Líder do Movimento Acredito em São Paulo, Marco Martins tem duas certezas. A primeira é a de que, como diz o outdoor viral do qual ele é um dos articuladores, "o Brasil piorou". A segunda é a de que o país só melhora "quando nos livrarmos de Bolsonaro, Paulo Guedes e todos os negacionistas e golpistas incompetentes que ocupam o governo federal nesse momento".
O presidente da Rede na capital paulista conversou com a Folha após ver a frase de uma campanha organizada por ele, em 2021, chegar aos assuntos mais comentados desta semana no Twitter. Segundo Martins, a viralização da tag "O Brasil piorou" não o surpreendeu.
"Essa repercussão é resultado da percepção das pessoas sobre os resultados desastrosos da gestão do Brasil por Bolsonaro", diz o ativista.
Desde a última quinta-feira (5), usuários do Twitter têm usado a frase para relembrar como era a vida em governos passados e listar o que "deu errado" no país desde que o capitão reformado chegou ao Planalto. O movimento nas redes sociais ainda ganhou a adesão de políticos e artistas.
A princípio, a frase que estampa o outdoor não faria parte da campanha realizada em São Paulo e Minas Gerais em dezembro de 2021, revela Martins. À época, o objetivo dos articuladores era concentrar as críticas ao governo sob o mote do "Bolsocaro", com fotos do rosto do presidente atreladas ao aumento da fome e à alta dos preços nos supermercados.
Antes disso, em março de 2021, uma ação com formato parecido já havia sido feita por designers que espalharam cartazes pela capital paulista sobre a disparada de preços de alimentos. Os autores, no entanto, preferiram não revelar seus nomes para evitar ataques.
Já na campanha de dezembro, a frase viral foi uma alternativa ao "Bolsocaro", na tentativa de driblar a resistência das empresas responsáveis pelos outdoors em veicular material com menção direta a Bolsonaro, diz o líder do Acredito. "‘O Brasil piorou’ foi uma forma de traduzir o sentimento da catástrofe que estamos vivenciando no Brasil sob esse governo, burlando essa proibição."
A ação do final do ano passado destacava o aumento no preço da gasolina, cujo litro já custava R$ 7 em alguns estados, e o valor da cesta básica, que chegava a R$ 700. Para Marco, seis meses depois, "estamos numa situação ainda pior".
"A vida dos brasileiros está cada dia mais difícil, com o poder de compra sendo corroído pela alta da inflação e o anúncio, nesta semana, de que esse será o único governo desde o Plano Real em que haverá perda no valor do salário mínimo", cita o ativista.
Diante das postagens da tag "O Brasil piorou", bolsonaristas contestaram a responsabilidade do chefe do Executivo pelos problemas citados e elegeram outros culpados, como a guerra na Ucrânia e o discurso do "fique em casa". Marco reconhece a influência desses dois fatores, mas não poupa críticas ao presidente.
"A instabilidade política causada pelos seus arroubos golpistas, seu desprezo pela pauta ambiental e a incompetência na condução da economia afastaram os investidores do Brasil, desvalorizaram a nossa moeda e não nos dão perspectiva de crescimento, ao contrário de outros países também afetados por elas."
Martins diz ainda que o discurso bolsonarista é fruto da "máquina de desinformação do governo". "Essas narrativas alternativas tentam desviar o foco do papel do presidente Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes na condução da economia brasileira", afirma.
Para ele, a única solução é a mudança de presidente. "Só assim recuperamos a estabilidade política e a confiança para voltarmos a termos investimentos no Brasil. Bolsonaro desistiu de governar o país, entregou o orçamento do país ao Centrão e o que temos hoje são ministérios desmontados, sem capacidade nem de executar seus orçamentos."
"É primordial para o futuro dos brasileiros que voltemos a ter um presidente democrata, que respeite a ciência, invista na educação, preserve nosso meio ambiente, recupere a imagem internacional do Brasil e, principalmente, tenha responsabilidade social para cuidar dos milhões de brasileiros que foram abandonados pelo governo Bolsonaro."
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