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Perfil mostra como funciona engajamento pelo ódio e demonstra tese de Anitta

Página Fiscal do Ibama fez experimento com seus seguidores

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São Paulo

A revolta engaja. Indignação e raiva, também. Para as redes sociais e seus algoritmos, não há juízo de valor prévio entre um compartilhamento positivo ou negativo, uma resposta generosa ou hostil. As postagens, perfis e assuntos têm seu alcance ampliado pela quantidade de usuários que se dispõem a interagir com eles, independente da natureza ou objetivo da interação.

Isso é especialmente verdadeiro no Twitter. Os Trending Topics, assuntos recorrentes neste blog, normalmente funcionam assim. Alguém, por exemplo, publica que detesta cuscuz paulista e chama o prato típico de "bolo de vômito".

Aproveita, também, para estabelecer uma comparação entre este e o cuscuz nordestino, fomentando uma rivalidade regional que, até então, não era assunto na boca de ninguém. Está dada a receita.

Se muitas pessoas amam ou odeiam o cuscuz, se são paulistas que preferem o cuscuz nordestino ou nordestinos que preferem o cuscuz paulista, pouco importa, é secundário: fato é que este tema vira um trend, uma tendência, e ganha visibilidade na rede. Logo pessoas que nem viram a postagem original estarão se posicionando a respeito. E até surgem os metacríticos ("chega de falar de cuscuz").

E vai crescendo a pilha de postagens em torno de termos similares —cuscuz, paulista, nordestino —que começam a ser recomendados aos usuários como assuntos do momento.

É particularmente importante entender essa dinâmica quando o assunto é política, sobretudo em um ano eleitoral em que as redes sociais figuram como uma das principais arenas.

O perfil O Fiscal do Ibama colocou à prova a tese do "engajamento pela indignação", ou seja, a manipulação de afetos para ampliar o alcance de uma mensagem nas redes. E fez uma série de postagens para explicar este processo.

O experimento do perfil anônimo, que desde 2018 usa as redes para denunciar a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro (PL), partiu de uma análise feita pela cantora Anitta sobre o uso eleitoral que o presidente faz das redes.

No último sábado (16), Anitta bloqueou o presidente no Twitter, após a conta de Bolsonaro ironizar seu uso das cores nacionais em sua apresentação no Coachella.

O "buzz" é justamente quando vários usuários começam a falar de um mesmo assunto ou reagem a uma mesma postagem (por exemplo, compartilhando uma receita de cuscuz ou indo à conta do presidente defender Anitta), ampliando seu alcance e, portanto, sua relevância.

O Fiscal do Ibama, então, resolveu usar a mesma estratégia digital das redes de Jair Bolsonaro para ampliar o alcance de uma notícia de 2020, que já havia sido divulgada pelo perfil, mas com resultados muitos diferentes.

Como fez isso tanto tempo depois? Utilizando uma cena da novela "Pantanal", atualmente um sucesso de público.

A indignação gerada pela aproximação entre o enredo fictício e o mais que verdadeiro desmatamento no Pantanal teve 3 milhões de impressões (número de vezes que perfis visualizaram a postagem). Em comparação, a sequência de postagens de 2020, quando o perfil compartilhou duas notícias sobre o assunto, teve 51 mil impressões.

"Mobilizou", quer dizer, a informação que o perfil quis propagar há dois anos —o envolvimento de quatro pecuaristas com os incêndios que assolaram o Pantanal em 2020 e o desmatamento do bioma —chegou a mais pessoas pela via da revolta de entusiastas da novela das 21h em 2022.

O caso é pedagógico. E chama à reflexão: por quais sentimentos nos deixamos guiar nas redes sociais?

Em março, quando "Envolver", de Anitta, chegou ao topo do Spotify, a editoria de Interação da Folha fez uma sequência de postagens no Twitter relembrando a carreira da cantora. O primeiro tuíte, geralmente o de maior alcance, teve (até agora), 105 mil impressões e cerca de 2.200 engajamentos.

Por outro lado, em 11 de abril, o tuíte com a publicação da matéria do DeltaFolha, que explica a geografia do sucesso de Anitta na plataforma de streaming e dá dimensão ao seu alcance global, revoltou os fãs da cantora no Twitter, que avaliaram que a reportagem diminui sua conquista (o que obviamente não é o caso, o texto traz um levantamento de dados).

A postagem com esta matéria teve 392 mil impressões e 28.420 engajamentos —um alcance três vezes maior, com dez vezes mais engajamento, do que aquele gerado pelas postagens que rememoram a trajetória da cantora em tom descontraído.

A "tese de Anitta" sobre o engajamento pela raiva e a ampliação pela indignação parece muito acertada.

Anitta durante sua apresentação no Coachella
Anitta durante sua apresentação no Coachella - Divulgação/Coachella

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