Em março de 2017, a jornalista mexicana Miroslava Breach Velduce, 54, foi assassinada a tiros, quando saia de sua casa, para levar o filho de 14 anos na escola. Ela era conhecida por investigar operações do narcotráfico no país, bem como as relações com grupos políticos.
Após o homicídio, mais de 30 jornalistas formaram um grupo secreto para investigar a morte de Miroslava Breach. O objetivo principal era descobrir os culpados e enfrentar uma cultura de impunidade quanto à morte de jornalistas no México.
Uma reportagem da revista The New Yorker ouviu membros do grupo e detalhou a atuação dos jornalistas na busca por respostas para esse crime.
Em uma de suas reportagens, ao lado da colega Patricia Mayorga, Breach denunciou que líderes de cartel estavam indicando candidatos para eleições locais. Após a repercussão, dois candidatos foram retirados da disputa eleitoral.
Ela publicou outras matérias que denunciavam políticos e os líderes de cartel e recebeu diversas ameaças de morte.
Durante as audiências sobre o caso, uma repórter gravou com seu celular tudo que foi apresentado no tribunal. Essas evidências foram o ponto de partida para a investigação particular do grupo de jornalistas, que se denominou coletivo 23 de março, em referência à data em que Breach foi morta.
Eles mantiveram anonimato para garantia de segurança. Durante a investigação, trabalharam em um local secreto e utilizavam códigos para se referir aos investigados.
Um dos membros do grupo, o jornalista norte-americano John Gibler, conversou abertamente com a reportagem da revista The New Yorker. Os membros mexicanos do coletivo tiveram suas identidades preservadas na matéria.
Em setembro de 2019, o grupo publicou três matérias. Nelas eram apresentadas pistas que foram ignoradas na investigação oficial e outros crimes similares que permaneciam sem respostas. O coletivo também investigou as ameaças de morte recebidas por Breach. As publicações tiveram repercussão nacional e internacional.
Nos dois anos seguintes, dois envolvidos no crime foram condenados. Outras pessoas ainda estão sendo investigadas pela ligação com a morte de Miroslava Breach. Membros do coletivo consideram que o trabalho não está finalizado até que todos os envolvidos sejam condenados.
Segundo uma das participantes da equipe, em entrevista à revista The New Yorker, trabalhar em um grupo traz mais segurança em investigações delicadas. Ela diz acreditar que o modelo de coletivo criado por eles para realizar essa investigação possa ser útil também em outros países.
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