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Machado de Assis viraliza no TikTok estrangeiro: 'Por que ninguém me avisou dessa obra-prima?'

Courtney Henning Novak lê 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' como parte de desafio de leitura; tradutora da obra para o inglês diz se identificar com reação

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São Paulo

O livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" está, mais uma vez, no centro de discussões na internet. Agora, a "culpada" é a escritora e criadora de conteúdo Courtney Henning Novak, que viralizou ao reagir à leitura de Machado de Assis: "Por que ninguém me avisou que esse é o melhor livro já escrito?", pergunta em um de seus vídeos no TikTok.

Novak está participando de um projeto, #ReadAroundTheWorld, cuja proposta é ler um livro de cada país em ordem alfabética. O título de Machado foi selecionado para representar o Brasil. "Eu ainda tenho que ler de Brunei a Zimbábue e eu estou lendo este [Brás Cubas] agora? Ninguém podia intervir e sugerir outra ficção medíocre e, quando eu tivesse terminado o projeto, me sugerir essa leitura?", brinca a escritora.

Depois da leitura de "Brás Cubas", brasileiros indicaram à Courtney que lesse "Dom Casmurro", também de Machado. "Acho que é meu novo livro favorito, roubou o lugar de 'Memórias Póstumas'? Não sei, amei muito a ambos", diz em vídeo publicado em junho. "Machado de Assis é um tesouro, o mundo todo deveria estar louvando a sua escrita".

Não é a primeira vez que o Bruxo do Cosme Velho faz sucesso entre leitores estrangeiros. O cineasta norte-americano Woody Allen também se encantou com Machado de Assis. Ele revelou à Folha, em 1995, estar impressionado com o escritor brasileiro. "Ele é um escritor do século passado, mas extremamente moderno", disse Allen.

O escritor Philip Roth é outro de seus admiradores. Em 2009, o romancista disse à Folha ser fã do autor. Sobre Brás Cubas, contou: "Na minha época da faculdade, 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' era um cult absoluto. Algumas poucas pessoas o conheciam e repassavam um exemplar surrado de mão em mão. Descobri-lo era um prazer de poucos, do qual me orgulho."

Em 2020, uma nova tradução pelo selo Penguin Classics, de Flora Thomson-Devaux, esgotou em um dia.

Ao #Hashtag, a tradutora e diretora de pesquisa da Rádio Novelo conta que a obra foi tema de sua tese de doutorado. "Quando a gente faz uma tese de doutorado, é sem muita esperança de que qualquer pessoa além da banca vá ler. Já tive muita sorte com meu Brás –sorte de ter sido aceito na Penguin, sorte da publicação ter viralizado em 2020, e agora sorte de ter despertado esse entusiasmo de novo, um par de anos depois".

Ela conta que o interesse em estudar Machado de Assis foi despertado pelo carinho que sentiu pela cultura brasileira ao estudar a língua portuguesa na graduação. Como muitos, o primeiro contato veio de uma sensação de obrigação por ler os clássicos. "O que me surpreendeu foi o frescor absoluto do texto. Minha primeira reação foi muito parecida com a da Courtney –"e agora?" —Fiquei feliz demais de ver essa minha alegria e espanto iniciais espelhados nesse vídeo.", diz.

"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas" é, possivelmente, a dedicatória mais famosa da literatura brasileira.

Nas redes sociais, leitores argumentam que "vencemos a guerra literária" e comentam a desvalorização da literatura nacional.

No vídeo, a criadora também demonstra interesse em aprender português para ler a obra na língua original. No X, ex-Twitter, internautas ironizam dizendo que nem quem é nativo entende.

Pedrada atrás de pedrada.

"Ela tá indignada porque não acredita que vai achar um livro melhor no mundo. E não vai. No máximo do mesmo nível de prateleira", opina Felipe Neto, que já foi pivô de um dos debates virtuais a respeito do consagrado autor, quando afirmou que escolas não deveriam obrigar adolescentes a lerem Machado.

O maior que temos.

Recomendações.

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