Linha de Frente

É no hospital que as histórias de vida começam e terminam

Linha de Frente - Gerson Salvador
Gerson Salvador

Flor menina quer ser bailarina

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Perna de bailarina com sapatilha e tutu brancos com fundo preto.
Bailarina performa "Lago do Cisne" durante um ensaio geral no teatro La Maestranza em Sevilha. - CRISTINA QUICLER / AFP

Certa vez recebi um pedido de interconsulta da enfermaria pediátrica. A paciente tinha treze anos e se recuperava de um pós-operatório delicado em qualquer circunstância, algo mais para quem começava a adolescer.

Uma doença crônica em sua perna esquerda resultou em uma amputação do membro, como a ferida operatória infectou, chegou o pedido para eu, o infectologista, orientar a terapia antimicrobiana.

Quando cheguei para avaliar, a garota se encontrava no leito, abraçadinha a um ursinho de pelúcia que lhe consolava.

Bom dia, senhorita. Como se chama?

Flor!

Muito prazer! E o que essa menina Flor quer ser quando crescer?

Bailarina.

Flor olhou para cima e se abriu em um semisorriso.

Que lindo!

Orientei o tratamento às residentes da pediatria, o antibiótico seria a parte menos desafiadora do caso.

Soube que Flor teve alta em melhora, sendo necessário continuar com o medicamento em casa.

Após algumas semanas recebi um pedido de interconsulta em outro hospital, serviço de referência em reabilitação, para uma garota de treze anos chamada Flor!

Ao chegar no quarto vi aquele ursinho simpático no primeiro plano na beira do leito, e a mesma menina Flor sendo atendida pela fisioterapeuta.

Foi necessário outro ciclo de antibióticos, pós a cicatrização da ferida, foi moldada uma prótese e agora ela aguarda a confecção de seu novo membro protético.

Por acaso me encontrei com a menina Flor no pátio externo, onde há sol e as crianças em reabilitação brincam e ganham novas habilidades a partir dos cuidados da equipe multiprofissional. Ela olhava admirada para o cartaz que convidava para o espetáculo de uma bailarina que teve a perna amputada e usava uma prótese com uma sapatilha de ponta. Flor bailava com os braços em círculos se abrindo, e olhando o porvir.

Como Cecília nos presenteou com seus versos: essa menina tão pequenina quer ser bailarina.

Flor menina, graciosa e decidida, vai ser bailarina.

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