Música em Letras

O mundo dos sons por meio da leitura

Música em Letras - Carlos Bozzo Junior
Carlos Bozzo Junior

Guitarrista Ricardo Silveira fará show de álbum atemporal, em São Paulo

Espetáculo acontece no Sesc Belenzinho; leia entrevista exclusiva com o músico

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um dos melhores guitarristas do Brasil, o carioca Ricardo Silveira, ou Ricardinho como muitos o chamam, fará um único show, na próxima sexta-feira (19), às 21h, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, apresentando o repertório do disco "Bom de Tocar", lançado há 40 anos, além de outras músicas.

Neste momento, 15h, deste sábado (13), o músico que já tocou com o flautista norte-americano Herbie Mann (1930-2003), os cantores Milton Nascimento e Elis Regina (1945-1982) e o mestre da música universal, o alagoano Hermeto Pascoal, estará em Garanhuns (PE) para tocar com um dos papas da MPB, João Bosco.

Em foto colorida, o guitarrista, compositor e arranjador Ricardo Silveira posa para a câmera
O guitarrista, compositor e arranjador Ricardo Silveira - Nando Chagas/Divulgação

Shows e gravações com os melhores da música não lhe faltam, mesmo assim o artista que na próxima sexta-feira (19) se apresentará com seu quinteto formado por Rômulo Gomes, no baixo, Thiago Big Rabello, na bateria, Renato Neto, nos teclados, e Pedro Silveira, na guitarra, topou dar uma entrevista exclusiva para o Música em Letras.

Entrevista essa que não poderia deixar de ser feita, pois o atemporal álbum "Bom de Tocar" (1984), lançado pela Poygram, virou livro pelas mão de Pedro Silveira, guitarrista e filho de Ricardo, e merece muito ser lido para que se conheça mais sobre um dos músicos mais respeitados em sua arte.

O disco então...nem te falo. Até porque – adoro usar essa frase - "Quando se fala sobre música, palavras não são o suficiente". E sabe por quê? Porque tem que ouvi-la, principalmente a que é concebida por profissionais como o Ricardinho, que sabe e muito bem o que é bom de tocar.

Leia, a seguir, a entrevista exclusiva que o músico Ricardo Silveira concedeu ao blog e saiba, entre várias coisas, por que o artista considera "Bom de Tocar" um álbum, que se ele pudesse regravar, "não mudaria nada".

Em foto colorida, Ricardo Silveira posa com uma guitarra para a câmera
Ricardo Silveira - Nando Chagas/Divulgação

Descreva o livro "Bom de Tocar" e cite a importância dessa publicação.

Sempre achei interessante a ideia de fazer um songbook, pensava em juntar as partituras que escrevia pra gravações e shows, mas nunca tinha parado pra fazer, até que o Pedro teve a ideia de fazer um livro, com minhas músicas, como dissertação de mestrado na Uni Rio. Essa foi a ideia inicial, mas o livro, além das partituras de 15 músicas, tem textos biográficos que contam histórias sobre as músicas, gravações, viagens, encontros, e ele fez isso com muito bom gosto e cuidado estético. Quanto à escolha das músicas, o critério dele foi escolher 15 entre as que eu havia gravado mais de uma vez. Gisela Zincone, da editora Gryphus, foi parceira e o livro ficou lindo.

Descreva o álbum "Bom de Tocar" e cite a importância dele na música brasileira.

