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Advogado viraliza com diálogos de audiências e gera debate sobre racismo e violência contra mulher

'Tribunais são verdadeiras máquinas de condenar e tirar pessoas pretas da sociedade', afirma Welington Arruda

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São Paulo

Um advogado criminalista viralizou no Twitter trazendo à rede diálogos de oitivas jurídicas. As publicações, com milhares de visualizações, provocam debates sobre violência contra a mulher e racismo. Ex-policial civil, mestre em direito e sócio de um escritório de advocacia em São Paulo, Welington Arruda divulga conversas entre juízes, testemunhas, promotores, vítimas, policiais, réus e outros advogados.

O primeiro diálogo publicado por Arruda foi retirado do documentário "Justiça" (2004), da diretora Maria Augusta Ramos, longa que mostra audiências de fóruns criminais no Rio de Janeiro.

Na oitiva, um menino que havia matado seu pai diz que não sente falta dele, porque nunca havia recebido amor de seu genitor. A publicação teve mais de 3,5 milhões de visualizações e gerou mais de 122 mil likes e mais de 300 comentários.

Depois desse primeiro viral, Arruda passou a publicar diálogos que ele ou seus colegas de escritório acessam em audiências, inquéritos e relatórios de delegacias.

Alguns deles são interações entre juízes e policiais militares que indicam que os agentes de segurança teriam abordado suspeitos motivados por preconceitos raciais. Outros mostram acusados de injúria racial sendo confrontados em audiências.

A maior parte das publicações, porém, vêm de processos que envolvem violência contra mulheres. O post com mais alcance e engajamento de Arruda traz o caso de uma mulher que matou o marido agressor.

Questionada pelo juiz se já havia denunciado o marido à polícia, ela diz que registrou seis boletins de ocorrência contra o companheiro. A publicação teve mais de 4,6 milhões de visualizações.

O escritório onde Arruda trabalha com outros seis colegas defende pessoas de todas as classes sociais. Cerca de 40% dos casos, estima, são aceitos de forma pro bono.

"Nosso escritório sempre teve uma demanda de mulheres mais abastadas financeiramente que sofrem algum tipo de violência, mas não conseguem se livrar de relações em decorrência da relação de poder que seus companheiros têm sobre elas", diz o advogado.

"Depois das publicações, nós passamos a receber uma demanda de mulheres com maiores dificuldades financeiras, casos que envolvem violências com risco de morte.", afirma Arruda.

Para ele, mulheres que enfrentam audiências ou outros tipos de oitivas recebem tratamento diferente do que homens costumam receber. "O Ministério Público, os juízes e advogados têm uma tendência a transformar a mulher em alguém que mereceu ser vítima. Isso é muito corriqueiro".

A pressão, defende ele, também é maior sobre pessoas negras. "Os tribunais são verdadeiras máquinas de condenar e tirar pessoas pretas da sociedade".

Arruda conta que sua vontade de ingressar em carreiras ligadas à criminalidade vem da juventude vivida na periferia da cidade de Poá, na região metropolitana da capital paulista.

"Minha origem é muito pobre. Uma origem com falta de tudo. Posso dizer que, da minha infância, os que não foram presos estão mortos", relata o advogado. "Mas defender quem já sofreu algum tipo de violência me traz uma sensação de muita alegria."

Há desafios por trás da publicações. Como a maioria dos diálogos estão em processos sob segredo de justiça, os tuítes não podem identificar as partes. Também é preciso traduzir o juridiquês das cortes em uma linguagem acessível ao internauta leigo, além resumir a conversa em um número limitado de caracteres.

Arruda diz que alguns seguidores já o acusaram de inventar diálogos, alegando que algumas conversas, excessivamente brutais, não teriam lugar na realidade.

Exemplo disso é um diálogo entre um advogado e uma testemunha, de um caso de um jovem que havia matado a própria mãe.

A testemunha, vizinha do rapaz, relatou na oitiva que o próprio assassino havia lhe pedido para chamar a polícia, após confessar o crime. "Quem não acompanha o dia a dia dos tribunais acha que situações assim são improváveis", diz Arruda.

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