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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Meu fundo de previdência rende menos que um CDB de banco médio; devo resgatar?

A decisão entre CDB e previdência vai além do rendimento; veja o que você precisa considerar

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Você já se perguntou se está tomando a decisão certa ao investir? Imagine a seguinte cena: você decide embarcar em uma viagem para um destino desconhecido. Um amigo te oferece dois veículos: um carro esportivo potente e um SUV robusto. O primeiro é rápido e emocionante, mas pode ser instável em terrenos difíceis. O segundo é confiável e foi feito para encarar qualquer estrada, mas não tem a mesma velocidade. Ambos podem te levar ao seu destino, mas com experiências bem diferentes. Da mesma forma, ao comparar um fundo de previdência e um CDB de banco médio, é como escolher entre dois tipos de veículos para sua jornada financeira – a comparação direta pode ser um erro.

Operadores de mercado na New York Stock Exchange (NYSE). - SPENCER PLATT/Getty Images via AFP

É comum que investidores fiquem frustrados ao ver que seu fundo de previdência não rende tanto quanto um CDB de um banco médio. Mas a verdade é que essa comparação é injusta. Produtos diferentes, com propósitos diferentes, devem ser analisados dentro de seus próprios contextos.

Os CDBs de bancos médios, por exemplo, oferecem retornos tentadores, como 120% do CDI ou até 14% ao ano prefixado. Mas esses bancos carregam consigo um risco maior de quebra. Para o investidor pessoa física, que pode investir até R$ 250 mil por instituição e estar protegido pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), esse risco é quase eliminado. Na prática, o CDB de um banco médio se torna quase livre de risco para quem está dentro desse limite de proteção. Porém, o gestor de um fundo de previdência ou de renda fixa não pode se dar ao luxo de expor o patrimônio dos cotistas a um risco tão elevado. Eles precisam manter uma diversificação mais ampla e segura, o que, inevitavelmente, impacta o retorno.

Assim, o investidor pessoa física possui uma vantagem ao investir em CDBs garantidos pelo FGC, pois, na prática, compra um produto de maior retorno com risco controlado. No entanto, é importante lembrar que esses rendimentos elevados vêm da natureza de risco do produto. Por isso, compará-los diretamente com fundos de previdência ou de renda fixa não faz sentido.

Adicionalmente, há a questão da marcação a mercado que não existe no CDB, mas acaba deixando a experiência do investimento em fundo de previdência menos vantajosa.

Entretanto, os produtos de previdência têm outros benefícios que precisam ser levados em consideração. Uma das maiores vantagens é a ausência do "come-cotas" e a isenção de Imposto de Renda sobre o lucro em operações de rebalanceamento. Por exemplo, se você mudar sua alocação de renda fixa para ações dentro do fundo de previdência, não será tributado, enquanto no investimento direto, isso geraria custos.

Além disso, há a questão da sucessão: os recursos da previdência podem ser transmitidos diretamente aos herdeiros, sem passar pelo processo de inventário, o que torna a previdência um instrumento interessante para planejamento patrimonial. Além de tudo isso, os fundos de previdência oferecem a possibilidade de uma alíquota de Imposto de Renda que chega a 10% sobre os rendimentos, o que é significativamente menor que a alíquota de outras aplicações, como CDBs e fundos de investimentos tradicionais.

Essas vantagens, embora não afetem diretamente o retorno bruto, trazem benefícios estratégicos de longo prazo. Ainda assim, é fundamental entender que a comparação deve ser justa. Não faz sentido comparar um fundo de previdência de ações com um CDB de banco médio ou mesmo uma previdência indexada ao IPCA com um CDB DI. Produtos de categorias diferentes têm riscos e retornos que variam conforme o horizonte temporal e a estratégia adotada.

Por outro lado, se os benefícios fiscais e sucessórios da previdência privada não fazem parte de seu planejamento ou de seus objetivos financeiros, pode ser que o resgate seja uma opção a considerar. Nessa situação, você poderia alocar os recursos em um CDB de banco médio ou em títulos de crédito privado isentos de Imposto de Renda, que podem oferecer retornos superiores em cenários específicos.

Portanto, a resposta ao dilema "Meu fundo de previdência não rende o mesmo que o CDB de banco médio; devo resgatar?" não está no rendimento puro e simples. Está na compreensão das características de cada produto e no alinhamento da estratégia com seus objetivos financeiros. Avalie não apenas o retorno de curto prazo, mas também os benefícios fiscais, a flexibilidade de rebalanceamento e as vantagens sucessórias que a previdência oferece. Afinal, a viagem financeira não se trata apenas de velocidade, mas de como você chegará ao destino com segurança e planejamento adequado.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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