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Salvador Nogueira

Webb revela planetas binários errantes na nebulosa de Órion

Achado sugere compreensão incompleta dos processos de formação planetária

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Explorando a sensibilidade aguçada do Telescópio Espacial James Webb, uma dupla de astrônomos encontrou o que poderia ser descrito como um rebanho de planetas errantes no interior da famosa nebulosa de Órion, num achado que pode mudar profundamente a compreensão que a ciência tem da formação desses objetos.

Observar planetas errantes –aqueles que não orbitam em torno de estrelas e apenas vagam pela Via Láctea– não é uma tarefa fácil, mas se torna viável com o equipamento certo, como o Webb, e o alvo certo, como a nebulosa de Órion. Visível a olho nu e localizada a cerca de 1.300 anos-luz da Terra, ela é o berçário estelar mais próximo daqui. A grande vantagem de estudá-la é que seus astros são jovens (no máximo uns poucos milhões de anos) e ainda retêm significativo calor de formação, o que torna até mesmo planetas relativamente modestos detectáveis em observações no infravermelho.

Com efeito, Samuel Pearson e Mark McCaughrean, da ESA (Agência Espacial Europeia), detectaram nada menos que 540 candidatos a objetos de massa planetária vagando pela nebulosa. O escopo da busca impressionou, atingindo desde objetos no limite entre anãs marrons (estrelas abortadas) e planetas, que costumam ter 13 vezes a massa de Júpiter, até astros com apenas 60% da massa do maior planeta do Sistema Solar.

Imagem colhida pelo Telescópio Espacial James Webb da nebulosa de Órion
Imagem colhida pelo Telescópio Espacial James Webb da nebulosa de Órion - Nasa/ESA/CSA

O que surpreendeu, contudo, foi um subconjunto desses achados: 40 deles, o equivalente a 9%, eram compostos por dois objetos em órbita longa um do outro. A dupla apelidou esses de JuMBOs, acrônimo que corresponde a "objetos binários com massa de Júpiter", e o drama é que nem eles, nem ninguém, tem ideia de como esses estranhos membros do zoológico cósmico podem ter surgido.

O mais natural seria pensar que eles se formaram ao redor de uma estrela, como os planetas do Sistema Solar, e acabaram ejetados dali –o que deve acontecer com certa frequência durante o processo de formação planetária. Mas não há modelo que explique como uma dupla de planetas jovianos pode ter sido ejetada e mantida unida em sua jornada pela galáxia.

A alternativa seria pensar na formação desses objetos pelo colapso gravitacional de parte da nuvem de gás da nebulosa, de maneira similar ao nascimento das estrelas. Mas o processo, até onde se sabe, não se encaixa com o surgimento de objetos modestos de porte planetário, como os descobertos por Pearson e McCaughrean.

É possível que alguma variação desses processos clássicos dê conta do fenômeno, mas também há a possibilidade de que uma alternativa até então não pensada seja exigida para dar conta de explicar o rebanho de planetas errantes da nebulosa de Órion.

Em seu artigo, os astrônomos festejam o papel do Telescópio Espacial James Webb na revelação de objetos jamais vistos antes que podem trazer novos lampejos sobre a formação de planetas e sugerem que modelagens inovadoras precisarão ser feitas para explicar essa população inesperada de mundos binários errantes.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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