O Música em Letras convidou Dante Ozzetti, 65, compositor, arranjador e violonista, para participar da série Sem Noção (veja posts anteriores), que realiza audições às cegas de discos recém-lançados no mercado brasileiro.

O CD "Valsas, Choros e Canções" do compositor, arranjador, violonista e cantor Eduardo Gudin foi o escolhido para a audição realizada com Dante Ozzetti, que lançou recentemente "Abre a Cortina", disco que comemora os 25 anos de sua parceria musical com Luiz Tatit. Ozzetti também lançou recentemente "Timbres e Temperos", álbum de Enrico Di Miceli, Joãozinho Gomes e Patrícia Bastos, três artistas do Amapá, produzidos por ele e que tiveram os arranjos do disco assinados por ele.

Atualmente Dante Ozzetti está fazendo a trilha sonora do filme "Agreste", de Sergio Roizenblit, produzindo o álbum "Raízes Latinas", de Nazaco Gomes (Pará) e Gabriel Dietrich (Paraná), além do novo álbum da cantora Oneide Bastos, mãe da cantora Patrícia Bastos. "Em março começo a produzir o novo trabalho da Ná [Ná Ozzetti, cantora e irmã de Dante] e também o novo da Patrícia Bastos, que fará parte da trilogia junto com ‘Zulusa’ e ‘Batom Bacaba’", disse referindo-se aos outros dois discos da excelente cantora amapaense.

"Valsas, Choros e Canções" é o 18º disco de Gudin, o único de sua discografia sem samba. O compositor assina a direção musical e os arranjos do álbum, exceto o arranjo escrito por Naila Gallotta para a música "Poente". Quem segura a onda das valsas, choros e canções com ele, cantando e tocando violão, são as cantoras e instrumentistas Léla Simões (violino e viola) e Naila Gallotta (piano).

Nas participações especiais figuram Ronen Altman, tocando bandolim na música "Jacob", um choro inédito, homenagem de Gudin a Jacob do Bandolim (1918-1969); e em "Paulista", clássico de Gudin em parceria com J.C. Costa Netto. Fernando Goldemberg participa tocando gaita na inédita "Poente", com letra de Marco Antônio da Silva Ramos para a música de Gudin. Já o cantor Renato Braz, como sempre, arrebenta na regravação de "Luzes da Mesma Luz", de Gudin e Sérgio Natureza.

"Valsas, Choros e Canções" teve a produção realizada pela Realejo Produções Artísticas; o projeto gráfico é de Joana Gudin; fotografia, de Luis Villaça e figurino, de Mariana Marczyk. O disco foi gravado e mixado no Estúdio 185 – Apodi, em São Paulo, por Beto Mendonça e masterizado por Mário Gil.

Leia, a seguir, as impressões e avaliações sobre o disco "Valsas, Choros e Canções", de Eduardo Gudin, feitas por Dante Ozzetti com exclusividade para o Música em Letras.

"VALSAS,CHOROS E CANÇÕES" POR DANTE OZZETTI

FAIXA 1 - "Arrebentação", de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro, gravada com Léla Simões (viola, violino e voz), Naila Gallotta, (piano) e Eduardo Gudin (violão).

"Não consigo identificar nem quem está cantando e nem quem está tocando, mas essa é uma música muito bem composta. De quem sabe compor. Não sei se o compositor está tocando ou não está, mas quando se apresenta a composição com a parte instrumental percebe-se que ela é muito bem definida, muito bem concebida. O violão e o piano estão superbem encaixados, ninguém invade o espaço do outro. O violão está fazendo mais a base e o piano faz os comentários. Na parte instrumental parece que entram umas cordas que abrem num estéreo superinteressante e que mostra a qualidade musical da composição."

FAIXA 2 - "Jacob", de Eduardo Gudin, gravada com Léla Simões (viola), Naila Gallotta (piano), Eduardo Gudin (violão) e Ronen Altman, (bandolim).

