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Saiba quem faz os memes da CPTM, que viralizou com 'batalha épica entre Bentley e trem'

Equipe de funcionários públicos combina formações sem relação direta com marketing

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São Paulo

Criativas e inusitadas, as publicações virais da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) sempre recebem comentários pedindo aumento no salário do estagiário. No caso, a estagiária do departamento de marketing da empresa é a estudante de relações públicas Ana Laura Barbosa, 19, uma das responsáveis pelo sucesso que a companhia faz nas redes. E ela não é a única.

Foto colorida mostra funcionários do departamento de Marketing da CPTM
Os funcionários do departamento de marketing da CPTM. Da esquerda para a direita: Evandro Xavier, Rodrigo Cayque Silva Rodrigues, Eduardo Ghiradelli Gonçalves, Beatriz Andrade, Anderson Seiji, Ana Laura Barbosa e Matheus Evandro, a fantasia de jacaré, mascote da companhia - Susana Terao/Folhapress

Na realidade, por trás de cada publicação há uma equipe de sete pessoas. "Nos perguntam quem é a agência responsável e eu digo que é a A.I., ou seja, agência interna. Todos aqui são funcionários da companhia", diz Eduardo Ghiradelli Gonçalves, 63, chefe do departamento de marketing.

O perfil tem mais de 229 mil seguidores no Instagram e 147 mil no TikTok. Recentemente, viralizou com uma peça que, nas palavras da conta, é uma "batalha épica entre o Bentley e o nosso trem", mesclando trechos da propaganda do carro de luxo com o paralelo da rotina de um colaborador da manutenção da companhia. O vídeo já tem mais de 6,7 milhões de visualizações só no Instagram.

Em um comentário para engajar o público, o perfil @cptm_oficial escreveu "Botão de quem prefere o trem" e recebeu mais de 72 mil curtidas. Isso, conta a equipe ao #Hashtag, era impensável há três anos, quando foram reunidos devido a um programa interno da empresa.

A conta tem como principal objetivo informar os passageiros da CPTM sobre o andamento de obras, dicas de segurança, informes sobre a limpeza das estações e demais serviços, como o expresso aeroporto, eventos de castração de animais e atrações da cidade que podem ser acessadas via transporte público.

Assim, efemérides são a oportunidade perfeita para trazer um pouco de humor para o perfil. Por exemplo, quando utilizam inteligência artificial para envelhecer um maquinista e celebrar o Dia dos Pais ou reúnem dois profissionais que partilham um laço fraternal para o Dia do Irmão.

A equipe também não deixa de lado as referências da cultura pop, como o Dia da Toalha, da série "O Guia do Mochileiro das Galáxias", e o retorno das aulas em Hogwarts da saga "Harry Potter".

O grupo é uma combinação improvável, já que nenhum dos profissionais é formado em marketing ou publicidade. Anderson Seiji, 40, Beatriz Andrade, 28, e Evandro de Sousa Xavier, 29, trio responsável pelas legendas informativas das publicações e de todas as interações com os passageiros nas redes sociais, são formados, respectivamente, em química, contabilidade e banco de dados. Seiji e Xavier vieram da área de tração, onde faziam a escala de maquinistas, e Beatriz do setor de engenharia.

Apenas Rodrigo Cayque Silva Rodrigues, 30, responsável pela identidade visual do perfil, é formado em design. Tanto o chefe quanto a equipe garantem que ele é a mente por trás dos sucessos. Todos fazem uma apuração das tendências das redes sociais e procuram tecer um planejamento mensal, e é Rodrigo Cayque quem dirige, produz, filma e edita os materiais.

A nova gestão, mais lúdica e alinhada aos principais memes do momento, vem de uma tentativa de chamar a atenção e fidelizar internautas.

"É importante ter posts assim, porque a gente atrai o público e, quando precisamos falar o que é realmente importante, temos mais gente para interagir", diz Rodrigo Cayque. "Falar só do expresso aeroporto tem um engajamento, falar só de uma trend tem outro. Quando a gente junta os dois, acaba indo muito mais longe."

Ele exemplifica que posts mais burocráticos, como o alerta para ter atenção ao desembarcar, não vão tão bem no engajamento. Para driblar isso, o designer tenta inserir algum meme que chame atenção, como aquele com Michael Jackson dançando.

Além de captar as imagens nas estações, Rodrigo Cayque também tem um estúdio munido de teleprompter, tela verde e isolamento acústico.

Os atores presentes nos vídeos do perfil são os próprios colaboradores da CPTM, como seguranças e coordenadores. "Internamente a gente faz essas atividades com o pessoal, de interagir com eles. Alguns compraram muito essa ideia de estar nas redes, gostam de participar", diz Matheus Evandro, 29, responsável pelo endomarketing.

E, para além da presença de Ana Laura, que faz relatórios do alcance do perfil, quem chega para o público externo como o estagiário oficial é o mascote Zecaré (cuja verdadeira identidade é segredo, mas é um dos colaboradores).

O personagem costuma aparecer nos vídeos de humor, mas principalmente para comemorar as marcas de seguidores que a conta atinge. No post de 200 mil, ele foi acompanhado de memes que ilustraram outras postagens e até do cantor Bruno Mars.

Na falta de colaboradores, a equipe de redes sociais dá as caras para atuar ou então disfarça o rosto com um filtro de avatar da Meta. Rodrigo Cayque também diz que utiliza muitas ferramentas de inteligência artificial para criar montagens e mudar um pouco o design dos trens.

O sucesso da página foi um alívio para a equipe, que lida constantemente com as reclamações dos passageiros. Eles defendem que há um equilíbrio maior entre os usuários que admiram o serviço e os críticos. "Nos primeiros posts que fizemos, era uma pessoa falando bem e as outras atacando ela. Agora são várias pessoas elogiando e, quando um reclama, existe diálogo", diz Evandro.

Em um post polêmico, Zecaré dança abaixo da frase "Quando falam mal da CPTM", e Beatriz aproveitou a legenda para pedir respeito para todos os colaboradores. "No Twitter, por exemplo, quando o pessoal dá uma reclamada, às vezes a pessoa está tão nervosa dentro do trem, reclama, você é gentil com ela e ela até agradece depois", diz. "Esquecem que tem alguém por trás da conta."

"Problemas existem em todos os lugares. A gente quer mostrar que tem ciência disso, mas tem a contrapartida de tentar resolver", diz o chefe do departamento Eduardo.

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