Normalitas

Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis

Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto

Brasileiros, somos 'la hostia'

Somos demais. Pelo menos hoje, ou de vez em quando, ou depende, só que não

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Barcelona (Espanha)

(Ser 'la hostia': em castellano-espanhol coloquial, ser demais, ser a/o melhor, a rainha da p toda, a nona maravilha, o centro da Via Láctea)

Hoje eu gostaria de lamber um pouco as nossas boliñas de brasileiros.

Esta manhã vi um post no Instagram em que um inglês que vive no Brasil discorre sobre o que acredita ser uma característica do brasileiro que ele diz admirar: nossa eloquência e capacidade de, hmm, como direi?, improvisar discurso.

"O brasileiro mediano, o brasileiro mais 'fraco' consegue falar sobre um assunto 'xis' por tempo indeterminado, de forma confiante, coerente, com frases completas, com começo, meio e fim, sem gaguejar, como se fosse roteirizado, fazendo ironia, trocadilho, referência cultural e tal ", em suas palavras bem articuladas de gringo-in-Brazil.

Daí ele emenda com um exemplo, e aí sim eu liguei os ponto:

"Pensa na mensagem de parabéns: se o brasileiro lembra que é aniversário de um amigo dele, ele pega o celular e sem ensaio, sem reflexão prévia nenhuma [hmm] ele vai soltar um belo áudio de 5 minutos [çocorro] falando de linguagem florida, belas palavras, falando de 'novos ciclos' e tal", diz. "E você pode achar isso normal, mas na Europa ninguém sabe fazer isso... na minha experiência, pelo menos".

Nossa, muito obrigada, mai frend rs.

Ora, sendo eu uma gringa-in-Europa há anos, não sou dona da verdade, mas me tocou o corazón o que disse o menino.

Como tudo nessa vida, não dá pra generalizar, mas é verdade que por aqui a gente-brasileire tem fama, como muitos de vocês podem ter conferido de presença presente presentante.

Fama ruim: vamo pular essa parte e deixar pros haters, que hoje é sexta-feira hahaha :)

Fama boa: somos amorosos, acolhedores, animados, falamos cantando, falamos BASTANTE, enrolamos, desenrolamos, conectamos. Etc.

Associação livre em forma de áudios de zapzap de quarenta mil minutos? Temos.

Tratados filosóficos genéricos, coalhados de adjetivos e frases tipo lição-pra-vida entre malemolentes e emotivas a partir de um causo, um sonho, uma ocorrência banal ou crucial, uma folhinha caída da árvore, a política, o planeta, a existência? Opa.

Demonstração de amor solidário, tamo junto, mana, mano, broder, parça, merrmão, é nóis, conta comigo, vamos nessa? Nosso vocabulário já é unionista, olha só.

Romantizar feiúras e tretas, passar pano, passar o rodo, eu bebo, sim, porque hoje é sexta-feira e tô com vontade de abraçar o mundo, e xô, tristeza ou, nas palavras icônicas do meu pai, Acorda Pra Cuspir? Sou culpada reiterada.

Uma vez meu irmão, que vive há muitos anos na França, me disse: brasileiro consegue a residência por aqui mais fácil. Francês gosta demais de brasileiros. Pelo menos é o que lhe disse informalmente um cara da administração envolvido em processos de visto de residência.

Falando nisso, ou não. Generalizações fáceis, improvisação, puxar a sardinha pro nosso lado, beijinho no ombro, fogo de palha, escapismo, selecionismo, coleguismo meteórico, acabo de conhecer e já chamo pra um churrasco em casa, relativismos epistemológicos de eriçar os cabelim de uns tantos filósofos, digo que vou mas vai indo que eu já vou, só que não, gerundiando forevis, a gente vai se falando, estaremos estando em contato? Também pode rolar, #sqn, ou não etc.

(((Susana, tá enveredando por mau caminho, volta pra luz que o fim de semana tá chegando)))

Outro dia tentava explicar pro namorildo ibérico o significado da expressão "nem vem que não tem" quando lhe ensinava a cantar a música do Simonal.

Foi até fácil. Difícil foi explicar "nem vem de garfo que hoje é dia de sopa".

Quer dizer: tô até hoje explicando. Em discorrências improvisadas de uns tantos minutos, claro...

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