 em dólar apresenta uma volatilidade de 16% ao ano. Isso significa que os retornos do Ibovespa tendem a variar mais em relação à média.

Para estimar uma possível perda em um mês, divide-se a volatilidade anual por 4. Esse cálculo, amplamente utilizado em áreas de risco de bancos e gestoras, baseia-se em conceitos que mensuram o Value at Risk (VaR), ou Valor em Risco.

A divisão por 4 considera uma probabilidade de 80% de que este seja pior resultado negativo em um horizonte de um mês. Aplicando isso ao Ibovespa, chegamos a uma possível oscilação negativa de 5,75%. Esse número deve ser o ponto de partida para definir sua exposição, especialmente se você está otimista e deseja investir na Bolsa. Essa queda sem dúvida não é a pior que pode ocorrer, mas o montante considera a probabilidade expressa.

Agora, sabendo que é possível que ocorra uma queda de 5,75% no próximo mês, quanto você aplicaria no Ibovespa? Suponha que o restante do seu portfólio esteja alocado no CDI. Se você não quer ver sua carteira com um resultado negativo em qualquer mês, não deveria alocar mais de 12% em ações. Dessa forma, se o Ibovespa cair 5,75%, você perderá quase todo o rendimento obtido com o CDI no restante da carteira. Se você estiver disposto a aceitar uma perda de até 1% no portfólio, então a alocação em ações não deveria exceder 27%.

Lembre-se de que esta análise considera apenas um possível resultado ruim em um único mês isolado. Você pode até tolerar uma perda isolada, mas o que aconteceria se, em vez de um único mês ruim, você enfrentasse uma série de meses com resultados negativos?

Muitos que compraram ações no final do ano passado, logo após uma forte alta, não aproveitaram a recente valorização e acabaram sofrendo prejuízos significativos. Isso aconteceu porque o Ibovespa enfrentou uma longa sequência de quedas ao longo do ano, levando muitos a desistirem no meio do caminho.

Portanto, antes de se deixar levar pela euforia e sair investindo, avalie quanto você está disposto a perder e por quanto tempo. Ao contrário do que muitos acreditam, após uma forte alta, o risco de investir em ações tende a ser maior, não menor.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

Fale direto comigo no e-mail.

Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais. Acompanhe as lições de investimentos no Instagram.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.