"O disco aqui começa a ter uma cara, né? Uma cara na instrumentação que foi usada que é a mesma da faixa anterior, só que agora acrescentou um bandolim. O tipo de arranjo faz parecer que o disco é de compositor. Não está mostrando ser de instrumentista, pelo menos por enquanto, está sem fritar [tocar muitas notas de maneira rápida e sem a menor necessidade] ou mostrando improvisação, por exemplo. É uma coisa de quem é arranjador e compositor. Esta é a primeira impressão que me deu."

FAIXA 3 - "O velho e o Rio", de Eduardo Gudin, Marco Antônio da Silva Ramos, gravada com Léla Simões (viola, violino e voz), Naila Gallotta, (piano e voz) e Eduardo Gudin (violão).

"Olha, está começando a ficar familiar, mas ainda não sei quem é. A voz eu conheço de algum lugar, mas não estou lembrando de quem é...São duas vozes femininas e eu não sei de quem são, mas soam familiares. Esse tipo de harmonização no violão também é familiar, mas não vou arriscar dizendo quem é, mas essa faixa segue na linha das outras. Não está privilegiando o improviso, apesar de ter uma parte instrumental que é grande. É uma coisa de quem é compositor e arranjador. Não é do instrumentista, do piano ou do violão, mas de alguém que entende do global. Isso está muito claro. Não é de um instrumentista que quer dar um montão de notas, está tudo no lugarzinho certo. É o que eu estou entendendo."

FAIXA 4 - "Poente", de Eduardo Gudin e Marco Antônio da Silva Ramos, gravada com Léla Simões (viola, violino e voz), Naila Gallotta, (piano e voz) e Eduardo Gudin (violão e voz), Fernando Goldenberg, (gaita).

"Essa veio para dar um nó, porque é um outro tipo de composição, né? Uma composição de outra natureza, né? Começaram a cantar em dupla, nas outras faixas havia uma voz principal que continua sendo familiar para mim, mas não estou lembrando de quem é...Pô, desculpa aí quem é a dona da voz. "

FAIXA 5 - "Elegância Antiga", de Eduardo Gudin; gravada com Léla Simões (viola e voz), Naila Gallotta, (piano) e Eduardo Gudin (violão)

"Esta música é mais conhecida, só que eu não conheço ela com letra. Só estou em dúvida, porque ainda não sei se é um disco de composições ou de intérprete. Eu conheço essa música...Ainda não sei quem está cantando, nem de quem é o disco, mas a qualidade de gravação está espetacular. Quero até agradecer de você fazer eu ouvir esse disco porque é um disco bom de ouvir, né? Então pode colocar aí que estou curtindo ouvir porque está sendo muito legal e por ter sido esse disco, que ainda nem sei de quem é...Apesar de não identificar muita coisa a não ser um violão meio familiar e uma voz que parecia que eu estava chegando para descobrir de quem era, mas não consegui chegar, tem essa questão do repertório agora, mas deixa eu ouvir mais."

FAIXA 6 - "Choro do Amor Vivido", de Eduardo Gudin e Walter de Carvalho, gravada com Léla Simões (voz), Naila Gallotta, (piano e voz) e Eduardo Gudin (violão)

"Essa é instrumental com uns vocalizes. Continuo com a impressão de que o arranjo tanto para o violão quanto para o piano procura respeitar a música como ela é, com as notas certas, não tem escorregão e apresentando a música melodicamente como ela é. Nas demais tem uma coisa de harmonia que foi mais trabalhada e nessa, em especial, não muito. Então a música está como ela é mesmo, né? Aqui o disco começa apresentar uma unidade em termos de composição mostrando um caminho que ainda não sei qual é. Está coeso. "

FAIXA 7 - "Navegador", de Eduardo Gudin e Paulo Frederico, gravada com Léla Simões (viola, violino e voz), Naila Gallotta, (piano e voz) e Eduardo Gudin (violão).

