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Salvador Nogueira

Conflito na medição da taxa de expansão do Universo abala modelo

Trabalho consumiu quase 30 anos de observações do Telescópio Espacial Hubble

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Um novo estudo, consumindo dados colhidos ao longo de quase 30 anos pelo Telescópio Espacial Hubble, pode muito bem ser a maior contribuição do venerável satélite à compreensão humana do Universo: ele mostra que, em essência, faltam peças em nosso modelo mais consagrado da evolução do cosmos, iniciada com o Big Bang, 13,8 bilhões de anos atrás.

A coisa toda gira em torno da chamada constante de Hubble, termo batizado em homenagem não ao telescópio, mas ao astrônomo que lhe emprestou o nome, o americano Edwin Hubble. Nos anos 1920 e 1930, o pesquisador fez parte das primeiras estimativas consolidadas da relação entre distância e velocidade de afastamento de galáxias, demonstrando que o universo está em expansão. A que ritmo? É o que a constante de Hubble diz, e medições cada vez mais exatas dela têm sido feitas no último século. A que agora se apresenta, em artigo especial a figurar no Astrophysical Journal, é a mais precisa a ser tomada por método similar ao adotado pelo antigo astrônomo.

O trabalho faz parte do projeto SH0ES e tem a liderança de Adam Riess, um dos cosmólogos premiados com o Nobel pela descoberta, em 1998, da energia escura, uma força que supostamente tomou conta do Universo nos últimos 5 bilhões de anos e tornou a expansão cósmica acelerada. Usando imagens produzidas pelo telescópio espacial praticamente desde seu lançamento, os pesquisadores se concentraram em variáveis cefeidas e supernovas tipo Ia localizadas em 42 galáxias diferentes. Cefeidas são uma classe de estrelas gigantes pulsantes e supernovas Ia consistem em explosões de anãs brancas ao roubarem material suficiente de uma estrela companheira. Em ambos os casos, elas permitem uma estimativa confiável da distância a partir de seu brilho.

Coleção de galáxias observadas pelo Hubble para a medição da taxa de expansão do Universo
Coleção de galáxias observadas pelo Hubble para a medição da taxa de expansão do Universo - Nasa/ESA/STScI/A. Riess

A velocidade de afastamento, por sua vez, pode ser extraída a partir do avermelhamento (redshift, em inglês) medido na luz das galáxias. É o fato de que objetos que se afastam de nós ficam com a luz mais avermelhada quanto maior for sua velocidade de recessão (bem como mais azulada, se em vez disso estiverem se aproximando).

Com os dois dados, é possível estimar a constante de Hubble, conhecida como H0. O grupo de Riess chegou a um número bem preciso: 73 km/s/megaparsec, com margem de erro de 1 km/s/Mpc. Traduzindo: a cada segundo que passa, cada megaparsec de espaço (3,26 milhões de anos-luz) se expande mais 73 km.

E agora vem o mistério: de acordo com modelo cosmológico padrão, aplicado a dados do satélite europeu Planck, esse número deveria ser 67,5 km/s/Mpc, com margem de erro de meio km/s/Mpc. "Não há indicação de que a discrepância surja de incertezas de medições ou variações de análises consideradas até hoje", escrevem Riess e seus colegas. O que precisa possivelmente de revisão, portanto, para tudo voltar a se alinhar, é o modelo cosmológico padrão.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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