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É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor
Descrição de chapéu

Siga as pegadas daquela araucária!

A demarcação da trilha Transmantiqueira retoma o ritmo depois da pandemia

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Uma das trilhas mais procuradas pelos caminhantes brasileiros, a Transmantiqueira, vive o desafio de finalizar a demarcação dos quase 1.200 quilômetros que lhe foram atribuídos no projeto que começou a ser pensado na década de 1980, mas que só começou mesmo a sair do papel no final de 2017. Até agora, foram sinalizados apenas 400 quilômetros —mas eles incluem alguns dos destinos mais desejados dos trekkers do país, como a Pedra da Mina, quarta mais alta montanha do Brasil, com seus 2.798 m de altitude, na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais, e o Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro.

Na trilha Transmantiqueira, a paisagem da Travessia da Serra Fina - Hugo de Castro Pereira/Divulgação Associação Trilha Transmantiqueira

A Transmantiqueira, na verdade, começa na cidade de São Paulo, no antigo Horto Florestal, hoje Parque Estadual Alberto Löfgren, que mesmo não sendo ainda propriamente a serra, foi pensado para atender ao grande fluxo de pessoas que moram na maior região metropolitana do país. Ou seja: o caminhante pode sair de casa com sua mochila e já inicial ali mesmo seu trajeto.

Área com quiosques no Horto Florestal (Parque Estadual Alberto Lofgren), em São Paulo - Eduardo Knapp - 17.set.21/Folhapress

A partir do Horto, a trilha atravessa o Parque Estadual da Cantareira, o Monumento Nacional da Pedra Grande e vai até o pé da Serra do Lopo, onde efetivamente a Mantiqueira começa a fazer jus ao nome. Dali, segue até Aiuruoca (MG), no Parque da Serra do Papagaio, onde o caminho se divide em dois.

No ramal oeste, a trilha segue até o Parque Estadual do Ibitipoca, em Minas Gerais, e termina na famosa Janela do Céu. No sentido norte, a trilha segue até Itumirim (MG), final do traçado, passando pela Chapada das Perdizes e Carrancas.

Mapa da trilha Transmantiqueira - Associação Trilha Transmantiqueira/Divulgação

A demarcação da Transmantiqueira, como de toda trilha de longa distância, não é uma operação simples. Basicamente, seria apenas uma questão de sair percorrendo seu percurso e sinalizando, com as marcas registradas e homologadas pelo Manual de Sinalização de Trilhas do ICMBio. Só que nada é tão simples assim. O trabalho é feito principalmente por voluntários que, armados de estêncil, tintas, placas e pincéis, vão detectando os melhores pontos para deixar as marcas, de modo a oferecer a maior segurança ao usuário. Isso exige paciência, conhecimento da área e muito cuidado para que a marca fique bem nítida e à vista do futuro visitante.

Grupo de voluntários aplica marca de orientação na trilha Transmantiqueira
Voluntários aplicam a marca de orientação a mourão na trilha Transmantiqueira - Hugo de Castro/Divulgação

"O trabalho de demarcação se divide em quatro frentes", explica Hugo de Castro, presidente da Rede Brasileira de Trilhas e coordenador geral da Trilha Transmantiqueira. Especialista em projetos ambientais, montanhista, fotógrafo e autor de livros ligados ao tema, ele lamenta que o processo de sinalização, que é a parte mais visível e de trabalho mais árduo, tenha precisado ser interrompida desde o início da pandemia. O pelotão que reunia cerca de 600 voluntários antes de o coronavírus atrapalhar a vida do planeta precisa ser novamente mobilizado, assim como o trabalho de cadastro de pontos de apoio aos caminhantes, com a identificação de pousadas, restaurantes e outros serviços que podem facilitar a viagem.

Hugo de Castro, no Vale das Araucárias, no setor Parque Estadual do Papagaio (MG) - Luiz Aragão/Divulgação

Outra frente mais complexa é a que precisa buscar autorização para que as trilhas passem por propriedades privadas, áreas municipais e unidades de conservação. Embora seja a mais burocrática, Castro conta que foi a que avançou mais durante a pandemia. "Praticamente todos os municípios e unidades de conservação já deram anuência. O entrave maior são ainda os donos de áreas privadas", explica. Não chega a ser surpresa, convenhamos.

A frente institucional também vai razoavelmente bem. "A Transmantiqueira tem papel preponderante no Projeto Destino Mantiqueira do Ministério do Turismo, que visa promover o território da serra, dar visibilidade maior à região e transformá-la em um dos destinos mais importantes do país, com visibilidade internacional", acrescenta Castro.

Pedra da Mina - Setor Travessia da Serra Fina - Hugo de Castro Pereira/Associação Trilha Transmantiqueira/Divulgação

Embora a sinalização busque ser o mais clara e ostensiva possível, é importante lembrar que roteiros mais longos e eventualmente mais árduos, como o da Serra Fina, que também exige mais experiência do usuário, recomendam a contratação de guias cadastrados, que conheçam bem a região e seus perrengues. No site da Trilha Transmantiqueira podem ser encontrados contatos em municípios-chave, bem como informações detalhadas sobre cada trecho e seus cuidados.

Por que a araucária?

Ao longo da área já demarcada, que inclui áreas do Parque Estadual Campos do Jordão, Travessia do Carrasco, Marins a Itaguaré, Pedra do Picu, Parque Nacional do Itatiaia, Visconde de Mauá e Ibitipoca, o trekker vai encontrar setas indicando o caminho. O modelo segue o utilizado há séculos nas mais importantes trilhas internacionais, como o Caminho de Santiago, na Espanha, com seus 800 quilômetros ou a recordista americana Apalache, com cerca de 3.200 quilômetros. Elas podem estar pintadas em árvores, pedras ou cantos da estrada, apontando o rumo a seguir e o que evitar. E, sim, todos os cuidados são tomados para evitar o máximo de impacto a espécies protegidas.

Pegada pintada numa árvore
Marca da trilha Transmantiqueira aplicada a árvore do percurso para orientação do caminhante - Hugo de Castro/Divulgação

Perto de pontos de maior interesse turístico ou monumentos naturais, há placas e indicações mais descritivas, seguindo o mesmo padrão visual: uma pegada com fundo amarelo e o desenho de uma araucária em preto (ou desenho amarelo em fundo preto para o sentido inverso da trilha).

A escolha da araucária, espécie que já foi abundante no bioma da Mantiqueira e hoje integra a lista das espécies ameaçadas de extrema extinção, está ligada a um dos maiores vetores da demarcação da trilha: a proteção do meio ambiente aliada à geração de emprego e preservação das culturas regionais.

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