"Essa música conversa mais com as primeiras, onde você tem um piano e um violão encaixados, onde ninguém invade o espaço um do outro. Não sei quem fez a mixagem, mas está superbem mixado. Você percebe claramente o piano semiaberto para um lado, o violão semiaberto para o outro e a voz no meio, além do grave do piano junto um pouquinho com o violão. Por ser bem mixado, o disco também é bom de ouvir. Acho que essa questão técnica da mixagem vale a pena falar. Ainda não vou arriscar dizer de quem é esse disco, mas ele tem uma cara de ser de um autor, mas com o tratamento harmônico de quem é compositor. Não sei se o compositor é quem está tocando violão, mas estou falando mais sobre a parte do violão que parece ser de quem está produzindo o disco ou fazendo o arranjo. Começou a ter uma assinatura."

FAIXA 8 - "Paulista", de Eduardo Gudin e J.C. Costa Netto, gravada com Léla Simões (viola e voz), Naila Gallotta, (piano e voz), Eduardo Gudin (violão e voz) e Ronen Altman (bandolim).

"Agora entregou que é um disco do Gudin. Primeiro porque nessa faixa ele começa cantando e confirma o que eu estava falando sobre o disco ser de um compositor e arranjador. Agora está fazendo mais sentido. Aqui aparece o arranjo de sempre dessa música encaixado nessa formação. Tudo o que eu sempre ouvi desse arranjo está nesse violão e nesse piano. Agora esse disco tem duas cantoras, com uma delas cantando sempre mais, mas ainda não sei quem é. "

FAIXA 9 - "Fábula", de Eduardo Gudin e Sérgio Natureza, gravada com Léla Simões (viola, violino e voz), Naila Gallotta, (piano e voz), Eduardo Gudin (violão e voz).

"Esta segue a linha das outras, sempre superequilibrados o piano com o violão. Acho até que nessa faixa, o violão tem um papel mais de frase que o piano, contrário à maioria das outras faixas, nas quais o piano faz mais a frases e o violão segura mais a harmonia. Acho até que essas frases já vêm com a composição, fazem parte da composição."

FAIXA 10 - "Luzes da Mesma Luz", de Eduardo Gudin e Sérgio Natureza; gravada com Léla Simões (viola e voz), Naila Gallotta, (piano), Eduardo Gudin (violão) e Renato Braz (voz).

"O Renato Braz como sempre veio abrilhantar este ou qualquer disco, né? O disco a cada faixa apresenta ter uma unidade. Só tem uma coisa que me encafifa, não sei se todas as composições são do Gudin, mas a harmonização é dele e deve ser ele quem está tocando porque é muito típico do Gudin, mas as letras não parecem ser dos parceiros que ele costuma ter. Na questão das letras sai um pouquinho do universo do que eu estou acostumado a conhecer do Gudin. Não tem a ver com o que ele costuma fazer, não sei se isso tem a ver porque ele não está tocando até agora nenhum samba, só valsas, canções e um choro, né? Pode ser que sejam parceiros novos dele ou tradicionais, mas que acharam um outro viés. Estou achando bem diferente isso, as letras."

FAIXA 11 - "Recordação de Mim", de Eduardo Gudin e Cacaso, gravada com Naila Gallotta (piano e voz) e Eduardo Gudin (violão).

"Esta, por enquanto, eu acho que é a música mais bem feita em termos de arranjo, no disco. Ela está perfeita na relação do piano com violão. É quase como se fossem um instrumento só. O violão faz uma coisa e o piano complementa, o piano joga uma coisa e o violão complementa e nada está invadindo o espaço do outro. Esse contraponto feito pelos dois instrumentos valoriza a melodia. Não tem frase a mais ou a menos. Essa relação dos instrumentos e também a mixagem levam a isso, né? Tem que considerar quem mixou. Está perfeita a faixa."