No começo dos anos 80, eu já tinha tocado com Herbie Mann, Elis Regina, Milton Nascimento, Gilberto Gil e estava gravando com muita gente. Certa vez, na Polygram, durante uma gravação do Zé Renato (ou do Boca Livre), conheci o Roberto Menescal, que era o diretor artístico da gravadora, e um cara sensacional, além de sua importância histórica como músico e compositor muito querido por todos; e aquele encontro foi um divisor de águas. Ele [Menescal] perguntou se eu compunha. Na hora eu disse que sim, porque tinha alguns temas e ideias, mas fui pra casa e comecei a trabalhar, por que ele pediu uma fita pra mostrar numa reunião. Depois de ouvir a fita demo, ele sugeriu que eu fizesse um disco instrumental, literalmente abriu as portas. Os estúdios estavam já ocupados com inúmeras gravações e eu também tinha viagens, então fomos fazendo o disco aos poucos, com calma, em horários alternativos, que foi lançado em novembro de 1984. Quanto à importância dentro da imensa música brasileira não sei, mas ao longo dos anos, tocando pela vida, encontrei e continuo encontrando pessoas ou recebendo mensagens de gente que tem carinho pelo "Bom De Tocar", e, consequentemente, pelo trabalho que começou ali. Então é certamente importante para mim.

O álbum "Bom de Tocar" foi lançado há 40 anos, você ainda o considera atual? O que você modificaria ou não nele caso o gravasse novamente?

Não mudaria nada, é como uma foto ou um filme daquele momento, a qualidade do som é boa, e mesmo que datada, me traz boas lembranças. Algumas músicas do disco tiveram outras gravações e arranjos diferentes. É bacana ouvir as músicas soando bem ao longo dos anos. Acho que, na essência, uma melodia assoviada, por exemplo, pode ser atemporal, ou pelo menos gosto dessa ideia.

Descreva uma passagem do livro que, ao lê-la, você ainda se emociona.

Cada vez que olho para o livro e lembro que foi feito pelo Pedro e como trabalho de mestrado, é emocionante.

Descreva três ou mais músicas do álbum que estão no repertório do show.

"Bom De Tocar". Foi talvez a primeira [música] que compus sabendo que ia ser gravada, pensando na melodia para a guitarra. A gravação original tem uma sonoridade aberta, pra fora. Acho que a partir dali foi que surgiu o convite e fiz as vinhetas da rádio Globo FM, que ficaram dez anos no ar. Essa é uma música que, em geral, tem que estar nos shows e a gravei umas três vezes: em levada de samba, no disco, "Até Amanhã", e em baião, no disco "Jeri", gravado ao vivo, em Jericoacoara.

"Portal Da Cor". Foi gravada no disco com o nome "55", que era o número do prédio em que eu morava. Quando o disco saiu eu tocava com o Milton Nascimento e dei um disco pra ele de presente. Um dia, numa conversa, eu disse que gostaria de fazer uma canção e seria um sonho fazer uma com ele. Milton disse que tinha gostado desse tema e já tinha uma ideia pra letra. A partir dali [ a música] passou a se chamar "Portal Da Cor", ela está no livro e no show.

"Rock". Dar nome à músicas que não têm letra, pode ser difícil, e às vezes a gente quando vê só falta aquilo, e foi o caso dessa, que ficou com o nome que eu usava no rascunho. Depois, quando a gravei de novo no disco "Amazon Secrets", para a Verve Forecast, eles pediam um nome em inglês, se possível. Essa música tem uma onda pra cima, tom maior, alegre. Então a chamei de "Let's Move On".

"Beira Do Mar". A primeira gravação dessa música é do disco "Highlife" (1985). Foi gravada com um grupo formado por Nico Assumpção (1954-2001), Luiz Avellar, Carlos Balla e Steve Slagle. É uma das mais conhecidas entre as minhas músicas. Ela está nos discos "Até Amanhã" e "Jeri", também com arranjos bem diferentes em cada um.

"Tango Carioca". Esta foi feita no teclado, a linha de baixo surgiu primeiro, achei que tinha algo de tango; gravei num sequenciador midi junto com um contratempo tocando semicolcheias, o que dava um contraste interessante. Depois, fiz a melodia quase que brincando com a ideia de um choro, junto com o tango. Lembro que o Serginho Trombone me telefonou e quando atendi ele ouviu aquilo e perguntou o que era, pediu pra ouvir melhor e me disse pra ir fundo, que eu tinha que trabalhar naquela ideia. Passaram-se uns anos e a gravei no disco "Noite Clara", que teve indicação ao Grammy Latino.

