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Luiza Pastor
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Seguro é importante, mas tem que escolher com cuidado

Nicho de esportes de aventura é explorado majoritariamente por empresas especializadas

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A contratação de um seguro para viagens é algo razoavelmente corriqueiro e bem-vindo no universo do turismo convencional. Mas quando se trata de turismo de aventura, a escolha de uma apólice pode ser muito mais complicada do que parece. Ter certeza de que, caso haja necessidade, o resgate pode ser assegurado por um helicóptero é fundamental, como descobriu um colega que subiu comigo ao monte Roraima e torceu o joelho, impossibilitando-o de descer a pé.

Quando o blog começou a apurar quais os seguros disponíveis no país, o primeiro passo, por óbvio, foi procurar as grandes operadoras do mercado nacional. E, surpresa: nenhuma admitiu ter produto algum para esse segmento específico. Bradesco, Allianz e Zurich, por exemplo, agradeceram o interesse, mas por meio de suas assessorias informaram que não participariam da pauta por não operarem nessa área. Itaú e Porto Seguro sequer retornaram os emails.

Cenas do resgate do montanhista indiano Anurag Maloo, que ficou três dias em uma fenda da montanha Anapurna, no Himalaia, e sobreviveu.  À esquerda, o polonês Adam Bielecki, líder da equipe de resgate
Cenas do resgate do montanhista indiano Anurag Maloo, que ficou três dias em uma fenda da montanha Anapurna, no Himalaia, e sobreviveu, sendo levado de helicóptero até Katmandu. À esquerda, o polonês Adam Bielecki, líder da equipe de resgate. Na ponta direita, o trabalho de ressuscitação cardiopulmonar que durou quatro horas - Montagem de Aashish Maloo em Instagram

O retorno mais objetivo foi da Mag Seguros, que conta com uma especialista em underwriting (um tipo de análise do perfil do potencial segurado) para avaliar a viabilidade de cada contrato, com proteção por morte ou invalidez. "Nós somos das poucas seguradoras do país que aceitam a contratação de cobertura por morte de atletas de montanhismo, até para aqueles profissionais que se aventuram em expedições ao Himalaia", contou Denise Amaral, gerente de underwriting da empresa.

"Nós aceitamos o cliente com base nas respostas que ele nos dá a partir de uma série de perguntas", explica a especialista, que precisou mergulhar no universo do montanhismo para entender a linguagem de seus potenciais clientes e, principalmente, as estatísticas de acidentes de cada modalidade.

"Se você pratica montanhismo e eu não, você tem um nível de risco diferente, e por isso você vai pagar um prêmio diferente do de uma pessoa da mesma idade, do mesmo sexo, que não tem o mesmo grau de risco", acrescenta, explicando que, à medida que as informações sobre a atividade a ser segurada vão chegando, incluindo além dos detalhes pessoais, até os equipamentos que a pessoa vai utilizar na empreitada, a conta vai sendo feita até se chegar ao valor final, cujos limites Denise não quis declarar. "Cada caso é um caso, são muitas variantes", desconversou. Barato não vai ficar —mas qual é o preço de sua vida?

Que o diga o escalador indiano Anurag Maloo, milagrosamente resgatado com vida de uma fenda na montanha Anapurna, no Himalaia, depois de ficar três dias preso no gelo. Ele contou ao blog que pagou uma apólice de US$ 1.000 (cerca de R$ 4.950) à seguradora indiana Adventure Sports Covery, que bancou duas tentativas de resgate por helicóptero, mais as despesas médicas de alta complexidade em Katmandu, capital do Nepal, a um custo total não revelado.

Vale ressaltar que, desde que comecei a pesquisar o assunto, tenho sido bombardeada por propagandas de seguradoras internacionais que atuam com maior ou menor amplitude no segmento. A mais frequente, que aparece até quando busco uma receita de bolo, é a australiana World Nomads, que atua no mercado desde 2002. Em resposta ao contato do blog, o representante da empresa no Brasil enviou os links do site (em português), explicando que tudo estaria lá. E, pelo que deu para ver, embora a empresa aceite contratos de cobertura para acidentes de 180 modalidades esportivas, no quesito montanhismo o limite é qualquer coisa até 6.000 metros de altitude. Boa parte das grandes montanhas do planeta, então, está fora de seu alcance, mas a maioria das trilhas e picos menos ambiciosos pode ser incluída, com a vantagem de a cotação ser feita por um aplicativo em tempo real. Voltemos, então, à receita de bolo.

O blog foi perguntar a quem está acostumado com expedições em ambientes extremos, como o montanhista profissional Pedro Hauck, se e como orienta seus guiados na hora de contratar seguro. "No Aconcágua, por exemplo, o pico mais alto dos Andes, é obrigatório um seguro que cubra resgate em alta montanha com evacuação em helicóptero", respondeu ele, que acredita faltarem players no mercado.

O montanhista Pedro Auck, no cume da montanha Ama Dablam, com o Everest ao fundo
O montanhista Pedro Hauck, no cume da montanha Ama Dablam, com o Everest ao fundo - Acervo pessoal

"São poucas as seguradoras que cobrem esportes de aventura e pouquíssimas que asseguram altitude", reclama Hauck. "Claro que é algo de muito risco, mas seguro é para risco e, se formos avaliar os números, não são tantos resgates que ocorrem em relação ao número de praticantes", pondera ele, que contrata um seguro individual do American Alpine Club, clube de alpinismo americano que oferece várias opções a seus membros em todo o mundo, incluindo até um plano especial para quem pretende se aventurar pelo Círculo Polar Ártico.

Uma das opções do mercado mais citadas pelos montanhistas com que o blog conversou foi a GTA (Global Travel Assistence), que cobre esportistas em práticas amadoras por meio de contratos com agências de viagens. Segundo as informações enviadas pela assessoria da empresa, a procura por esse perfil de produto tem crescido a uma taxa média de 15% ao ano. "Nosso objetivo passa pelo incentivo à venda com caráter mais consultivo e pela mudança da cultura do seguro viagem no país", define a nota. A GTA oferece planos que oferecem coberturas médico-hospitalares entre R$ 6 mil e R$ 60 mil para viagens no Brasil, e de US$ 12 mil (R$ 59,4 mil aproximadamente) a US$ 330 mil (R$ 1,64 milhão) em roteiros internacionais. O conselho, aqui, é avaliar bem se seu perrengue pode levar, no máximo, a um curativo simples em algum pronto-socorro do país, ou exigir um atendimento mais sofisticado em algum ponto do Himalaia.

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