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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Telemetria da Voyager-1 indica que sonda pode estar ficando gagá

Lançada em 1977, espaçonave está a 23,3 bilhões de quilômetros da Terra

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A Nasa emitiu uma nota na semana passada que deixou muitos intrigados, possivelmente preocupados, com a espaçonave Voyager-1, o objeto mais distante já lançado pela humanidade. E o que mais angustia não é o que a agência espacial americana disse, mas o que deixou de dizer: a Voyager, tadinha, está ficando gagá.

Pois é, naves espaciais, ainda que equipadas com longevas baterias de plutônio e projetadas para sobreviver no ambiente hostil do vácuo do espaço, tomando doses cavalares de raios cósmicos, também envelhecem. O mais comum para elas, por sinal, é o corpo sucumbir antes da mente.

Pegue o exemplo da InSight, sonda que desceu na superfície marciana em 2018. Está neste momento em processo natural de morte por acúmulo de poeira nos painéis solares. Tudo a bordo em princípio funciona, mas, sem energia suficiente, ela deve acabar se desligando nos próximos meses –a não ser que uma intervenção "médica", na forma de uma ventania capaz de arrancar parte da poeira dos painéis, a salve.

Concepção artística da Voyager-1, lançada em 1977
Concepção artística da Voyager-1, lançada em 1977 - Nasa

A Voyager-1 também está sucumbindo ao processo natural de envelhecimento por falta de eletricidade. Sua pilha de plutônio gera cada vez menos energia, o que significa que é preciso racionar. Alguns instrumentos, como as câmeras fotográficas (inúteis a 23,3 bilhões de quilômetros da Terra, onde ela está agora), foram desativados há tempos. Outros, como os medidores do ambiente de radiação (que, por sinal, foram os que indicaram que a nave, em 2012, deixou a bolha magnética em que o vento solar predomina sobre o das estrelas vizinhas), seguem firmes e fortes. Lançada em 1977, ela está velhinha, mas produtiva.

Entra em cena a mais nova anomalia detectada. Diz a telemetria enviada à Terra que o sistema de controle de atitude (que determina a orientação da nave no espaço) está todo desconjuntado. Porém, se esse fosse mesmo o caso, nem teríamos essa informação, porque a Voyager-1 teria mudado o apontamento de sua antena principal para outra direção, que não a Terra. Nisso, perderíamos o sinal.

Ou seja, o que o computador de bordo, a mente eletrônica da sonda, está nos dizendo sobre esse sistema não corresponde à realidade. Ou seja, o diagnóstico feito com a telemetria indica sinais de senilidade.

Até agora, esse problema não disparou nenhum sistema de emergência da sonda, como a entrada em "modo de segurança". Pode ser que nunca aconteça e siga tudo bem. Pode também se mostrar uma crise cada vez mais complicada, possivelmente irrecuperável no futuro. Não sabemos.

De toda forma, a bateria está no fim. A equipe espera conseguir colhendo dados científicos para além de 2025 e talvez manter só o contato de telemetria a partir de 2030. Mas, de um jeito ou de outro, após uma gloriosa jornada, a missão da Voyager-1 vai chegando ao fim. Não num repente, mas se apagando aos poucos, como tantos de nós que vivem para atingir a longevidade.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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