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Salvador Nogueira

Europeus lançam missão para decifrar conteúdo 'escuro' do Universo

Telescópio Euclid vai criar mapa 3D de distribuição de galáxias pela chamada teia cósmica

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Cerca de 95% do conteúdo do Universo é feito de duas coisas que a ciência ainda não sabe o que são. Por falta de como descrevê-las, elas são chamadas de matéria escura e energia escura. E agora a ESA (Agência Espacial Europeia) acaba de lançar uma missão dedicada a explorar especificamente esses mistérios.

Trata-se do telescópio espacial Euclid, lançado por um foguete Falcon 9 da SpaceX a partir de Cabo Canaveral, na Flórida, às 12h12 (de Brasília) deste sábado (1º). Ao se instalar em sua órbita heliocêntrica (ou seja, em torno do Sol) a 1,5 milhão de km da Terra (na mesma região em que estão outros satélites astronômicos, dentre eles o Telescópio Espacial James Webb), ele terá como missão observar cerca de um terço do céu, fugindo apenas das áreas mais luminosas da faixa da Via Láctea e do plano do Sistema Solar, ao longo de seis anos.

O objetivo é mapear a estrutura de larga escala do Universo, ou seja, como as galáxias, seus aglomerados e superaglomerados se distribuem daqui até as profundezas do espaço, formando a chamada teia cósmica. Isso, por sinal, explica o nome da missão: como a distribuição de matéria e energia está associada à geometria do espaço-tempo, veio a decisão de batizar a espaçonave com o nome de Euclides, matemático grego que fundou essa área de estudo no século 3 a.C.

Concepção artística do telescópio espacial Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA)
Concepção artística do telescópio espacial Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA) - ESA

Ao longo de seis anos, a expectativa é que o Euclid, com seu espelho primário de 1,2 metro, registre mais de 12 bilhões de galáxias, cobrindo cerca de 10 bilhões de anos de história cósmica (lembremos que, quanto mais profundo se vê, mais antiga é a luz que agora chega até nós, o que torna a observação de galáxias distantes equivalente a vê-las como eram bilhões de anos atrás).

Trata-se de um esforço de mapear detalhadamente o visível para tentar compreender o invisível. O Euclid tem dois instrumentos, o VIS, que é essencialmente uma câmera em luz visível, e o Nisp, fotômetro e espectrômetro de imagem em infravermelho próximo. Com o VIS, o telescópio poderá detectar as lentes gravitacionais que denunciam a presença de matéria escura, já que ela é conhecida justamente pela gravidade que exerce, ainda que seja invisível. Já o Nisp poderá estimar a distância e a velocidade de afastamento das galáxias, permitindo a criação de um mapa 3D do cosmos –ferramenta essencial para decifrar a energia escura, percebida apenas por seu efeito de acelerar a expansão do Universo.

O projeto, que custou € 1,4 bilhão, vem para aprofundar, a partir de uma plataforma privilegiada no espaço, longe dos efeitos da atmosfera terrestre sobre a observação, iniciativas conduzidas em solo, como a DES (Dark Energy Survey, ou Pesquisa da Energia Escura), que tem objetivos similares. Quem sabe, com os 170 milhões de gigabytes de dados que o Euclid irá gerar, venham as respostas sobre a composição dos 95% escuros do Universo? Seja como for, aprenderemos detalhes importantes sobre a evolução do cosmos nos últimos 10 bilhões de anos e pistas de como ele seguirá se transformando no futuro.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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