FAIXA 12 - "Valsa Anônima", de Eduardo Gudin e J.C. Costa Netto, gravada com Léla Simões (viola, violino e voz), Naila Gallotta, (piano e voz) e Eduardo Gudin (violão).

"Essa música são duas em uma só. Você tem uma melodia superbem defina e a harmonia, mas você tem um contraponto muito bem definido, que é quase uma outra música, na mesma harmonia. Isso é bem claro. O vocal das duas cantoras também está muito especial nesta faixa, faz parte do arranjo mesmo. Nesta faixa me identifico bastante, porque ele fez um arranjo mostrando como a melodia é, sem a preocupação de ficar improvisando, mostrando ou colocando outras notas, mas só mostrando como é a música. Acho que ele deve ter tido essa preocupação, intuitivamente ou não. Sei porque acontece comigo isso."

FAIXA 13 - "Lenda", de Eduardo Gudin, Roberto Riberti, Arrigo Barnabé e Hermelino Neder, gravada com Léla Simões (viola, violino e voz), Naila Gallotta, (piano e voz) e Eduardo Gudin (violão).

"Em primeiro lugar, essa música é uma obra-prima. Tem que falar que essa música é a obra-prima desse disco e, óbvio, da música brasileira, né? Essa música é muito bem feita. É a mesma coisa da anterior, metade instrumental e metade cantada. É muito bonita e igual à anterior não dá para ir para outro lugar a não ser mostrar como ela é mesmo, linda. Certamente ele deve ter tido essa preocupação, e a música foi muito bem tocada, executada e arranjada. Está tudo no lugar, né? "

AVALIAÇÃO PONTUAL

INTÉRPRETE

"Bom"

COMPOSIÇÕES

"Ótimo"

HARMONIAS

"Ótimo"

RITMOS

"Bom"

MELODIAS

"Ótimo"

ARRANJOS

"Ótimo"

SOM (CAPTAÇÃO, MIXAGEM E MASTERIZAÇÃO)

"Ótimo"

CONSIDERAÇÕES GERAIS

"Este é um disco com um viés do Gudin que a gente não conhece tanto, talvez porque ele não tenha explorado tanto ainda. De músicas lindíssimas com metade delas quase sempre instrumentais, onde o Gudin enfatiza seu lado de compositor instrumental dentro da canção. O disco tem uma unidade espetacular, primeiro na escolha de poucos instrumentos, com violão e piano em todas as músicas e cordas em algumas delas, sendo o piano e o violão extremamente complementares. Está muito bem definido o que cada um está tocando. Isso além de espetacular dá uma unidade incrível. Não é um disco de milhares de notas, mas elas estão no lugar certo. As vozes femininas estão na linha de trabalho do Gudin, não têm muita diferença com o que ele sempre faz de se calçar com algumas vozes femininas, colocando-as do mesmo jeito, como ele sempre fez."

Perguntado se há lugar no mercado para esse álbum, Dante Ozzetti respondeu: "Vou responder com uma outra pergunta: Existe mercado para algum CD?".

Dante Ozzetti gostou da escolha do disco "Valsas, Choros e Canções" para ser por ele avaliado? "Mais uma vez eu agradeço a possibilidade de ouvir este disco com atenção. Porque, às vezes, a gente não consegue ouvir um disco inteiro com a atenção que merece. Você ter me oferecido esse disco para ouvir, opinando ou não opinando, já é um grande presente. É uma honra e depois que fui descobrindo que era do Eduardo Gudin senti uma baita de uma responsabilidade. Isso é um presente que você está me dando. Obrigado."

AVALIAÇÃO DO CD "VALSAS CHOROS E CANÇÕES", DE EDUARDO GUDIN POR DANTE OZZETTI

"Bom"

CD "VALSAS CHOROS E CANÇÕES"

ARTISTA Eduardo Gudin

GRAVADORA Independente

QUANTO R$ 30 em média