Haja Vista

Histórias de um repórter com baixa visão

Haja Vista - Filipe Oliveira
Filipe Oliveira

Vamos viralizar um gesto altruísta em prol das pessoas com deficiência visual

Ideia é que bengala na altura do rosto indique um pedido de ajuda

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São Paulo

Um cego sozinho na rua quer ser ajudado?

Depende. Já ouvi histórias de muitas pessoas que tentaram se aproximar de alguém que não enxerga e levaram uma grande bronca, o que as deixou frustradas. Com isso, criou-se até uma fama por aí de que tem muito cego orgulhoso, que quer fazer tudo sozinho e se sente humilhado se recebe ajuda, o que atrapalha a todos.

Da minha parte, tento sempre ser gentil com quem puxa assunto, pergunta onde vou e só falta me levar no colo. Mas é fato que tem dias que prefiro ir sozinho com meus pensamentos ou cantarolando baixinho e não quero que ninguém escute ou atrapalhe minha serenata particular. Então agradeço e digo que não precisa, faço esse caminho sempre.

Mas tem horas em que saio do rumo. A última vez foi ao descer no Metrô Paraíso, em São Paulo, e não encontrar o funcionário da estação que deveria estar me esperando.

A plataforma estava com pouco movimento, o que deixava difícil encontrar alguém. Fui seguindo o piso tátil, tentando escutar passos ou conversas para localizar um passageiro ou segurança que pudesse me conduzir até as catracas, mas o barulho da refrigeração estava muito alto. Levou alguns minutos, muito zigue-zague e bengalada nas colunas da estação até alguém me abordar.

Atravessar a rua também pode demorar bem mais tempo do que o necessário. Fico na calçada receoso de pisar na faixa e algum carro fazendo a conversão me pegar. E percebo gente passando acelerada do meu lado sem se comover com minha paralisia.

A opção é ficar falando sozinho para ver se consigo resposta. "Oi", "Com licença", "Alguém poderia me ajudar?". Fico com o silêncio como resposta.

Por outro lado, noutras vezes estou na porta da estação de Metrô esperando uma carona e lá vem alguém querendo me atravessar a rua, me avisando sobre os ônibus que estão parando por ali, o que não preciso saber.

Penso que toda essa dificuldade de comunicação, o receio de alguns de se aproximar e o exagero de outros que não acreditam quando falamos que está tudo bem, poderiam ser solucionados co.

Minha ideia é que, em vez de precisarmos ficar rodando perdidos até alguém perceber que precisamos de auxílio, deveríamos criar e adotar uma forma fácil, rápida e eficiente de comunicar que estamos em dúvida sobre o caminho ou inseguros por causa de algum obstáculo.

O jornalista Filipe Oliveira segura uma bengala em frente ao rosto. Ele está de olhos fechados e usa jaqueta marrom - Arquivo pessoal

A sugestão é a seguinte: o cego vai atravessar a avenida, levanta a bengala na altura dos olhos e a segura. Quem notar o gesto, dá bom dia, boa tarde ou boa noite e oferece o cotovelo para fazer a travessia junto dele.

A pessoa não sabe em que rua està? Ergue a bengala. Chegou no ponto de ônibus e precisa que alguém avise quando chegar o Terminal Santo Amaro? Mesma coisa. Entrou no shopping e quer encontrar a loja de meias? Bengala ao alto.

Peço ajuda das leitoras e dos leitores para viralizar essa ideia, colocá-la nos jornais, nas novelas, nos livros didáticos e nos manuais de etiqueta.

Enquanto esse ainda não é um gesto tão popular quanto outros, de propósito muito menos nobre, fica uma dica. AO menor sinal de que alguém precisa de ajuda, se aproxime disccretamente pergunte se ela precisa de algo. Se ele ou ela disser que não, não se ofenda e saiba que você foi gentil.

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