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É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor
Descrição de chapéu escalada

Aos 17 anos, Amanda Criscuoli é a mulher mais jovem a encadenar a Problema de uma Geração

Gaúcha escala via de dificuldade extrema sem nenhuma queda

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São Paulo

Se o leitor não entendeu nada do título aí de cima, ou acha que faltou alguma letrinha em algum lugar, não se assuste, já, já a gente explica direitinho. O blog tem falado um bocado de escaladas em suas várias modalidades, e até tentamos mudar um pouco o rumo da prosa —mas nesta semana especialmente não dá para fugir do assunto, que chega com um gostinho de vitória empoderada: mostrar a conquista da jovem gaúcha Amanda Criscuoli Tavares, de apenas 17 anos, que no sábado (24) encadenou, ou seja, escalou sem nenhuma queda, de uma tirada só, uma via de graduação 10a em Noel Rocks, paredão icônico de Caxias do Sul (RS), tornando-se a mulher mais jovem a vencer de uma tirada uma rota deste nível de dificuldade no Brasil.

Amanda Criscuoli Tavares conquista a via Problema de uma Geração, de extrema dificuldade, em Noel Rocks, Caxias do Sul
Amanda Criscuoli Tavares conquista a via Problema de uma Geração, de extrema dificuldade, em Noel Rocks, Caxias do Sul - Acervo pessoal

Para quem não está familiarizado com a terminologia do mundo do montanhismo, uma via de grau 10, na escala adotada no Brasil (que não é universal, por sinal, vários países têm tabelas próprias com graduações bem diferentes), é a de maior nível de dificuldade disponível numa faixa que vai de 1 a 10. A letrinha minúscula ao lado indica que se trata de uma rota definida em pedra, não se tratando de escalada indoor —aquela das bolotas coloridas pregadas numa parede no fresquinho do ar condicionado.

A ascensão da via batizada pelo provocador nome de "Problema de uma Geração" foi uma grande conquista não só pelo registro da pouca idade de Amanda mas por ser ela a primeira mulher a chegar no topo da rota aberta por dois homens, Thiago Balen e Guilherme Comin, em 2018. Não que ela já não esteja habituada a grandes feitos —afinal, hoje, é a segunda colocada no ranking sub-20 da Abee (Associação Brasileira de Escalada Esportiva) e sétima no ranking geral, competindo em provas nacionais e internacionais há nada menos que 10 anos —ou seja, desde os 7.

A trajetória de Amanda começou mesmo muito cedo, com os pais, Fabiane Peixoto Criscuoli e Deivis Rogério Tavares, empresários da área de tecnologia de informação que têm até hoje a escalada como hobby para desconectar do dia a dia atrás das telas. Como quem não quer nada, desde os primeiros passinhos de bebê que só estava brincando, ela acabou sendo a primeira escaladora a conquistar uma via 6a e outra 7a com apenas 9 anos, chegando à 8a aos 10.

A escaladora Amanda Criscuoli Tavares, competindo desde criança, ao lado dos pais Fabiane e Deivis
A escaladora Amanda Criscuoli Tavares, aos 9 anos, ganhando competição de boulder - Acervo pessoal

"A via exige muito do fator psicológico", conta Amanda, "principalmente pelo ambiente, fica de frente para um vale enorme, dando uma sensação de estar escalando num vazio que faz com que muitos desistam por medo".

Para tornar tudo mais difícil, acrescenta ela, uma cachoeira ao lado da via atrapalha a concentração, "pelo barulho altíssimo e por respingar no escalador". Para quem precisa se concentrar nos menores apoios para vencer alguns metros de uma parede negativa (aquela em que o escalador percorre alguns metros com as costas paralelas ao chão lá embaixo), cada pingo faz muita diferença.

Amanda Criscuoli Tavares escala em parede negativa, em Noel Rocks, Caxias do Sul (RS)
Amanda Criscuoli Tavares escala em parede negativa, em Noel Rocks, Caxias do Sul (RS) - Acervo pessoal

Conquistar essa vitória não foi tarefa simples. Amanda conta que começou suas primeiras tentativas na via, cujo percurso varia de 20 a 25 metros (afinal, ninguém sobe em linha reta), ainda em 2022, com 15 anos, mas os treinos para as competições de atleta profissional não lhe permitiam dedicar tanto tempo quanto gostaria a seu desafio pessoal.

"Foi um processo longo, desafiador, mas incrível", conta Amanda, lembrando das muitas dúvidas que teve ao longo de sua relação com a montanha. "Será que eu consigo, será que não está muito além de minha capacidade? Eu não estou preparada para essa via...Tudo eram questões que todos temos em algum momento, a conquista parecia grande demais, mas conquistar um 10a era meu sonho desde criança", afirma ela, que muitas vezes desceu chorando da parede, achando que todo o esforço seria em vão.

Amanda Criscuoli Tavares, que aos 17 anos conquistou uma via de escalada de grau 10a em Noel Rocks (RS)
Amanda Criscuoli Tavares, que aos 17 anos conquistou uma via de escalada de grau 10a em Noel Rocks (RS) - Acervo pessoal

Com o apoio dos pais, que não a deixaram desistir do sonho, ajudaram a buscar apoios e fortaleciam sua vontade por meio do que Deivis define como "renovação anual do contrato familiar", além de muita preparação física de força e técnica, Amanda acabou acreditando que aquilo era, sim, algo que poderia superar. "Sabia que seria só um simples detalhe para tudo se encaixar", relata. "E encaixou!"

Na segunda tentativa feita naquele sábado, Amanda conta que escalou fluída, sem medos, sem bloqueios, e deu tudo certo. "Me senti bem, 'voando', tranquila e leve, eu sabia tudo, todos os movimentos, as costuradas, os pés, os descansos e finalmente encaixei tudo! Foi perfeito!" lembra emocionada.

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