Qual critério você utiliza para escolher os músicos de sua banda?

Entre os muitos amigos músicos incríveis com quem gosto de tocar, alguns conhecem bem meu repertório. Às vezes, viajo sozinho e toco com músicos locais; muitas vezes já são amigos que apresentam outros, e também há situações em que convido ou sou convidado por indicação, e a família musical segue aumentando.

Comente a relevância de cada músico da banda do show, citando as características musicais de cada um.

Rômulo Gomes, contrabaixo. Há uns 20 anos eu fazia a direção musical do show "Ney canta Cartola", e o Rômulo, às vezes, fazia sub para o Jorge Helder. Um dia na passagem de som, ele começou tocar uma música minha e depois outras. O Rômulo me surpreendeu, pois conhecia todas, aliás conhece qualquer música, e a partir dali fizemos muita coisa juntos, shows, discos etc.

Thiago Big Rabello, baterista. Conheci o Big há uns dez anos e, além de ser um superbaterista é produtor, sempre envolvido em projetos bacanas, é um realizador. Produziu, gravou e mixou um disco nosso, em trio, com Guto Wirtti. Fizemos shows juntos e vai ser muito bom fazer esse show com ele.

Renato Neto, tecladista. Conheço o Renatinho há muitos anos, moramos em LA na mesma época, acho que ele chegou lá em 92. Gravamos, tocamos, viajamos e como fã ia assistir o trio dele, às terças-feiras, no Lá Vee Lee, onde o Prince o viu tocar. A partir dali, eles trabalharam juntos por uns onze anos. Estou sempre atento à possibilidade de tocar com ele e é sempre ótimo.

Pedro Silveira, guitarrista. Tem sido muito bacana tocar com o Pedro. No caso desse show, ele cresceu ouvindo as músicas do repertório e sempre acrescenta um detalhe que se encaixa perfeitamente.

Seu filho Pedro optou por tocar o mesmo instrumento que você. Como você acolheu essa decisão e o que há na sonoridade dele que você identifica como vindo de você?

A princípio me preocupei, apesar de ser o mesmo caminho do meu, são momentos diferentes do mundo. Mas através dele vejo que, hoje em dia, tem trabalho nos musicais, nas plataformas de gravação. O Pedro grava para o mundo todo, online, a partir da plataforma Musiverso, e vai seguindo seu caminho. Ele já tem dois discos gravados e toca no BondeSom, que é uma banda ótima que já tem uma historia. Momento diferente do que peguei com a industria fonográfica bombando, muitas gravações, era bom tocar com os grandes artistas da MPB, e nos EUA também. Quando gravei meu primeiro disco, apesar de ser música sem palavras, naquele momento tocava no rádio. Se eu tiver que apontar algo na musicalidade do Pedro com a qual me identifico é a sonoridade e o lirismo. O som dele é sempre bom e a gente gosta de melodias mesmo na hora de improvisar. E tem o swing, ritmicamente a gente se entende bem.

O que as pessoas devem ter em mente e esperar do show da próxima sexta-feira (19), em São Paulo?

O show é uma celebração de 40 anos do "Bom de Tocar", e o repertório é baseado no livro. Ter o Pedro, junto no palco, com o Renato e o Big vai ser emocionante. Venham!

Em foto colorida, o guitarrista Ricardo Silveira posa para a câmera segurando uma guitarra
Ricardo Silveira que se apresentará, em São Paulo, no Sesc Belenzinho - Nando Chagas/Divulgação

SHOW RICARDO SILVEIRA QUINTETO

ARTISTAS Ricardo Silveira Quinteto

QUANDO Sexta-feira (19), às 21h

ONDE Sesc Belenzinho, r. Padre Adelino, 1000, Belenzinho, São Paulo, tel.(11) 2076-9700

QUANTO De R$ 15 a R$ 50

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado na primeira versão deste post, o músico Ricardo Silveira não tocou com a banda Chicago.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.