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Correspondente do NY Times relata como foi entrevistar Henry Kissinger para obituário

David Sanger cobre política e segurança nacional e conversou com o diplomata por sete anos

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Um texto escrito pelo jornalista David E. Sanger, correspondente da Casa Branca e de segurança nacional do New York Times, relata como foi entrevistar Henry Kissinger para escrever seu obituário. Para o material, ele conversou também com pessoas que foram próximas a Kissinger, além de admiradores e opositores do diplomata norte-americano, que morreu nesta quarta-feira (29) aos 100 anos.

Na série de entrevistas, que se estenderam por cerca de sete anos, Sanger dizia ao diplomata que estava "escrevendo sobre sua vida". Kissinger sabia exatamente o que isso significava, segundo o relato. "Você está escrevendo um daqueles artigos que serão publicados quando eu não puder mais argumentar contra sua premissa?", perguntou a Sanger após uma das conversas, feita em 2017. "Senhor Secretário, te conhecendo, você encontrará um jeito", respondeu o jornalista.

Zoom do rosto do ex-secretário de Estado Henry Kissinger, durante fala no Washington Ideas Forum 2011, em Washington, DC
O ex-secretário de Estado Henry Kissinger, morto nesta quarta-feira (29), durante o Washington Ideas Forum 2011, em Washington, DC - Jim Watson - 6.out.11/AFP

Sanger conta que tinha apenas 16 anos quando Kissinger deixou o Departamento de Estado, em 1977. "A tarefa de escrever seu obituário foi, ao mesmo tempo, uma oportunidade para aprender e analisar seu papel na criação do mundo pós-Segunda Guerra Mundial", relata.

Um rascunho do material já havia sido escrito por Michael Kaufman, editor do New York Times morto em 2010. O tempo, no entanto, fez com que o conteúdo ficasse obsoleto e os editores do jornal consideraram que as escrituras precisavam ser reavaliadas.

O próprio Kissinger passou a pensar em novos desafios: aos 95 anos, o homem que seis décadas antes havia escrito um dos primeiros livros populares sobre como as armas nucleares estavam refazendo o poder global, iniciou uma série de artigos e livros sobre como a inteligência artificial ameaçava fazer o mesmo.

"Era claro que independentemente do que se pensasse dele —como arquiteto do poder americano no pós-guerra ou como um dos piores e mais insensíveis ditadores do mundo—, avaliar sua vida exigiria muito", diz.

Para Sanger, uma das entrevistas mais significativas aconteceu num dia em que seu filho, Ned, que cursava o primeiro ano da faculdade, foi convidado pelo diplomata a participar da conversa.

"Ele começou a conversar com Ned, primeiro sobre o cachorro que havia escondido durante um semestre em seu dormitório em Harvard, depois sobre como foi lidar com Richard Nixon nos últimos dias de presidência. Ned fez algumas perguntas e foi como se o professor Kissinger estivesse de volta à sala de aula, misturando anedotas com observações geopolíticas. Eu simplesmente calei a boca e fiz anotações."

No relato, o jornalista reitera que não se tornou amigo de Kissinger durante o processo. Para ele, ambos sabiam qual era o papel um do outro e mantiveram uma "distância profissional". "Meu objetivo nas conversas era atraí-lo tanto para o passado quanto para o futuro. Alguns dias tive mais sucesso do que outros", afirma.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto dizia que Kissinger deixou o Departamento de Estado em 1968. Ele deixou o cargo em 1977, com a vitória do democrata Jimmy Carter

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