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Salvador Nogueira

Superterras podem ser super-habitáveis, diz estudo

Experimento aponta que campo magnético dura mais em planetas maiores que o nosso

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Depois de descobertos mais de 4.500 planetas fora do Sistema Solar, já sabemos que planetas rochosos ligeiramente maiores que o nosso, comumente referidos como superterras, são comuns no Universo. Agora, um novo estudo sugere que esses mundos podem também ser até mais convidativos para a vida que o nosso.

A chave é o campo magnético. Gerado pela presença de ferro líquido no núcleo do planeta, ele age com um ímã gigante que protege a superfície de boa parte da radiação nociva do Sol e do meio interestelar. Mas sabemos que o interior planetário vai se resfriando com o tempo, e a capacidade de gerar um campo magnético não é para sempre. Marte, por exemplo, menor que a Terra, já perdeu o dele.

As superterras, contudo, são um desafio: como não há mundo similar no Sistema Solar, só podemos estimar sua magnetosfera modelando o interior do planeta. E para isso é preciso compreender como o ferro se comporta no núcleo desses mundos, sob pressão imensa. Usando um dos mais poderosos sistemas de laser já construídos, os pesquisadores liderados por Richard Kraus, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, comprimiram ferro a pressões de até 1.000 gigapascais –três vezes a pressão do núcleo interno da Terra e quatro vezes maior que o recorde de experimentos anteriores.

Concepção artística do planeta Kepler-62f, uma superterra com diâmetro 40% maior que o da Terra, orbitando uma estrela a 1.200 anos-luz daqui.
Concepção artística do planeta Kepler-62f, uma superterra com diâmetro 40% maior que o da Terra, orbitando uma estrela a 1.200 anos-luz daqui. - AFP/Nasa/Ames/JPL-Caltech/T. Pyle

Ao traçar a curva do ponto de derretimento do ferro a pressões cada vez maiores, a equipe gerou dados experimentais para modelar corretamente o interior das superterras. Os resultados foram publicados na última edição da Science e indicam que mundos mais parrudos que o nosso podem manter uma magnetosfera protetiva por mais tempo. O auge se daria entre os planetas com 4 a 6 vezes a massa da Terra.

A propósito, os pesquisadores usaram os dados experimentais para estimar a duração da magnetosfera do nosso planeta, e a notícia é boa: uns 6,2 bilhões de anos. Como a Terra tem 4,5 bilhões, há ainda um longo período de proteção pela frente. Mas as superterras são ainda mais longevas em sua habitabilidade.

O achado é um ótimo exemplo confirmador do clássico princípio copernicano, também conhecido como princípio da mediocridade. No século 16, Nicolau Copérnico defendeu a ideia de que a Terra não era o centro do Universo, e sim apenas mais um planeta, como outros, a girar em torno do Sol. A investigação dos mundos do Sistema Solar revelou que, por essas bandas, o nosso é, disparado, o mais amigável à vida. Mas isso não quer dizer que esse seja o melhor que fica, quando olhamos para outros sistemas planetários. Pelo visto, superterras que orbitem a zona habitável de estrelas similares ao Sol têm mais tempo e oportunidade para a vida se desenvolver e evoluir do que nós tivemos por aqui.

Vale lembrar, contudo, que a presença de uma magnetosfera robusta é apenas uma das várias condições que precisam ser satisfeitas para que um planeta seja de fato habitável.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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