Quando comecei este blog, há algumas semanas, perguntei para amigos e parentes quais temas eles gostariam de ver por aqui. Uma espécie de "Datapovo" particular. A maioria esmagadora pediu para que eu escrevesse um guia para quem ainda não corre, mas gostaria de dar os primeiros passos. Faz sentido. Nós, corredores, somos muitos, mas estamos longe de ser a maioria.

Então, vou começar do começo. Este guia para o iniciante é dividido em duas partes. Na primeira, abordo as questões de saúde. Na segunda, em um post futuro, tratarei do treinamento propriamente dito. Nos dois casos, a ideia é passar uma rotina mínima e acessível, de modo que qualquer pessoa possa seguir. Fique tranquilo porque ninguém aqui vai recomendar exames mirabolantes e caríssimos. O objetivo é facilitar, e não dificultar a vida de ninguém.

Partiu médico

Pode ser frustrante, mas se você não corre, os seus primeiros passos precisam ser em direção ao consultório médico. "Ah, mas eu sou saudável". Ótimo, mas por mais apto que se sinta o aspirante a corredor, há alguns problemas que podem passar despercebidos aos olhos leigos. A corrida é uma celebração à vida, é a busca pela saúde. Então nada de desculpinhas esfarrapadas, por favor. Se é pra fazer direito, vamos começar direito.

Conversei com a médica Ana Paula Simões, presidente da Sociedade Paulista de Medicina Esportiva. Ela cita três pontos principais que constam da Avaliação de Pré-Participação nos Esportes (APP), um protocolo desenvolvido justamente para ser aplicado em quem quer iniciar na prática esportiva.

Exame clínico: na consulta, o médico vai constatar se você tem alguma dificuldade de mobilidade, além de questionar sobre dores crônicas. Ele consegue isso com uma boa anamnese e pedindo para você executar alguns movimentos simples. É na consulta que o médico deve questionar sobre o histórico familiar, hábitos e doenças pré-existentes. A asma, por exemplo, não impede que alguém se torne corredor, mas em alguns casos pode requerer uma abordagem específica.

Exame cardíaco: o coração é o motor que faz as pernas se mexerem, e merece uma atenção especial para quem pretende correr. O teste de esforço (também chamado de teste ergométrico) ajuda a verificar a frequência cardíaca e identificar eventuais arritmias conforme aumenta a intensidade do exercício. Ele permite ainda a identificação das zonas de esforço de cada atleta – e essa informação é importante para quem pretende treinar de forma estruturada, com planilha e treinador.

Exame de sangue: o hemograma completo releva infecções silenciosas e também diz se o paciente tem alguma anemia. Os glóbulos vermelhos são os responsáveis por carregar o oxigênio pelo corpo, e precisam estar em dia para quem pretende correr. Também é possível identificar infecções ou excesso de ferro no sangue.

Note que os exames listados acima estão presentes em uma rotina básica de saúde – o famoso check-up. Ou seja, não tem desculpa.

E uma última dica. A recomendação é procurar preferencialmente um médico do esporte. Há serviços gratuitos pelo SUS em algumas das principais cidades do país. Em caso de dúvida, procure a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.