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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu astronomia

Novo mapa 3D pode mudar nossa compreensão do destino do Universo

Observações feitas nos EUA sugerem que energia escura pode variar com o tempo

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A divulgação dos resultados do primeiro ano de dados de uma colaboração internacional de mais de 900 pesquisadores de cerca de 70 instituições, feita na última quinta-feira (4), traz uma sugestão intrigante: será que a energia escura –a enigmática força que atualmente está acelerando a expansão do Universo– varia com o tempo?

O instrumento Desi, instalado no telescópio de 4 metros do Observatório Nacional de Kitt Peak, nos EUA, observou uma fatia do céu, determinando a posição de 6,4 milhões de galáxias e quasares, além de medir um fenômeno conhecido como oscilações acústicas de bárions –cientifiquês para descrever os padrões de espalhamento deixados por ondas sonoras que viajavam pelo Universo primordial, muito mais quente e denso que o atual. Com as duas coisas, os pesquisadores podem estimar o afastamento dessas galáxias e a taxa de expansão a que foram submetidas nos últimos 13 bilhões de anos.

Com isso, eles criaram o maior mapa 3D já feito do cosmos, delineando a chamada "teia cósmica" (o padrão de distribuição da matéria pelo Universo). Com margens de erro que variam entre 1% e 3% (dependendo da distância, e portanto da época do Universo a que se referem), as taxas de expansão medidas são compatíveis com o chamado modelo padrão da cosmologia. Baseado na teoria da relatividade, ele tem três ingredientes básicos: matéria bariônica (aquela que todos conhecemos), matéria escura (que só detectamos indiretamente pelos efeitos gravitacionais) e a energia escura (uma força misteriosa que está acelerando a expansão do Universo de uns 6 bilhões de anos para cá).

Mapa em 3D do Universo com registro de 6,4 milhões de galáxias (a Terra estaria no centro) feito pela colaboração Desi; em destaque, um zoom de uma parte do mapa, delineando o padrão da "teia cósmica".
Mapa em 3D do Universo com registro de 6,4 milhões de galáxias (a Terra estaria no centro) feito pela colaboração Desi; em destaque, um zoom de uma parte do mapa, delineando o padrão da "teia cósmica". - Claire Lamman/Colaboração Desi

Um detalhe importante é que esse modelo trata a energia escura como uma "constante cosmológica", o que implica que a densidade dela em qualquer parte do Universo seria a mesma todo o tempo. E aí é que entra a novidade introduzida pelo primeiro ano de dados do Desi, divulgada em dez artigos científicos publicados no site do projeto: juntando essas novas medidas a outros resultados que medem a expansão, o melhor encaixe não seria com uma energia escura constante, mas variável –que muda ao longo do tempo.

A sugestão –e por ora não passa disso, já que, dentro da margem de erro, as novas medidas ainda se encaixam com o modelo padrão– pode obrigar a uma reforma da nossa compreensão da evolução do cosmos e também terá implicações em como ele irá terminar. Por ora, tratando a energia escura como constante, a conclusão inescapável é a de que o Universo seguirá se expandindo para sempre, até se diluir completamente. Seria um fim "frio" para o cosmos.

Se, no entanto, ela for variável, é possível que a expansão acelerada acabe se revertendo, o que faria o Universo terminar "quente", num Big Crunch, com o esmagamento de toda a matéria em um só ponto –um Big Bang ao contrário. Com efeito, os resultados novos parecem sugerir, em seu melhor encaixe, uma sutil redução recente na taxa de aceleração da expansão cósmica.

Os pesquisadores envolvidos com o Desi esperam que, ao final de sua missão de cinco anos, ao mapearem cerca de 40 milhões de galáxias, a precisão seja suficiente para cravar qual é a da energia escura, se ela se alinha ou não ao modelo padrão. E isso, naturalmente, traria subsídios para tentarmos entender o que é e como de fato se comporta essa misteriosa entidade cósmica, sobre a qual repousa o destino final de todo o Universo.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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